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Ginecologia e Obstetrícia8 julho 2025

Regimes probióticos eficazes para o tratamento da vaginose bacteriana

Estudo analisou a eficácia dos probióticos no tratamento da vaginose bacteriana, com foco em desfechos clínicos, dosagem, duração do tratamento e efeitos colaterais
Por Ênio Luis Damaso

A vaginose bacteriana é uma condição vaginal comum em mulheres em idade reprodutiva, caracterizada pela redução da flora protetora de Lactobacillus sp. e predominância de patógenos como Gardnerella sp.. Com prevalência global de até 29% e recorrência em cerca de 50% dos casos, ela representa um problema de saúde pública relevante, especialmente em regiões como a África Subsaariana. Está associada a complicações graves, como doença inflamatória pélvica, parto prematuro, aborto espontâneo, transmissão do HIV e prejuízos à qualidade de vida. O tratamento padrão com antibióticos, como metronidazol e clindamicina, tem eficácia inicial moderada, mas altas taxas de recorrência e efeitos adversos, como candidíase vaginal e resistência bacteriana, limitam seu sucesso a longo prazo. 

Diante dessas limitações, os probióticos vêm sendo estudados como alternativa promissora para prevenir e tratar a vaginose bacteriana, isoladamente ou como terapia adjuvante. Estudos demonstram que tanto a administração vaginal quanto oral podem ser eficazes, com benefícios adicionais para a saúde intestinal. Pesquisas recentes investigam novas formulações e o uso de cepas específicas, como Lactobacillus crispatus, mas ainda há lacunas quanto à dose ideal, à melhor cepa e à segurança a longo prazo. Assim, o estudo aqui descrito visou revisar a eficácia dos probióticos na vaginose bacteriana, com foco em desfechos clínicos, seleção de cepas, duração do tratamento e efeitos colaterais. 

Métodos 

Trata-se de uma revisão sistemática, conduzida conforme as diretrizes PRISMA e teve como objetivo analisar a eficácia dos probióticos no tratamento da vaginose bacteriana, com foco em espécies e cepas utilizadas, desfechos clínicos, dosagem, duração do tratamento e efeitos colaterais. Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados publicados entre 2014 e 2024, que investigaram a administração oral ou vaginal de probióticos em mulheres com vaginose bacteriana. A busca foi realizada nas bases Scopus, Web of Science e PubMed, com triagem e seleção de estudos feitos por quatro pesquisadores independentes. Dados como idade média, país, gravidade da condição e resultados clínicos foram extraídos de cada estudo, assim como informações sobre as cepas probióticas, doses (em UFC), frequência de uso, efeitos adversos e critérios de eficácia (p.ex., escore de Nugent e pH vaginal). 

A qualidade dos estudos foi avaliada por meio da ferramenta Cochrane RoB 2.0, considerando riscos de viés em cinco domínios relacionados à condução e relato dos ensaios. Embora existam evidências promissoras quanto ao uso de probióticos, ainda há variações importantes entre os estudos em relação às cepas utilizadas e à padronização de doses, o que limita comparações diretas.  

Principais achados 

A revisão sistemática incluiu 16 ensaios clínicos randomizados publicados entre 2014 e 2024, avaliando a eficácia de probióticos no tratamento da vaginose bacteriana. A triagem inicial identificou 1.560 estudos, sendo 16 incluídos após aplicação dos critérios de elegibilidade PRISMA. Os estudos foram realizados em diversos países, com amostras variando de 35 a 340 mulheres. A maioria utilizou o escore de Nugent e critérios de Amsel para diagnóstico, e os desfechos clínicos analisados incluíram cura clínica, melhora microbiológica, sintomas, pH vaginal e taxa de recorrência. As cepas mais investigadas foram Lactobacillus rhamnosus (especialmente GR-1) e L. reuteri (RC-14), frequentemente usadas em combinação, além de L. crispatus, L. plantarum e Bifidobacterium animalis subsp. lactis. A via vaginal demonstrou maior efetividade em doses moderadas (3–5 × 10⁹ UFC) e longas durações (>2 meses), com benefícios na prevenção de recorrências e melhora da flora vaginal. 

A maioria dos estudos mostrou melhora significativa nos escores de Nugent, redução de sintomas (corrimento, odor, disúria) e aumento da colonização por lactobacilos. No entanto, alguns trabalhos apresentaram resultados neutros ou inconsistentes, especialmente em doses baixas ou em pacientes submetidas à terapia combinada com metronidazol. Em geral, os efeitos adversos relatados foram leves, principalmente gastrointestinais (distensão, dor abdominal, náusea), sem necessidade de interrupção do tratamento. A diversidade de cepas, doses e durações usadas nos estudos reforça o potencial terapêutico dos probióticos, mas também aponta para a necessidade de padronização em futuras pesquisas. 

Discussão e mensagem prática 

O tratamento da vaginose bacteriana com probióticos tem se mostrado uma alternativa eficaz e segura, especialmente para mulheres com quadros leves, moderados ou recorrentes. Cepas como Lactobacillus rhamnosus (especialmente a TOM 22.8), L. crispatus, L. plantarum e L. acidophilus demonstraram bons resultados na redução dos escores de Nugent, alívio de sintomas clínicos e prevenção de recorrências, com poucos efeitos adversos. A eficácia depende de múltiplos fatores, incluindo a cepa utilizada, a dose (geralmente entre 10⁹ e 10¹⁰ UFC/dia), a via de administração (oral ou vaginal) e a duração do tratamento (de 10 dias a 3 meses). Estratégias que combinam múltiplas cepas também parecem potencializar os efeitos. 

Considere o uso de probióticos, especialmente cepas de Lactobacillus rhamnosus e L. crispatus, como opção adjuvante ou alternativa no manejo da vaginose bacteriana, principalmente em casos recorrentes. Priorize produtos com cepas bem estudadas, em doses ≥10⁹ UFC/dia, e oriente suas pacientes quanto à adesão, à duração adequada do tratamento e à importância de evitar fatores que desequilibram a microbiota vaginal, como duchas vaginais e tabagismo. 

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Referências bibliográficas

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