Com o advento do ultrassom o acesso aos cuidados obstétricos teve um salto gigantesco. Antes do ultrassom a confirmação da apresentação fetal numa gestação gemelar por exemplo era possível com a realização de raio X de abdômen apenas, submetendo a gestante e seu feto a radiações desnecessárias.
Entre as várias indicações e modelos de exames temos dois em especial que podem ser realizados durante a gravidez: o USG obstétrico e o USG obstétrico morfológico.
O que é ultrassonografia morfológica e como é feita? ultrassonografia morfológica vs ultrassonografia obstétrica: qual a diferença?
USG morfológico é um exame de ultrassom realizado durante o período gestacional, por médicos especializados e familiarizados com anatomia fetal. Os aparelhos para realização desse exame também são diferenciados.
Profissionais para realizar o morfológico deveriam:
- Ser treinados no uso da ultrassonografia diagnóstica e questões de segurança relacionadas;
- Realizar regularmente exames de ultrassom fetal;
- Participar de atividades de educação médica continuada;
- Ter já estabelecido padrões de referência apropriados para resultados suspeitos ou anormais;
- Realizar rotineiramente medidas de garantia e de controle de qualidade.
Assim como algumas regras especiais valem para os profissionais, para os aparelhos também alguns requisitos mínimos para uma qualidade boa no exame e o resultado ser confiável e servir para fins terapêuticos também existem:
- Imagem em tempo real, recursos de ultrassom em escalas de cinza;
- Transdutores trans abdominais (com frequência entre 3-5 MHz);
- Controles ajustáveis de saída de potência acústica com os padrões de exibição de saída (TI e MI);
- Capacidades de congelamento da imagem;
- Cursores (calipers) eletrônicos;
- Capacidade para imprimir/armazenar imagens;
- Manutenção e reparos regulares, importante para o desempenho ideal do equipamento.
O que o exame pode indicar e como proceder clinicamente com os achados
Durante o primeiro trimestre a indicação para sua realização deve ser entre 11 e 14 semanas (quando o CCN 45 e 84 mm). Segundo a Fetal Medicine Foundation (FMF) o uso de variáveis como Idade Materna, Transluscência Nucal, presença de Osso Nasal e marcadores bioquímicos como PAPP-A e fração livre de βHCG são capazes de rastrear 95% das malformações. Importante aqui lembrar da diferença entre rastreamento e diagnóstico, o morfológico do primeiro trimestre ajuda muito no rastreamento (suspeita) de malformações, já que o diagnóstico definitivo se dará ao nascimento com o exame completo do concepto.
Algumas anomalias estruturais diagnosticadas durante o primeiro trimestre:
- Acrania;
- Encefalocele;
- Onfalocele;
- Gastrosquise;
- Megabexiga;
- Holoprosencefalia lobar;
- Alterações de membros.
É durante o primeiro trimestre também que, com o uso de alguns algoritmos (da FMF bastante usado ao redor do mundo) podemos predizer a evolução gestacional da pré-eclampsia. No intervalo de 11 a 14 semanas pode-se utilizar verificação da PA média, com IP médio das artérias uterinas e PLGF sérico. Esses dados são adicionados ao algoritmo com resultado em porcentagem para desenvolvimento de pré-eclampsia naquela gestante.
Já durante o segundo trimestre, temos outros objetivos a serem avaliados. Trata-se de um exame bastante complexo, sistemático e ordenado com objetivo de avaliar durante sua realização:
- Avaliação completa da morfologia fetal;
- Rastreamento de aneuploidias;
- Avaliação de placenta e líquido amniótico;
- Acompanhamento do crescimento fetal;
- Rastreamento de parto prematuro através da medida do comprimento do colo uterino.
Durante a realização desse exame é possível usar seu resultado para aconselhar o casal e planejamento do parto. Ainda tem como benefícios a possibilidade de ajuizamento de causas onde, através do USG, estima-se a interrupção de gravidezes onde o feto tem anomalias incompatíveis com a vida ou que ofereçam risco de morte materna.
Mesmo tendo excelentes possibilidades diagnósticas, o USG morfológico tem algumas limitações capazes de restringir sua aplicabilidade. Como por exemplo:
- Período ideal de realização: de 20 a 24 semanas.
- Experiencia do examinador: fundamental para que o exame seja de resultado confiável.
- Feto em posição adequada para visualização das possíveis malformações.
- Alterações do líquido amniótico (oligodramnia por exemplo) podem restringir a facilidade para visualização adequada do feto.
- Obesidade materna ou presença de cicatrizes: atenuam o feixe sonoro prejudicando a imagem final.
- Limitação do exame em patologias de manifestação tardia.
- Necessidade de exames complementares séricos para complementação do rastreamento com uso dos marcadores ultrassonográficos.
Leia também: É necessário realizar ultrassom obstétrico de rotina no terceiro trimestre de gestação?
Set points do USG morfológico:
- US morfológico de primeiro e segundo trimestres são fundamentais durante o pré-natal.
- Auxiliam no correto aconselhamento dos casais durante o pré-natal.
- Seu resultado permite o planejamento adequado do restante do pré-natal e até das adequações devidas para o parto.
- Permite estruturar estratégias adequadas para atendimento do binômio materno fetal. Possibilita inclusive em centros avançados de medicina fetal resolução de algumas patologias cirúrgicas durante a vida intrauterina.US morfológico não é diagnóstico final de malformações fetais, ele apenas serve para rastreamento e ferramenta para aconselhamento no pré-natal.
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