Publicado, recentemente, na revista Reproductive Biology and Endocrinology, o artigo Letrozole ovulation regimen for frozen-thawed embryo transfer in women with polycystic ovary syndrome: a multi-centre randomised controlled trial apresenta os resultados de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado e controlado, realizado na China. O objetivo principal foi comparar a eficácia reprodutiva do regime de indução da ovulação com letrozol em relação ao regime programado de preparo endometrial, em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) submetidas à transferência de embriões congelados (FET).
A SOP é uma das principais causas de infertilidade feminina e frequentemente requer o uso de técnicas de reprodução assistida. No contexto da FET, o preparo endometrial pode ser realizado por meio de um regime programado, no qual hormônios exógenos controlam o ciclo, suprimem a ovulação e promovem o crescimento endometrial antes da transferência embrionária, ou por meio de indução da ovulação, que estimula o desenvolvimento folicular e a ovulação natural com indutores como o letrozol, um inibidor da aromatase.
Estudos retrospectivos e pequenos ensaios sugeriram que o letrozol poderia melhorar determinados desfechos gestacionais, possivelmente por favorecer um ambiente endometrial mais fisiológico. No entanto há carência de evidências provenientes de ensaios clínicos randomizados com amostras adequadas para confirmar esses benefícios em pacientes com SOP.
Metodologia
O estudo foi conduzido entre setembro de 2022 e fevereiro de 2024 em seis hospitais chineses, incluindo 155 mulheres com diagnóstico de SOP. As participantes foram alocadas aleatoriamente, em proporção 1:1, por meio de um sistema informatizado centralizado que garantiu ocultação da alocação, para receberem um dos dois protocolos.
No grupo letrozol (n=81), o tratamento consistiu na administração oral de 2,5 a 5 mg/dia de letrozol, iniciada no terceiro dia do ciclo menstrual e mantida por cinco dias, com monitoramento ultrassonográfico seriado. A ovulação foi desencadeada com hCG quando o folículo dominante atingia 17 mm ou mais, e a transferência embrionária foi programada de acordo com a ovulação induzida. No grupo programado (n=74), as pacientes receberam estradiol oral para preparo endometrial a partir do segundo ou terceiro dia do ciclo, com ajuste de dose conforme a espessura endometrial. Após atingir espessura mínima de 7 mm, foi iniciada a administração de progesterona para sincronização endometrial antes da transferência.
O desfecho primário do estudo foi a taxa de gravidez clínica, definida pela presença de saco gestacional com batimento cardíaco ao ultrassom sete semanas após a FET. Os desfechos secundários incluíram taxa de aborto espontâneo, taxa de nascidos vivos, ocorrência de complicações obstétricas como hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional, parto pré-termo, peso ao nascer e características do suporte lúteo utilizado. Além disso, foi conduzida uma análise de subgrupo considerando apenas pacientes submetidas à transferência de um único blastocisto.
Principais achados e discussão
A análise dos resultados mostrou que não houve diferença significativa na taxa de gravidez clínica entre o grupo letrozol (62,96%) e o grupo programado (60,81%). De forma semelhante, não foram observadas diferenças relevantes nas taxas de aborto, nascidos vivos, complicações obstétricas, parto pré-termo ou peso neonatal. Um achado de destaque foi que um número significativamente maior de pacientes no grupo letrozol recebeu suporte lúteo com apenas um fármaco (53,16% contra 16,67% no grupo programado), o que pode representar simplificação do manejo clínico e redução de custos. Na análise restrita às pacientes com transferência de único blastocisto, os resultados permaneceram consistentes, sem evidências de superioridade clínica de um regime sobre o outro.
Os autores concluem que, em mulheres com SOP submetidas à FET, o regime de indução da ovulação com letrozol não demonstrou vantagens significativas sobre o regime programado em termos de eficácia reprodutiva. Entretanto, o uso do letrozol pode oferecer benefícios logísticos e de simplificação do suporte lúteo, aspectos que podem ser considerados na escolha do protocolo em determinados contextos clínicos.
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