As infecções de corrente sanguínea (ICS) são relativamente frequentes em pacientes em unidades de terapia intensiva (UTIs) e estão associadas a uma mortalidade de até 42%. Em 2012, o estudo EUROBACT-1 destacou a prevalência de microorganismos resistentes e sua associação com maior risco de morte.
Nos últimos anos, o aumento da resistência antimicrobiana tem sido destacado por diversas agências e sociedades científicas em todo o mundo. Ela é responsável por atraso na instituição de esquema terapêutico adequado, aumento na mortalidade e maior utilização de recursos e custos. Assim, foi realizado o estudo EUROBACT-2 que foi projetado para atualizar a epidemiologia e os principais fatores associados à mortalidade no dia 28 em pacientes com ICS internados em UTIs.
Métodos
O EUROBACT-2 foi um estudo prospectivo de coorte internacional que ocorreu durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19. Foram incluídos participantes com pelo menos 18 anos com IPCS tratados em UTIs. IPCS foi definida como uma hemocultura positiva coletada com pelo menos 48 horas de internação hospitalar e o tratamento na UTI foi definido como a coleta da hemocultura que ocorreu em unidade de terapia intensiva ou a transferência do paciente para a unidade para o tratamento da infecção.
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Foram incluídos 2600 pacientes em 333 UTIs em 52 países. A ICS em 78% dos casos foi adquirida na unidade de terapia intensiva e o tempo mediano para infecção foi de 13 dias. A mediana do SOFA ao diagnóstico de infecção foi 8, com 64,2% e 31,7% preenchendo critérios para sepse e choque séptico, respectivamente. As fontes de infecção foram predominantemente respiratórias (26,7%) e cateteres intravasculares (26,4%). Embora a infecção primária de corrente sanguínea fosse comum (16,3%), um terço dos pacientes tinha mais de uma fonte possível para ICS.
Resultados
Os patógenos relacionados eram principalmente bactérias Gram negativas (59%): Klebsiella spp. (27,9%, com 37,8% de resistência aos carbapenêmicos), Acinetobacter spp. (20,3%, com 84,6% de resistência), Escherichia coli (15,8%, com 7,4% de resistência) e Pseudomonas spp. (14,3%, com 33,2% de resistência). 23,5% eram multidroga resistente e 1,5% eram panrresistentes.
Patógenos Gram positivos foram encontrados em 31,1% dos pacientes, principalmente Enterococcus spp (34,5%) e estafilococos coagulase negativa (30%). Dos 27,6% de Staphylococcus aureus, 37,1% eram resistentes à meticilina. Havia, ainda, 2,1% de bactérias anaeróbias estritas e 7,9% de fungos, dos quais 39,6% eram Candida albicans.
No dia 28, 37,1% dos pacientes havia morrido (91% na UTI e 9% após alta da unidade intensiva). A morte foi precedida pela decisão de suspender ou retirar o tratamento de suporte em 27,7% dos casos. Apenas 16,1% dos pacientes receberam alta hospitalar com vida no dia 28.
Conclusão
Os fatores que contribuíram para o aumento da mortalidade foram: poucas consultas com farmacêutico clínico, idade avançada, comorbidades, bactérias Gram negativas resistentes e não realização do controle de foco infeccioso. Vale ressaltar que o controle do foco de infecção foi medida protetiva nas análises. A terapia antimicrobiana nas primeiras 24 horas foi considerada adequada em 51,5% dos pacientes e a resistência antimicrobiana foi associada a atrasos para adequação terapêutica. Os três medicamentos frequentemente administrados após o diagnóstico de ICS foram meropenem (17,8%), piperacilina/tazobactam (14,6%) e vancomicina (10,2%).
Saiba mais: Responsabilidade civil dos hospitais em casos de infecções hospitalares.
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