Durante a segunda edição do “Testo 2025 – Evento sobre Testosterona“, que aconteceu em 23 de agosto no Centro de Convenções Rebouças, especialistas discutiram sobre o uso de esteroides em adolescentes, os impactos da testosterona no desempenho esportivo, as legislações envolvendo atletas trans e os riscos do doping.
A médica Gisele Mendes Brito, pediatra e médica do esporte fundadora do ambulatório de pediatria do esporte, abriu a sessão abordando o uso de esteroides anabolizantes em adolescentes. A doutora destacou que 1% dos adolescentes no mundo já fez uso dessas substâncias, sendo que nos Estados Unidos a prevalência varia de 2% a 6% entre jovens que treinam. Entre os principais riscos nessa faixa etária, estão o fechamento precoce das epífises ósseas, além de efeitos sobre o desenvolvimento neurológico e comportamental, como aumento da impulsividade. Ela lembrou ainda complicações semelhantes às observadas em adultos: doenças cardiovasculares, acne, ginecomastia e risco de lesões musculotendíneas.
Participação de atletas transgêneros em competições
O médico do esporte Dr. Paulo Zogaib, coordenador da Medicina Esportiva do Esporte Clube Pinheiros, abordou a polêmica da participação de atletas transgêneros em competições. Ele resgatou o Consenso de Estocolmo (2003), que exigia gonadectomia para elegibilidade esportiva, critério revogado em 2015. Naquele ano, passou-se a exigir apenas que mulheres trans mantivessem testosterona sérica abaixo de 10 nmol/L por 12 meses antes da competição, sem restrições aos homens trans. Em 2021, o Comitê Olímpico Internacional (COI) delegou às federações de cada modalidade a definição das regras, o que levou à exclusão de atletas trans em esportes como atletismo, natação, ciclismo, futebol e até xadrez. O Comitê Olímpico Brasileiro seguiu a diretriz. Zogaib alertou para o contexto político atual: no Brasil, tramitam projetos de lei que buscam proibir a participação de atletas trans; enquanto nos Estados Unidos, desde fevereiro de 2025, o governo declarou que “não existem pessoas trans” e proibiu sua presença nos esportes. O tema gera preocupação, especialmente porque o país sediará as Olimpíadas de 2026.
O Dr. Clayton Machado, professor da pós-graduação em Endocrinologia e Medicina Esportiva da Unifesp, foi enfático ao afirmar que a única indicação formal de testosterona é o tratamento do hipogonadismo masculino. O diagnóstico deve combinar avaliação clínica e exames laboratoriais, evitando prescrição em casos secundários a outras condições, como a MOSH (hipogonadismo associado à obesidade), cujo tratamento prioritário é a perda de peso. Ele ressaltou que também não há respaldo científico para prescrição em sarcopenia, caquexia, queimaduras ou osteoporose, já que nesses casos os riscos superam os benefícios.
Modos de uso dos esteroides como anabolizantes
O Dr. Jorge Telles, especialista em medicina do esporte e do exercício, explicou os modos de uso dos esteroides como anabolizantes: ciclos com terapias pós-ciclo (TPC) ou blast and cruise. Segundo ele, essas práticas envolvem fármacos de origem duvidosa, importados ilegalmente e muitas vezes associados a polifarmácia. Entre os efeitos adversos, destacou acne, ginecomastia, atrofia testicular, estrias e alterações de humor (como irritabilidade e disfunção erétil). Estudos apontam que usuários têm duas a três vezes mais risco de infarto, e fisiculturistas profissionais que usam anabolizantes apresentam cinco vezes mais chance de morte do que colegas que não usam. Outros riscos incluem queda do HDL, eritrocitose, eventos cardiovasculares graves e aumento de até nove vezes no risco de ruptura de tendões em membros superiores.
Riscos de doping
Encerrando a mesa, o Dr. Fernando Solera, médico DCO FIFA, discutiu o conceito de doping, lembrando que vai além do uso de hormônios: envolve qualquer tentativa de burlar regras esportivas. Ele destacou que a prática é antiga, com registros de substâncias usadas para melhorar desempenho já no início do século XX em países como Alemanha e Suíça. O doutor também discutiu a existência de doping chamado de “involuntário”, quando uma medicação prescrita por um profissional de saúde afeta diretamente a performance ou a possibilidade de participação de um atleta em competição.
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