Um artigo recentemente publicado na revista PLOS One, teve como objetivo investigar a diferença no prognóstico entre diferentes opções de tratamento quando a tuba é preservada em pacientes com gravidez tubária.
A gravidez ectópica ocorre fora da cavidade uterina, sendo a tuba uterina o local mais comum. Representa 1–2% das gestações e, se não tratada, pode causar ruptura e hemorragia grave. As principais opções terapêuticas incluem manejo expectante, metotrexato, salpingectomia e salpingostomia. Esta última preserva melhor a fertilidade, mas pode causar persistência de tecido trofoblástico, enquanto o metotrexato não é sempre eficaz. Este estudo realiza uma meta-análise comparando metotrexato, salpingostomia e salpingostomia associada ao metotrexato, visando avaliar taxas de falha e prognóstico reprodutivo em gestações tubárias.

Metodologia
O estudo é uma meta-análise com análise em rede (Network Meta-Analysis) que comparou diferentes modalidades terapêuticas para gravidez tubária: metotrexato (MTX), salpingostomia e salpingostomia associada ao MTX. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais, comparativos ou multicêntricos que envolvessem mulheres hemodinamicamente estáveis, com gravidez tubária diagnosticada, submetidas à cirurgia laparoscópica e com desejo reprodutivo. Foram excluídos casos não tubários, rupturas de tuba, revisões, estudos experimentais e publicações duplicadas.
A busca foi realizada nas bases PubMed, Embase, Web of Science e Cochrane Library, sem restrição de idioma, até fevereiro de 2025. Dois revisores independentes selecionaram os estudos e extraíram os dados, incluindo características das participantes, intervenções, parâmetros clínicos (níveis de hCG, tamanho do saco gestacional, tempo de seguimento) e taxa de falha terapêutica como desfecho primário.
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Principais achados
A busca inicial identificou 609 artigos, dos quais 8 preencheram os critérios de inclusão e foram incluídos na meta-análise, totalizando 677 participantes. Os estudos foram considerados de alta qualidade metodológica segundo as escalas de Jadad e Newcastle–Ottawa (NOS).
Os resultados mostraram que a salpingostomia associada ao uso de metotrexato apresentou menor taxa de falha terapêutica em comparação à salpingostomia isolada (OR = 0,11; IC95%: 0,03–0,48; p=0,003), com baixa heterogeneidade entre os estudos. Quando comparado o metotrexato isolado com a salpingostomia, observou-se maior taxa de falha com dose única de metotrexato (OR = 2,04; p=0,008), mas sem diferença significativa quando utilizadas duas ou mais doses (OR = 1,13; p=0,692).
A análise em rede (network meta-analysis) confirmou que a salpingostomia associada ao metotrexato é o tratamento mais eficaz e com menor taxa de falha entre as três modalidades avaliadas (metotrexato isolado, salpingostomia e salpingostomia + metotrexato). As análises de sensibilidade indicaram estabilidade dos resultados e não foram detectados vieses de publicação.
Conclusão
Para pacientes hemodinamicamente estáveis e com desejo de preservar a fertilidade futura, a salpingostomia associada ao uso de metotrexato é uma excelente opção para o tratamento da gravidez tubária. Essa abordagem apresenta menor taxa de falha em comparação ao uso isolado de metotrexato ou à salpingostomia isolada e parece ter impacto mínimo na qualidade de vida da paciente.
Autoria

Ênio Luis Damaso
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).
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