O ano de 2025 consolidou-se como um período de avanços significativos na ginecologia, com importantes atualizações científicas, incorporação de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS) e fortalecimento de diretrizes clínicas baseadas em evidências. Ao longo do ano, temas centrais da saúde da mulher — como planejamento reprodutivo, doenças ginecológicas prevalentes, oncologia ginecológica, reprodução assistida e prevenção de câncer — estiveram em destaque, refletindo o esforço contínuo de integrar inovação, equidade e qualidade no cuidado. Este panorama reúne os principais marcos de 2025, que impactaram tanto a prática clínica quanto as políticas públicas em saúde da mulher.

Confira os destaques da ginecologia em 2025
Em fevereiro, abordamos a publicação da Associação Latino-Americana de Endocrinologia Ginecológica sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) para adaptar diretrizes internacionais à realidade latino-americana. Neste consenso, o objetivo foi orientar profissionais e gestores, contribuindo para políticas públicas e cuidados mais adequados às mulheres com SOP na América Latina.
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva e cursa com alterações hormonais, reprodutivas e metabólicas. Na América Latina, fatores como heterogeneidade clínica, diversidade genética, maior prevalência de obesidade, hipertensão e baixos níveis de HDL, além de desigualdades no acesso à saúde, dificultam o manejo adequado, reforçando a necessidade de abordagens adaptadas ao contexto regional.
O documento destacou a importância de combater o estigma do peso, reconhecer impactos psicossexuais da SOP e ajustar critérios diagnósticos conforme etnia. Recomenda o uso de contraceptivos hormonais combinados para hirsutismo e irregularidade menstrual, letrozol como primeira linha para indução da ovulação, e metformina para manejo metabólico, em reprodução assistida e, com cautela, durante a gestação. O uso de inositol pode ser considerado, embora com benefícios clínicos limitados. O hormônio antimülleriano pode auxiliar no diagnóstico, mas sua aplicação é limitada na região pela variabilidade de valores de referência e acesso restrito.
Em maio, tivemos a cobertura do 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) que ocorreu entre os dias 14 a 17 de maio de 2025, no Rio de Janeiro, promovido pela FEBRASGO, reunindo palestras, apresentações de trabalhos e debates sobre as principais atualizações da ginecologia e obstetrícia.
Entre os destaques do evento estiveram temas como telemedicina e redes sociais na consulta ginecológica, saúde ginecológica na infância e adolescência, contracepção hormonal em adolescentes, cuidados com a vulva e vagina, dor e excitação sexual feminina, terapia hormonal em diferentes contextos, ginecologia endócrina, diagnóstico de ISTs, implantes hormonais, interrupção legal da gestação, patologia do trato genital inferior, disfunções do assoalho pélvico, candidíase vulvovaginal, transmissão vertical de infecções e vacinação.
No Simpósio Afya, as médicas Caroline Oliveira, editora da Afya, e Fabiana Kac ministraram a aula “Entendendo a microflora vaginal: impacto da disbiose na prática clínica”, abordando a microbiota vaginal, tipos de flora, investigação do corrimento vaginal, disbiose e sua relação com carcinogênese e risco de infecções, além das evidências científicas atuais sobre tratamentos e discussão de casos clínicos.
Em julho, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação do implante contraceptivo subdérmico liberador de etonogestrel (Implanon) ao Sistema Único de Saúde (SUS), com início previsto para o segundo semestre deste ano. O método é classificado como contraceptivo reversível de longa duração (LARC), tem alta eficácia e atua por até três anos, sem necessidade de uso contínuo.
A decisão foi aprovada pela Conitec e visa ampliar o acesso ao planejamento sexual e reprodutivo, prevenindo gestações não planejadas e contribuindo para a redução da mortalidade materna. A inserção e retirada do implante serão realizadas por médicos(as) e enfermeiros(as) capacitados(as), sob coordenação da Atenção Primária à Saúde.
Neste mês, também destacamos um estudo publicado na Human Reproduction que avaliou a prevalência de endometrite crônica (EC), a resposta ao tratamento antibiótico e os desfechos reprodutivos em pacientes com falha recorrente de implantação (RPL) atendidas no Wiesbaden Fertility Centre. A endometrite crônica, condição frequentemente assintomática, tem sido associada à falha recorrente de implantação em reprodução assistida.
Entre 147 pacientes inicialmente avaliadas, 82 preencheram os critérios de inclusão após exclusões clínicas. A EC foi diagnosticada por biópsia endometrial com imuno-histoquímica (CD138 e anti-MUM1), sendo identificada em aproximadamente 40% das pacientes com RPL. As mulheres com EC receberam tratamento antibiótico, inicialmente com doxiciclina por 14 dias, alcançando resolução histológica em 88% dos casos; as persistências responderam à terapia combinada com ciprofloxacino e metronidazol.
Após o tratamento, não houve diferença significativa entre os grupos com e sem EC quanto às taxas de gestação clínica e de nascidos vivos. O estudo conclui que a endometrite crônica é frequente em pacientes com RPL e que o tratamento antibiótico é seguro e eficaz para normalização histológica, sem impacto negativo nos desfechos gestacionais, apoiando sua investigação e tratamento antes de novos ciclos de reprodução assistida.
