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A atividade física regular promove importantes benefícios à saúde, inclusive melhorias na saúde mental e no condicionamento físico, assim como redução do risco de doenças crônicas e de mortalidade. Essa informação não é novidade no meio médico e já tem sido amplamente propagada pelos principais órgãos e entidades de saúde, como a American Heart Association, (AHA) a American Academy of Family Physician e a Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo.
Para estender esse conhecimento a uma população especial, um grupo de estudos canadense formado pela Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada e o College of Family Physicians of Canada, juntamente com a Canadian Society for Exercise Physiology, criou o mais recente guideline para Atividade Física durante a Gestação (Canadian Guideline for Physical Activity throughout Pregnancy).
Sabendo que menos de 15% das gestantes praticam 150 minutos semanais de atividade física moderada e que nas últimas três décadas houve aumento nas taxas de complicações gestacionais (como diabetes, hipertensão, pré-eclâmpsia e macrossomia), muito provavelmente relacionadas à obesidade, o objetivo desse estudo foi estabelecer recomendações baseadas em evidências acerca da atividade física durante a gestação, utilizando-a como uma ferramenta preventiva e terapêutica para reduzir essas complicações e aperfeiçoar a saúde materno-fetal.
O estudo identificou redução nos riscos de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, depressão pré-natal e macrossomia; além de não ter sido evidenciado aumento de risco para parto prematuro, baixo peso ao nascer, aborto e mortalidade perinatal, identificou-se, ainda, que quanto maior a realização de atividades físicas (volume, freqüência e duração) ao longo da semana, maiores são os benefícios, assim como constatou-se uma relação direta com a intensidade do exercício.
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Salvo gestantes com contraindicações, as quais serão descritas mais adiante, todas as grávidas devem ter um programa de atividade física regular, sendo essa a primeira recomendação do guideline. Logo, mesmo mulheres grávidas previamente sedentárias, com ou sem sobrepeso, obesas ou não, devem ser ativas fisicamente.
As demais recomendações são as seguintes:
- Praticar pelo menos 150 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana;
- Atividade física deve ser distribuída em pelo menos três dias da semana, preferindo, sempre que possível, a prática diária;
- Variar entre exercícios aeróbicos e resistidos (i.e. musculação, pilates). Alongamentos e ioga contribuem;
- Treinamento dos músculos do assoalho pélvico (exercícios de Kegel) reduzem riscos de incontinência urinária (50% pré-natal e 35% pós-natal);
- Em caso de mal-estar, náuseas ou tonturas durante o exercício em decúbito dorsal, deve-se adaptar o treino para evitar tal posição.
Entretanto, como dito anteriormente, há exceções. As mulheres que têm contraindicações absolutas devem manter suas atividades do dia a dia e não realizar atividades/exercícios extenuantes. Por outro lado, aquelas com contraindicações relativas devem ser acompanhadas de perto por obstetra e discutir com o médico as vantagens e desvantagens da atividade física moderada.
Tabela 1 – Contraindicações absolutas e relativas para a atividade física na gestação
Contraindicações absolutas |
Contraindicações relativas |
Ruptura de membranas, trabalho de parto prematuro |
Abortos de repetição |
Sangramento vaginal persistente inexplicado |
Parto prematuro espontâneo |
Placenta prévia após 28 semanas |
Hipertensão gestacional |
Pré-eclâmpsia |
Anemia sintomática |
Incompetência do colo uterino |
Desnutrição |
Crescimento intrauterino restrito |
Desordem alimentar |
Gestação múltipla (trigêmeos ou mais) |
Gestação dupla após 28 semanas |
Doenças crônicas prévias não controladas (diabetes tipo 1, hipertensão, doença da tireoide) |
Doença cardiovascular ou respiratória leve a moderada |
Outras condições cardiovasculares, respiratórias ou sistêmicas |
Outras condições médicas |
Considerações de segurança devem ser tomadas. Atenção a atividades com riscos de quedas e impactos (bicicleta, por exemplo), as quais podem causar danos ao feto. É importante estar sempre bem hidratada e evitar atividades em temperaturas elevadas. Sugere-se, ainda, anteceder a atividade física com aquecimento e, em seguida, fazer um período de resfriamento.
É importante ressaltar que para vários dos desfechos avaliados no estudo, atividades de menor intensidade também trouxeram benefícios. Portanto, as gestantes devem ser encorajadas a serem fisicamente ativas, mesmo que não consigam cumprir as recomendações deste guideline. Para aquelas que não têm condições financeiras, ou que não têm o hábito da atividade física, iniciar e progredir gradualmente com uma simples caminhada já pode ter benefícios.
E, finalmente, um estilo de vida adequado, que inclua bons hábitos nutricionais e bom sono, assim como abster-se do cigarro e bebida alcoólica, além dos benefícios já citados da atividade física regular, são medidas que contribuem para uma gravidez saudável.
PS.: – E na prática, como identificar, de maneira simples, uma intensidade moderada? Usa-se o “teste-da-fala”: a gestante deve conseguir manter uma conversa sem que precise parar para tomar fôlego. Caso isso ocorra, deve-se diminuir a intensidade do exercício.
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Referências:
- American heart association. American Heart association recommendations for physical activity in adults and kids. Disponível Em: <https://www.heart.org/en/healthy-living/fitness/fitness-basics/aha-recs-for-physical-activity-in-adults>. Acesso em: 18 nov. 2018.
- American academy of family physician. Diet And physical activity for cardiovascular disease prevention. Disponível Em: <https://www.aafp.org/afp/2016/0601/p919.html>. Acesso em: 18 nov. 2018.
- World health organization. More Active people for a healthier world. The global action plan on physical activity 2018 – 2030. Disponível Em: <http://www.who.int/ncds/prevention/physical-activity/gappa>. Acesso em: 18 nov. 2018.
- Mottola, michelle f et al. 2019 canadian guideline for physical activity throughout pregnancy. British Journal of sports medicine, [s.l.], v. 52, n. 21, p.1339-1346, 18 out. 2018. Bmj. http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2018-100056. Disponível em: <https://bjsm.bmj.com/content/52/21/1339>. Acesso em: 23 out. 2018
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