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Infectologia10 outubro 2024

Fatores de risco e desfechos de câncer anal invasivo em pessoas com HIV 

Estudo analisou os preditores de risco para câncer anal invasivo em pessoas vivendo com HIV (PVHIV)

Pessoas vivendo com HIV (PVHIV) estão sob maior risco de desenvolver câncer anal devido à imunossupressão causada pelo vírus, que favorece a persistência de infecção por HPV oncogênicos. 

Atualmente, a maioria dos programas de rastreio foca na detecção de lesões intraepiteliais anais de alto grau, precursoras imediatas do câncer anal, uma vez que seu tratamento reduz em 57% o risco do desenvolvimento de neoplasia. Entretanto, a susceptibilidade individual de PVHIV à evolução para câncer anal é muito variável. 

Um estudo publicado na Clinical Infectious Diseases procurou avaliar fatores clínicos que possam estar associados a risco de desenvolvimento de câncer anal invasivo e os desfechos clínicos de indivíduos submetidos a rastreio e que receberam um diagnóstico de câncer. 

Fatores de risco e desfechos de câncer anal invasivo em pessoas com HIV 

Imagem de freepik

Materiais e métodos 

O estudo utilizou uma coorte longitudinal de PVHIV submetidos a exames de rastreio para neoplasia anal. Os critérios de inclusão foram idade ≥ 18 anos e com pelo menos 2 resultados anormais de citologia ou ≥ 1 exame citológico anormal seguido de diagnóstico de câncer anal invasivo. Foram excluídos pacientes com diagnóstico prévio de câncer anal invasivo ou que receberam tratamento para precursores de neoplasia antes da entrada no estudo. 

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Para cada paciente, o tempo sob risco para desenvolver câncer anal invasivo foi definido como sendo da data da citologia inicial até o primeiro diagnóstico de câncer anal invasivo, a última visita clínica do paciente, óbito não relacionado a câncer anal ou o fim do período de estudo. 

A coorte incluiu pacientes que tiveram a primeira citologia de rastreio entre 2006 e 2021, com encerramento em 2023, permitindo um período de pelo menos dois anos de seguimento para avaliação de desenvolvimento de câncer. 

O desfecho primário foi o diagnóstico de câncer anal invasivo incidente. O desfecho secundário foi mortalidade atribuída a câncer anal entre aqueles que receberam o diagnóstico. 

Resultados: câncer anal invasivo em pessoas com HIV 

Foram incluídos 4.105 PVHIV pertencentes à coorte e que foram submetidos a pelo menos um exame de citologia anal de rastreio. A mediana de seguimento foi de 5,5 anos. Em comparação com outras PVHIV que não foram rastreadas, os participantes do estudo foram mais frequentemente homens, mais jovens, brancos ou hispânicos, tabagistas e que se identificaram como homens que fazem sexo com homens (HSH). Não houve diferenças entre esses dois grupos em relação a identidade de gênero, frequência e visitas clínicas ou mediana de nadir de células de T-CD4. 

Lesões intraepiteliais de alto grau foram diagnosticadas em citologia inicial em 502 PVHIV (12,2%) e em outros 10% nos exames de rastreio subsequentes. No total, 33 dos 4.105 pacientes desenvolveram câncer anal invasivo. A mediana de tempo até diagnóstico de 830 (IQR = 330 – 3.768) dias após a citologia inicial. Indivíduos diagnosticados com câncer tinham maior probabilidade de serem mais velhos na entrada do estudo e de terem presença de lesões intraepiteliais de alto grau no início ou durante o período de seguimento do estudo. Além disso, também apresentaram imunossupressão mais avançada, com maior proporção de história pregressa de AIDS, menor nadir de CD4 e maiores níveis de viremia na entrada. 

Na análise não ajustada, somente a presença de lesões de alto grau e o nadir de CD4 foram preditores significativos de desenvolvimento de câncer anal invasivo. Quando esses parâmetros foram considerados em conjunto, o maior impacto sob o risco de desenvolvimento de câncer foi encontrado no grupo com lesão de alto grau e nadir de CD4 ≤ 200 células (HR = 13,03; IC 95% = 4,78 – 35,38). 

As estimativas não ajustadas para o risco de desenvolvimento de câncer anal invasivo em 5 e 10 anos foram de 0,63% e de 0,80%, respectivamente. Em comparação, para os com a dupla exposição (presença de lesões intraepiteliais de alto grau e nadir de CD4 ≤ 200 células), o risco em 5 e 10 anos foi de 3,40% e de 4,27%. Quando se considera como exposição a presença de lesão de alto grau na entrada do estudo e nadir de CD4 ≤ 200 células, as estimativas de risco foram de 2,75% e 3,41%, respectivamente. 

Os indivíduos diagnosticados com câncer anal invasivo tinham uma mediana de idade de 50 anos e a maioria era HSH. Fatores adicionais de imunossupressão estiveram presentes em 3 participantes (1 com transplante de medula óssea, 1 com transplante renal e 1 com câncer de pulmão estágio IV em tratamento). A taxa de mortalidade devido a câncer anal invasivo foi de 21% (7/33). Além disso, houve 5 óbitos por condições clínicas não relacionadas após cura do câncer. Com exceção de um paciente que recusou quimioterapia, todos os óbitos relacionados à neoplasia tinham câncer estágio IIIA ou mais alto.

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