Em agosto, tivemos a ocorrência de um evento histórico na luta para prevenção do câncer do colo uterino. O Ministério da Saúde iniciou a implementação do teste molecular de DNA-HPV no SUS, uma tecnologia 100% nacional que substituirá o Papanicolau como método primário de rastreamento do câncer do colo do útero. A nova estratégia será implantada gradualmente em 12 estados, com previsão de cobertura nacional até 2026. O exame apresenta maior sensibilidade, permite intervalos de coleta de até cinco anos e possibilita a detecção da infecção pelo HPV antes do surgimento de lesões, favorecendo o diagnóstico precoce e a redução da mortalidade.
No Brasil, cerca de 17 mil novos casos de câncer do colo do útero são estimados por ano, e aproximadamente 60% ainda são diagnosticados em estágios avançados, o que aumenta a complexidade do tratamento, os custos para o SUS e as desigualdades em saúde.
Apesar do avanço no rastreamento, a vacinação contra o HPV permanece a principal estratégia de prevenção a longo prazo. Embora a cobertura em meninas de 9 a 14 anos tenha alcançado 82% em 2024, e em meninos 67%, ainda está abaixo da meta da OMS de 90%. Campanhas de resgate vacinal em adolescentes mais velhos têm tido baixa adesão. A combinação entre rastreamento molecular, ampliação da vacinação e ações educativas é vista como essencial para reduzir desigualdades e avançar rumo à eliminação do câncer do colo do útero como problema de saúde pública.
Neste mesmo mês, também falamos sobre outro marco importante no SUS com a incorporação do implante contraceptivo subdérmico de etonogestrel após aprovação pelo CONITEC.
O tema é de extrema importância para educação sexual e para o acesso a métodos contraceptivos eficazes para reduzir gestações não planejadas na adolescência. Apesar dos avanços, adolescentes ainda enfrentam barreiras significativas para utilizar métodos contraceptivos altamente eficazes, e apenas 22,1% usam opções de alta ou moderada eficácia, percentual inferior à meta de 36,8%.
Em setembro, abordamos a publicação da ESGO (European Society of Gynaecological Oncology), em conjunto com a ESTRO (European Society for Radiotherapy and Oncology) e a ESP (European Society of Pathology) sobre uma atualização das diretrizes para o manejo do câncer de endométrio, incorporando o estadiamento FIGO 2023, que integra fatores anatômicos, histológicos e moleculares para uma estratificação prognóstica mais precisa. O documento reconhece o aumento da incidência da doença, associado ao envelhecimento populacional e à obesidade, e foi elaborado por um amplo grupo multidisciplinar, com participação ativa de pacientes.
As diretrizes reforçam que o carcinoma endometrial compreende quatro subtipos moleculares distintos (POLE-mutado, MMRd/MSI-H, p53 mutado e NSMP), cada um com prognóstico e manejo específicos, permitindo tratamentos mais individualizados e evitando sobre ou subtratamento. Tumores em estágios iniciais podem ser classificados como alto risco conforme o perfil molecular, enquanto casos avançados podem ter melhor prognóstico dependendo do subtipo.
O manejo recomendado inclui cirurgia minimamente invasiva como padrão, radioterapia quando a cirurgia não for curativa, ampliação do uso de imunoterapia — especialmente em tumores MMRd/MSI-H — e a adoção da biópsia de linfonodo sentinela como método preferencial para avaliação linfonodal, inclusive em casos de alto risco, substituindo a linfadenectomia sistemática.
Neste mês também destacamos um ensaio clínico brasileiro, multicêntrico e randomizado, publicado no American Journal of Obstetrics & Gynecology, que demonstrou a eficácia do acetato de noretisterona (NETA) no controle do sangramento uterino prolongado em usuárias do implante subdérmico de etonogestrel. O estudo envolveu instituições como USP Ribeirão Preto, Unicamp, Unifesp e Escola Bahiana de Medicina e comparou o uso de NETA por até 30 dias com placebo.
Os resultados mostraram controle significativamente superior do sangramento no grupo NETA, com interrupção do sangramento em 86,7% das participantes em até 7 dias e em 91,1% em 14 dias, em comparação a 48,9% e 64,4% no grupo placebo, respectivamente. Além disso, as usuárias de NETA apresentaram maior número de dias sem sangramento nos primeiros 30 dias de seguimento (21 vs. 13 dias).
Embora o tratamento não previna recorrência de sangramento a longo prazo e seja seguido por um episódio breve de sangramento após a suspensão, o uso de NETA mostrou-se eficaz para melhorar a experiência e favorecer a adaptação ao implante. Os autores recomendam a prescrição de NETA 10 mg/dia por 7, 14 ou 30 dias em casos de sangramento prolongado.
O mês de setembro também foi marcado pela cobertura do Congresso Brasileiro de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, realizado entre os dias 18 e 20 de setembro/2025, em Goiânia/GO. A Dra. Caroline Oliveira, editora chefe de GO dos produtos digitais da Afya e professora de ginecologia da Universidade Federal Fluminense-RJ, acompanhou o evento e destacou os principais tópicos discutidos apresentados.
Os acontecimentos de 2025 evidenciam uma ginecologia cada vez mais orientada pela ciência e pela ampliação do acesso às tecnologias em saúde. A incorporação de métodos contraceptivos de longa duração, avanços no rastreamento do câncer do colo do útero, consensos regionais adaptados à realidade latino-americana, atualizações em oncologia ginecológica e evidências clínicas relevantes reforçam o compromisso com a melhoria dos desfechos em saúde feminina. Além disso, a valorização da educação continuada demonstra a importância da troca de conhecimento e atualização científica. Esses avanços apontam para um futuro promissor, no qual políticas públicas, pesquisa científica e prática clínica caminham de forma integrada em benefício das mulheres.
Autoria

Caroline Oliveira
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