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Ginecologia e Obstetrícia2 outubro 2025

Revisão sistemática sobre a suplementação de cálcio na gravidez

Estudo de revisão, publicado na revista Medicina (Kaunas) recentemente, avaliou as evidências clínicas atuais sobre a ingestão de cálcio durante a gravidez. Veja os resultados!
Por Ênio Luis Damaso

Um estudo de revisão, desenvolvido por autores gregos, foi publicado na revista Medicina (Kaunas) recentemente, com objetivo de avaliar as evidências clínicas atuais sobre a ingestão de cálcio durante a gravidez. 

O cálcio é o mineral mais abundante do corpo humano, sendo fundamental para funções vitais como contração muscular, atividade enzimática, equilíbrio hormonal e manutenção da saúde óssea. Durante a gestação, as necessidades aumentam progressivamente, principalmente no terceiro trimestre, devido à intensa mineralização óssea do feto, que pode demandar até 330 mg de cálcio por dia. Esse processo frequentemente leva a um balanço negativo para a mãe, aumentando o risco de complicações como hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, parto prematuro, baixo peso ao nascer e perda óssea materna. 

Estudos desde a década de 1980 demonstram associação entre baixo consumo de cálcio e maior incidência de hipertensão induzida pela gravidez. Estima-se que mais de três bilhões de pessoas estejam em risco de deficiência de cálcio, principalmente em países de baixa e média renda, e que até metade das gestantes em países desenvolvidos não atinjam a recomendação diária. Por isso, a Organização Mundial da Saúde recomenda suplementação de 1,5 a 2 g por dia em gestantes com ingestão insuficiente, administrada em doses fracionadas para melhor absorção. Embora essa estratégia seja custo-efetiva e reduza complicações maternas e perinatais, ainda existem debates quanto à dose ideal, formulação e momento de início da suplementação. 

gestante tomando suplementação de cálcio

Metodologia 

Esta revisão sistemática realizou busca bibliográfica nas bases PubMed e Mendeley, com protocolo registrado no Open Science Framework (DOI: osf.io/rvj7z). Foram utilizados os descritores “(calcium) AND (intake OR supplementation) AND (pregnancy OR gestation) AND (clinical trials)”. Foram incluídos ensaios clínicos sobre suplementação de cálcio na gestação publicados até 22 de novembro de 2024. Foram excluídos artigos de revisão, diretrizes clínicas, relatos e séries de casos, cartas e comentários. 

A revisão seguiu as recomendações do PRISMA 2020. Dois revisores independentes selecionaram títulos e resumos, e divergências foram resolvidas por consenso ou por um terceiro avaliador. Os artigos elegíveis foram analisados em texto completo, incluindo busca manual nas referências para identificar possíveis estudos não recuperados pela estratégia inicial. Dos artigos incluídos, foram extraídos dados como ano, desenho do estudo, país, população avaliada, dose e duração da suplementação de cálcio, grupo comparador e desfechos primários e secundários. 

Veja mais: Saúde amplia suplementação de cálcio para gestantes no SUS 

Principais achados 

O processo de seleção identificou inicialmente 451 publicações, das quais 34 estudos preencheram os critérios de inclusão e foram analisados. Desses, 14 estudos avaliaram a associação entre suplementação de cálcio e hipertensão gestacional, e 10 deles mostraram efeito positivo da suplementação, especialmente em adolescentes e mulheres de alto risco, com redução da incidência e da gravidade da doença. Dezessete estudos investigaram a pré-eclâmpsia, e 13 relataram benefícios consistentes do cálcio, em geral com doses elevadas (≥1,2 g/dia). Em adolescentes, a suplementação de 2 g/dia reduziu o risco de pré-eclâmpsia em cerca de 12%. Sete ensaios clínicos analisaram parto pré-termo, todos sugerindo redução da taxa de prematuridade ou prolongamento da gestação. Dois estudos avaliaram a densidade mineral óssea materna: um mostrou aumento de 4–5% na DMO no primeiro ano pós-parto e outro identificou maior massa óssea lombar em adolescentes suplementadas. Em relação ao peso ao nascer, quatro estudos identificaram valores significativamente mais altos (ganho entre 85 g e 552 g) nos bebês de mães que receberam suplementação de 2 g/dia. Já os estudos sobre crescimento fetal e mineralização óssea mostraram resultados positivos em populações com baixa ingestão de cálcio, com aumento de até 15% na mineralização fetal. 

Discussão 

A revisão indica que a suplementação de cálcio, em doses médias de 1,2 g/dia a partir da metade da gestação, contribui para reduzir distúrbios hipertensivos, melhorar a mineralização óssea fetal, diminuir a perda óssea materna no pós-parto e aumentar o peso ao nascer. O impacto é mais evidente em populações de risco, como adolescentes, mulheres com baixa ingestão dietética e gestantes com história de pré-eclâmpsia. A suplementação deve ser administrada em doses fracionadas (≤0,5 g por vez) para otimizar absorção e reduzir efeitos gastrointestinais. Ainda existem inconsistências na literatura sobre dose ideal, momento de início e formulações. A heterogeneidade entre populações e metodologias limita a generalização dos achados. Mesmo assim, os resultados reforçam as recomendações da OMS para suplementação de 1,5–2 g/dia em populações com baixa ingestão de cálcio. Novos estudos de maior qualidade e diversidade étnica são necessários para fortalecer a evidência e orientar práticas clínicas mais uniformes. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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Referências bibliográficas

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