A gestação traz para a vida da mulher praticamente um novo universo com mudanças em seu status metabólico, imunológico, psicológico, cardiovascular, renal, entre outros.
As várias mudanças necessárias para permitir o desenvolvimento do feto algumas vezes podem trazer consigo dificuldades de adaptação do organismo materno à essas alterações. As adaptações que não são adequadas são fatores etiológicos para hipertensão e diabetes gestacionais, por exemplo.
Risco cardiovascular
Diante disso, no dia primeiro de abril, a Circulation publicou um artigo com um resumo de orientações da AHA (American Heart Association), observando que 6 doenças que acometem a gestação representaram risco cardiovascular futuro:
- síndromes hipertensivas da gravidez;
- trabalho de parto prematuro;
- diabetes gestacional;
- parto de RN pequeno para idade gestacional (PIG);
- descolamento prematuro de placenta;
- óbitos fetais recorrentes.
A presença de quaisquer uma dessas patologias identificada durante a gravidez, deve ser tomada como fator de risco futuro dessa mulher para doenças cardiovasculares (DCV). As evidências científicas de anos de estudo mostraram:
- As síndromes hipertensivas durante a gestação aumentam em 67% o risco de DCV futuras e ainda em 83% o risco de AVC. Pré eclâmpsia moderada ou grave elevam em mais de 2 vezes esses riscos.
- Diabetes gestacional está associado a aumento de risco para DCV em 68% e aumenta em 10 vezes o risco de diabetes mellitus tipo 2.
- Os partos prematuros (antes de 37 semanas) dobram as chances de DCV futuras e mostraram forte associação com doença cardíaca tardia e AVC.
- Descolamento prematuro de placenta associou-se em 82% de aumento de risco para DCV.
- Natimorto estão associados com o dobro de risco para DCV.
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Todas essas informações são importantes para valorizar um pré natal bem feito e com atenção. Algumas estratégias para proteger essa mulher durante esse período em que ela comparece de forma mais regular ao médico são:
- Criar um “quarto trimestre”: seria um período pós parto dedicado à prevenção de DCV para aquelas mulheres identificadas com as patologias apresentadas anteriormente. Esse período pode servir para screening e aconselhamento para as mulheres de risco.
- Melhorar a transferência de informações médicas do obstetra para o médico generalista que vai cuidar dessa paciente nos meses seguintes. O prontuário eletrônico bem feito eliminando inconsistências poderia melhorar a prevenção para a paciente.
- A terceira estratégia seria criar um histórico simples e objetivo de antecedentes pessoais que confirmasse que essa mulher teve quaisquer um dos 6 fatores de risco relacionados à gestação.
Uma vez identificadas essas mulheres de risco, um cuidado maior com mudança do estilo de vida, avaliação lipídica mais precoce, ajuste medicamentoso podem salvar o futuro delas.
Conclusões
A gravidez e o período pós-parto podem ser considerados um “ano de ouro” na vida de uma mulher, oferecendo uma rara oportunidade para os médicos identificarem mulheres jovens em risco e trabalharem com elas para melhorar suas trajetórias de saúde cardiovascular.
Referência bibliográfica:
- Megan Brooks. Six Pregnancy Complications Flag Later Heart Disease Risk. 01/04/2021. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/948558
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