Um artigo recentemente publicado no BJOG: An International Journal of Obstetrics and Gynaecology com o título “Metformin Treatment in PCOS Pregnancies Reduces Maternal Infections and Increases the Risk of Allergies and Eczema in the Offspring” teve como objetivo avaliar os efeitos do uso de metformina durante a gestação em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) sobre a incidência de infecções maternas e doenças alérgicas na prole.
A SOP é uma das endocrinopatias mais comuns, afetando 10–13% das mulheres em idade reprodutiva e associando-se a maior risco de complicações gestacionais, como diabetes mellitus gestacional, hipertensão, pré-eclâmpsia e parto prematuro.
A metformina, amplamente utilizada no manejo da SOP, tem sido investigada durante a gestação como estratégia para melhorar o perfil metabólico materno. Ensaios clínicos como PregMet e PregMet2 mostraram redução no ganho de peso gestacional e na incidência de diabetes gestacional, embora sem impacto consistente sobre parto prematuro ou peso ao nascer. Revisões sistemáticas também sugerem possível redução de infecções maternas, mas permanecem dúvidas quanto aos efeitos na saúde da prole, o que reforça a necessidade de estudos adicionais.
Metodologia
O estudo foi uma análise post hoc combinando dados de dois ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo (PregMet e PregMet2) e de um estudo de seguimento (PedMet). A população incluiu 738 gestantes com SOP acompanhadas em hospitais na Noruega, Suécia e Islândia entre 2005–2017, randomizadas para receber metformina (2000 mg/dia) ou placebo do primeiro trimestre até o parto. O seguimento das crianças ocorreu por volta dos 8 anos de idade.
Os desfechos primários foram a incidência de infecções maternas durante a gestação, parto e puerpério, e a ocorrência de doenças alérgicas (asma, alergias e eczema) nas crianças expostas intraútero.
Resultados
Na análise por protocolo (634 gestantes), o uso de metformina reduziu significativamente o risco de infecções maternas durante a gestação (42% vs. 52% no placebo; OR=0,68; IC95%: 0,50–0,93), especialmente infecções virais (OR=0,71; IC95%: 0,51–0,99), com efeito mais evidente em mulheres obesas (OR=0,52; IC95%: 0,30–0,89).
Entre os 145 filhos avaliados no seguimento, a exposição intraútero à metformina esteve associada a maior risco de alergias (18% vs. 4,2%; OR=4,83; IC95%: 1,47–21,8) e eczema (35% vs. 18%; OR=2,42; IC95%: 1,14–5,33). Não houve diferença na incidência de asma. O índice de massa corporal materno ou da criança não explicou essas associações.
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Discussão
Os resultados sugerem que a metformina pode reduzir a susceptibilidade materna a infecções, possivelmente por mecanismos imunomodulatórios ou metabólicos, mas também pode influenciar o desenvolvimento imunológico fetal, aumentando o risco de doenças alérgicas na infância. A ausência de efeito sobre asma e a independência em relação ao IMC indicam que outros mecanismos podem estar envolvidos.
O estudo contribui para o entendimento do perfil risco-benefício da metformina na gestação em mulheres com SOP. Embora apresente benefícios potenciais na redução de infecções maternas, os achados de aumento de alergias e eczema na prole levantam a necessidade de cautela e de avaliação individualizada da prescrição, além de estimular pesquisas adicionais sobre os mecanismos envolvidos e estratégias para minimizar riscos de longo prazo para os filhos.
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