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Infectologia8 agosto 2019

Dose fracionada de vacina de febre amarela produz anticorpos protetores até 1 ano depois

Estudo recente publicado na New England Journal of Medicine avaliou a resposta imune elicitada pelo uso da dose fracionada da vacina de febre amarela.

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Febre amarela é uma arbovirose potencialmente fatal cuja principal forma de prevenção é a vacinação. Pela recomendação atual da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma única dose é capaz de fornecer proteção duradoura por toda a vida.

Em situações de surto, em que estoques insuficientes da vacina tornam-se uma preocupação, uma estratégia para proteger a população suscetível é o fracionamento. Doses que variam de um quinto a um décimo da dose padrão já foram utilizadas, mostrando resultados favoráveis em estudos científicos. Um estudo recente publicado na New England Journal of Medicine traz mais evidências à questão ao avaliar a resposta imune elicitada pelo uso da dose fracionada em uma campanha vacinal realizada na República Democrática do Congo.

O estudo foi conduzido em 6 dos 2404 postos de vacinação montados na cidade de Kinshasa durante uma campanha de 10 dias realizada em 2016. Gestantes e crianças menores de 2 anos foram excluídas por receberem a dose plena da vacina. Amostras de sangue foram coletadas antes da administração da vacina, após 1 mês e após 1 ano da vacinação para dosagem de títulos de anticorpos neutralizantes. Aos participantes que eram soronegativos com 1 mês, foi oferecida revacinação com a dose padrão em 1 ano.

Dos 716 pacientes que retornaram para avaliação 1 mês após a vacinação, 98% foram considerados soropositivos. Ou seja, apresentaram títulos de anticorpos neutralizantes em níveis considerados protetores, sem diferença significativa entre indivíduos de idades e sexos diferentes. Dos 684 participantes que se apresentaram para avaliação após 1 ano, 97% foram soropositivos.

Leia mais:  Quais são os preditores de mortalidade em pacientes com febre amarela?

Analisando somente os indivíduos que eram soronegativos antes da vacinação da campanha, os autores encontraram 98% de soroconversão na avaliação de 1 mês, sem diferenças significativas entre estratos por idade. Entretanto, os níveis de títulos de anticorpos foram maiores nos participantes que tinham entre 13 e 49 anos do que nos outros grupos (2 – 5 anos, 6 – 12 anos e ≥ 50 anos).

A taxa de soroconversão foi maior entre os homens do que entre as mulheres de forma significativa (98% e 96% respectivamente), embora não tenham sido encontradas diferenças na média de títulos de anticorpos. Na análise após 1 ano, 96% dos participantes foram soropositivos e não houve diferença entre grupos com diferentes idades e sexo. Entretanto, a diferença nos níveis de titulação de anticorpos por idade permaneceu, com indivíduos entre 13 e 49 e os com 50 anos ou mais apresentando maior titulação.

No início do estudo, 223 participantes já apresentavam soropositividade antes de receberem a vacina. Desses, o aumento em ≥4 vezes na titulação de anticorpos foi considerado como evidência de resposta imune evocada pela vacina, o que ocorreu em 66% dos casos. A probabilidade de ter uma resposta imune com 1 mês esteve inversamente relacionada aos níveis de anticorpos basais: 95% dos participantes com títulos entre 10 e 40 apresentaram o fenômeno, enquanto o mesmo só ocorreu em 15% dos que possuíam ≥640. Não houve diferença entre homens e mulheres, mas, dentre os com ≥ 50 anos, somente 33% apresentaram resposta à vacinação, o que foi significativo em relação às outras faixas etárias. Após 1 ano, todas as 209 pessoas que completaram o estudo permaneceram soropositivos.

Os resultados encontrados apoiam o uso de doses fracionadas como estratégia em situações em que há risco de desabastecimento de vacinas considerando o tamanho da população suscetível. A proporção de indivíduos que apresentaram soroconversão foi semelhante à esperada quando se utiliza a dose padrão da vacina.

Ainda não se sabe se a persistência a longo prazo dos anticorpos é diferente entre a dose fracionada e a dose padrão, mas achados desse e de outros estudos apontam que as respostas devem ser semelhantes. No momento, as evidências apontam que o fracionamento da dose mantém a eficácia da vacina da febre amarela, favorecendo seu uso como ferramenta de prevenção em situações de surto.

 

Referências:

  • Casey, RM, Harris, JB, Ahuka-Mundeke, S, et al. Immunogenicity of Fractional-Dose Vaccina during a Yellow Fever Outbreak – Final Report. N Engl J Med 2019;381:444-54. DOI: 10.1056/NEJMoa1710430

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