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Ginecologia e Obstetrícia5 julho 2025

O impacto do excesso de iodo na saúde reprodutiva

Artigo aborda os efeitos adversos do excesso de iodo sobre a saúde reprodutiva masculina e feminina, em uma perspectiva para além do tradicional enfoque na deficiência de iodo
Por Ênio Luis Damaso

Um artigo de revisão escrito pelos autores Wang et al. E recentemente publicado no periódico Frontiers in Endocrinology em 2025, intitulado “From deficiency to excess: the impact of iodine excess on reproductive health” aborda uma questão emergente na saúde pública: os efeitos adversos do excesso de iodo sobre a saúde reprodutiva masculina e feminina, trazendo uma nova perspectiva para além do tradicional enfoque na deficiência de iodo. 

O iodo é um micronutriente essencial para a síntese dos hormônios tireoidianos, fundamentais para o crescimento, o metabolismo e a função reprodutiva. Historicamente, a preocupação global esteve centrada na deficiência de iodo, com importantes campanhas de iodação do sal para prevenir bócio endêmico e hipotireoidismo congênito. No entanto, nas últimas décadas, observou-se um aumento na ingestão de iodo em diversas populações, muitas vezes ultrapassando os níveis considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde. Este artigo de revisão propõe-se a examinar criticamente os efeitos do excesso de iodo sobre a fertilidade e a gestação, reunindo evidências de estudos clínicos, populacionais e experimentais. 

Principais achados 

O artigo reúne evidências experimentais, clínicas e epidemiológicas que indicam que o excesso de iodo pode impactar negativamente a fertilidade e os desfechos gestacionais. 

Na saúde reprodutiva masculina, estudos populacionais demonstraram associação entre níveis elevados de iodo urinário e redução na qualidade seminal — incluindo menor concentração e motilidade dos espermatozoides, e aumento de anomalias morfológicas. Em modelos animais, observou-se acúmulo de iodo no tecido testicular, levando à elevação do estresse oxidativo, apoptose celular e comprometimento da espermatogênese. Esses efeitos foram acompanhados de queda nos níveis de testosterona e prejuízo estrutural do parênquima testicular. 

Na saúde reprodutiva feminina, os dados são mais escassos, mas estudos em animais sugerem que o excesso de iodo pode causar disfunção ovariana, com redução do número de folículos e irregularidades na ovulação. Além disso, exames ginecológicos que utilizam contraste iodado, como a histerossalpingografia, têm sido associados a disfunção tireoidiana subclínica, mesmo sem evidência de benefício claro na fertilidade. 

Veja também: Doenças reumatológicas autoimunes e saúde reprodutiva

Durante a gestação, o excesso de iodo é especialmente preocupante. Evidências de coortes na China, no Japão e no Brasil apontam que a ingestão elevada de iodo está associada a maiores taxas de disfunção tireoidiana materna (hipotireoidismo subclínico e autoimunidade tireoidiana), pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, restrição de crescimento fetal e aumento do risco de hipotireoidismo congênito no recém-nascido. O artigo também alerta que a exposição intrauterina ao iodo excessivo pode afetar negativamente o desenvolvimento neurológico fetal, mesmo na ausência de alterações hormonais aparentes. 

Outro ponto importante abordado é a interação entre o excesso de iodo e disruptores endócrinos ambientais, como perclorato e tiocianato, que competem pelo transporte de iodo na glândula tireoide. Essa interação pode potencializar os efeitos negativos do iodo em excesso, agravando disfunções hormonais, especialmente em populações expostas a múltiplos contaminantes ambientais. 

Conclusão 

O excesso de iodo tem sido subestimado como fator de risco para alterações reprodutivas, tanto em homens quanto em mulheres, e seus efeitos são mediados principalmente por disfunções da tireoide e estresse oxidativo local. A revisão conclui que, assim como a deficiência, o excesso de iodo representa um desequilíbrio com consequências clínicas relevantes. A individualização da ingestão de iodo deve ser considerada em políticas públicas, especialmente em contextos como gestação, infertilidade e uso recorrente de produtos iodados. 

Mensagem prática 

Avalie o estado nutricional de iodo em pacientes com infertilidade de causa não explicada, disfunções menstruais ou histórico gestacional desfavorável. Em gestantes, atenção especial deve ser dada ao uso de suplementos e à exposição a contrastes iodados. A função tireoidiana deve ser monitorada cuidadosamente em qualquer cenário de exposição aumentada ao iodo. O equilíbrio é essencial: tanto o déficit quanto o excesso de iodo podem comprometer a saúde reprodutiva. 

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Referências bibliográficas

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