Autores americanos desenvolveram um estudo de coorte, publicado recentemente no JAMA Internal Medicine, cujo objetivo foi estudar a associação entre o uso de antidepressivos durante a gestação e alterações no desenvolvimento neurológico dessas crianças expostas.
Alguns estudos prévios demonstraram essa associação, porém os resultados são conflitantes, uma vez que há muitos confundidores, como fatores genéticos e ambientais.
Metodologia
Esse estudo foi desenvolvido a partir da base de dados de dois centros americanos, de 2000 a 2015.
A exposição foi definida como pelo menos uma dispensa de antidepressivos entre 19 semanas e o parto, enquanto a não exposição foi definida como a não dispensa de antidepressivos em 90 dias prévios a gestação.
Os desfechos relacionados ao desenvolvimento neurológico foram vários, incluindo Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Resultados
Entre as mulheres incluídas na análise, havia 145.702 gestações expostas a antidepressivos e 3.032.745 não expostas; a idade média nos dois grupos foi de 26,2 (5,7) e 24,3 (5,8) anos no MAX (banco de dados 1) e 32,7 (4,6) e 31,9 (4,6) anos no MarketScan (banco de dados 2), respectivamente.
Em uma primeira análise, juntamente com as demais covariáveis, a exposição a antidepressivos durante a gestação duplicou os riscos de alterações de neurodesenvolvimento dessas crianças. Entretanto, não foi observada essa associação na análise univariada.
Ao comparar irmãos expostos e não expostos a antidepressivos, as taxas de risco foram de 0,97 (IC 95%, 0,88-1,06) para qualquer transtorno do neurodesenvolvimento, 0,86 (IC 95%, 0,60-1,23) para TEA e 0,94 (IC 95%, 0,81-1,08) TDAH.
Os resultados foram consistentes em todas as classes de drogas de antidepressivos e em todas as janelas de exposições.
Mensagem final
Apesar desse estudo não mostrar associação da exposição a antidepressivos durante a gravidez com desfechos neurológicos ruins em crianças expostas, a análise multivariada mostrou um risco duas vezes maior. Portanto, os autores recomendam que o fato de ter usado essas medicações podem servir como um alerta de triagem precoce nas crianças expostas.
Autoria

Ênio Luis Damaso
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.