Morbidade perinatal e gravidade da colestase intra-hepática da gravidez
A colestase intra-hepática da gravidez é uma doença com baixa prevalência e de etiologia e fisiopatologia desconhecidas.
Um artigo publicado em agosto de 2022 no American Journal of Obstetrics and Gynecology avaliou a associação da gravidade da colestase intra-hepática da gravidez com desfechos obstétricos adversos, principalmente perinatais.
A colestase intra-hepática da gravidez é uma doença com baixa prevalência (0,3 a 0,5% das gestações) e de etiologia e fisiopatologia desconhecidas; entretanto, associada a morbidade perinatal importante, como óbito fetal, prematuridade e líquido amniótico meconial.
Essa doença é caracterizada por prurido, especialmente nas palmas das mãos e plantas dos pés que pioram à noite, na ausência de lesões de pele, e na presença de elevação de sais biliares dosados no sangue.
Acredita-se que esses sais biliares aumentados atravessam a barreira placentária, promovem arritmia cardíaca fetal e consequentemente óbito fetal.
Estudo
O objetivo do estudo foi avaliar a associação da gravidade da colestase intra-hepática da gravidez com desfechos obstétricos desfavoráveis que não o óbito fetal, já estudado previamente. Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, que analisou dados de um centro hospitalar de Nova York, de 2005 a 2019.
Para avaliar a gravidade da colestase intra-hepática da gravidez foi considerado o maior valor (pico) de sais biliares dosados (mmol/L) nas mulheres da pesquisa e assim categorizado: leve (10 – 19), moderado leve (20 – 39), moderado grave (40 – 99) e grave (>100). Os desfechos perinatais estudados foram trabalho de parto e parto pré-termo (PPT) espontâneo como primário e outras morbidades como taxas de restrição de crescimento intrauterino, admissão em unidades de cuidados intensivos e pH do cordão umbilical como desfechos secundários.
Durante o período de estudo, o centro da pesquisa registrou 1202 casos de partos em gestações complicadas com a colestase intra-hepática, sendo a maioria (37,4%) classificada como moderada leve.
Após ajuste para fatores de confusão, a gravidade ou severidade progressiva da colestase intra-hepática da gravidez foi associada a um risco aumentado de trabalho de parto pré-termo espontâneo (moderado leve: aOR 1,60; IC 95%, 0,76 – 3,38; moderado grave: aOR 3,49; IC 95%, 1,69 – 7,22; grave: aOR: 6,58; IC 95%, 2,97 – 14,55), parto prematuro eletivo e líquido amniótico meconial. Não houve associação significativa entre os demais desfechos pesquisados e o grau de severidade ou gravidade da doença materna.
Os autores concluem com esse estudo, que além do óbito fetal, quanto maior a gravidade da colestase intra-hepática da gravidez, definida a partir da ascensão de títulos dos ácidos biliares sanguíneos, maior o risco de desfechos desfavoráveis perinatais, como a prematuridade e presença de mecônio no líquido amniótico. Informações que podem auxiliar na tomada de decisões a cerca do tratamento dessa doença e da avaliação fetal.
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