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Infectologia19 setembro 2025

Acidentes ofídicos: o que precisamos saber? 

Vítimas de acidentes ofídicos devem procurar assistência médica imediatamente para receber tratamento específico e medidas de suporte.

Apesar de pouco comentados, os acidentes com serpentes peçonhentas é frequente no território brasileiro, podendo trazer graves consequências, como amputações, sequelas motoras e psicológicas e óbitos. Desde 2017, o ofidismo passou a ser considerado uma das doenças tropicais negligenciadas (DTNs) pela Organização Mundial de Saúde (OMS), desenvolvendo, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a meta de reduzir em 50% as mortes por esse agravo até 2030. 

No ano de 2023, o Brasil registrou 32.514 acidentes com serpentes, o que representou 9,5% dos acidentes por animais peçonhentos registrados no país no mesmo ano e um aumento em relação ao ano anterior. 

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Pontos importantes 

Uma etapa essencial do tratamento de acidentes ofídicos é a administração de soros antiveneno, disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e, que, para as serpentes, são específicos para os quatro principais grupos de importância médica no Brasil. O reconhecimento precoce de um acidente e do grupo ao qual o animal causador pertence, assim como a administração de medidas de suporte adequadas, permite terapia específica e reduzem as chances de evolução desfavorável. 

Os principais grupos de serpentes peçonhentas de importância para saúde pública no Brasil são: 

  • Botrópico (gêneros Bothrops e Bothrocophias): jararacas. Têm ampla distribuição no território, incluindo ilhas oceânicas. Possuem hábitos predominantemente crepusculares e noturnos e a maioria é terrestre, com algumas espécies arborícolas. Podem habitar desde ambientes secos a muito úmidos, como florestas densas. São os acidentes mais frequentes, sendo responsáveis por cerca de 70% dos casos de ofidismo no Brasil. 
  • Crotálico (gênero Crotalus): cascavéis. Estão presentes em todos os estados das Regiões Sul, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e em parte dos estados da Região Norte. São serpentes pouco agressivas, com hábitos defensivos e territoriais. Possuem a característica distintiva de apresentar um chocalho em sua cauda. 
  • Laquético (gênero Lachesis): surucucus. São serpentes grandes e rápidas, sendo encontradas em dois biomas no país: Amazônia e Mata Atlântica (encontrada desde o norte do Rio de Janeiro à Paraíba, com algumas populações isoladas no Ceará e no Piauí). 
  • Elapídico (gêneros Micrurus e Leptomicrurus): cobras-corais. São serpentes de pequeno e médio porte, com padrão de anéis corporais pretos e brancos intercalados, geralmente por outro de cor vermelha, amarela ou laranja. Entretanto, esses últimos podem estar ausentes em algumas espécies. 

Sinais e sintomas 

  • Acidente botrópico: caracteriza-se por dor e edema no local da picada. Podem ocorrer sinais de discrasia, como equimoses e sangramentos em mucosas e hematúria. Além disso, podem ocorrer complicações, como hemorragias graves, insuficiência renal, síndrome compartimental e infecção e necrose no local da picada. 
  • Acidente crotálico: geralmente não há edema ou dor no local da picada, podendo ocorrer apenas formigamento leve. Os sintomas incluem náuseas, cefaleia, visão turva ou diplopia, fácies miastênica (ptose uni ou bilateral, dando um aspecto sonolento), mal-estar, mialgia generalizada e mioglobinúria. Discrasias sanguíneas podem ocorrer em até 40% dos casos. 
  • Acidente laquético: são quadros muito semelhantes aos dos acidentes botrópicos, com dor e edema significativos no local da picada, mas podendo cursar também com sintomas vagais, como dor abdominal, vômitos, diarreia, bradicardia e hipotensão. As manifestações hemorrágicas costumam ficar limitadas à região da picada. 
  • Acidente elapídico: os sinais e sintomas colinérgicos são predominantes, com desenvolvimento de visão turva ou diplopia, oftalmoplegia e  fácies miastênica, além de fraqueza muscular progressiva. A paralisia flácida da musculatura respiratória pode levar a comprometimento ventilatório, com insuficiência respiratória aguda, que pode se desenvolver rapidamente. 

Acidentes ofídicos: o que precisamos saber? 

Medidas preventivas contra acidentes ofídicos

Algumas medidas podem reduzir significativamente a ocorrência de acidentes ofídicos. Dentre elas, destacam-se: 

  • Uso de botas de cano alto ou perneiras de couro, botinas e sapatos durante trilhas em matas e atividades rurais. 
  • Evitar a aproximação de vegetação muito próxima ao chão, gramado ou jardins durante os períodos do amanhecer e entardecer. 
  • Não montar acampamentos em áreas em que normalmente há roedores, como plantações, pastos ou matos.  
  • Ter cuidado ao mexer em pilhas de lenha, palhadas de feijão, milho ou cana, e ao revirar cupinzeiros. Usar luvas de aparas de couro para manipular folhas secas, montes de lixo, lenha, palhas, entre outros.  
  • Não colocar as mãos em buracos. 
  • Durante trilhas em áreas de mata, olhar com atenção o caminho a ser percorrido e ter cuidado onde apoia as mãos. 
  • Evitar piqueniques às margens de rios, lagos ou lagoas, e não se encostar em barrancos durante pescarias ou outras atividades. 
  • Limpar paióis e terreiros, não deixar lixo acumulado, fechar buracos de muros e frestas de portas, com o objetivo de evitar a proliferação de ratos, os quais servem de alimento às serpentes. 
  • Evitar acúmulo de lixo ou entulho, de pedras, tijolos, telhas e madeiras, bem como não deixar mato alto ao redor das casas. 

Tratamento 

Vítimas de acidentes ofídicos devem procurar assistência médica imediatamente para receber tratamento específico e medidas de suporte. Os soros antiveneno são produzidos pelo Instituto Butantan e distribuídos exclusivamente ao SUS, de acordo com o cenário epidemiológico de cada região. Por esse motivo, a notificação de casos de ofidismo é importante para correto acompanhamento das autoridades de vigilância. 

A lista de hospitais de referência para atendimento de acidentes por animais peçonhentos está disponível no site do Ministério da Saúde.

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Referências bibliográficas

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