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Ginecologia e Obstetrícia13 outubro 2025

Interpretação da monitorização fetal intraparto

Confira o novo documento da ACOG que fornece uma estrutura baseada em evidências para monitorização fetal intraparto

O ACOG publicou recentemente um novo guideline intitulado “Intrapartum Fetal Heart Rate Monitoring: Interpretation and Management”. O objetivo deste documento é fornecer uma estrutura baseada em evidências para a avaliação e o manejo dos padrões da frequência cardíaca fetal (FCF) durante o trabalho de parto. 

Segue o sumário das recomendações: 

Conduta diante das categorias I, II e III da FCF

  • Categoria I: recomenda-se o cuidado obstétrico rotineiro durante o trabalho de parto. (Recomendação forte, evidência de baixa qualidade) 
  • Categoria II: deve-se realizar manobras iniciais de reanimação intrauterina, como: mudança de posição materna, amnioinfusão, infusão intravenosa de fluidos, redução ou suspensão da ocitocina (ou outros agentes de indução/estimulação) e correção de alterações maternas que possam estar relacionadas às mudanças no traçado, antes de indicar cesariana. (Recomendação forte, evidência de qualidade moderada) 
  • Categoria II ou III: não se recomenda o uso rotineiro de oxigênio materno, salvo em casos de hipóxia materna comprovada. (Recomendação forte, evidência de alta qualidade) 
  • Categoria III: caso não haja resposta às medidas iniciais de reanimação intrauterina, recomenda-se acelerar o parto (via vaginal ou cesariana) conforme a indicação clínica. (Recomendação forte, evidência de alta qualidade) 
  • Taquissistolia uterina associada a traçado categoria II (com características de risco) ou categoria III persistente após suspensão da ocitocina deve ser tratada com um agente de relaxamento uterino de ação rápida. (Recomendação condicional, evidência de qualidade moderada) 

Métodos complementares de interpretação da FCF

  • Não se recomenda o uso rotineiro da análise do segmento ST (STAN) para interpretação e manejo da FCF durante o parto. (Recomendação forte, evidência de alta qualidade) 
  • Não se recomenda o uso rotineiro da oximetria de pulso fetal para avaliação do bem-estar fetal intraparto. (Recomendação forte, evidência de qualidade moderada) 
  • Não se recomenda basear-se exclusivamente em sistemas computadorizados para interpretação e tomada de decisão sobre a FCF durante o trabalho de parto. (Recomendação forte, evidência de qualidade moderada) 

Classificação dos traçados 

A Classificação dos traçados da FCF (Fetal Heart Rate – FHR), segue a nomenclatura abaixo: 

Categoria I – Normal 

Traçados da FCF classificados como Categoria I são normais e indicam fortemente um estado fetal com equilíbrio ácido-básico normal no momento da observação. Podem ser monitorados de forma rotineira, sem necessidade de intervenções específicas. 

Categoria II – Indeterminada 

Traçados Categoria II são indeterminados, não indicando nem normalidade nem anormalidade. Eles não predizem um distúrbio ácido-básico fetal, mas também não podem ser classificados como Categoria I ou III. Exigem avaliação contínua e reavaliação, considerando todo o contexto clínico e as características específicas do traçado. Em algumas situações, podem ser aplicadas medidas de reanimação intrauterina ou realizados testes complementares para verificar o bem-estar fetal. 

Categoria III – Anormal 

Traçados Categoria III são anormais e associados a acidose fetal no momento da observação. Exigem avaliação e intervenção imediata. 

As medidas incluem: 

  • mudança de posição materna; 
  • suspensão da ocitocina ou de outros agentes estimuladores do parto; 
  • tratamento da hipotensão materna; 
  • correção da taquissistolia associada a alterações de FCF. 

Se o traçado Categoria III não melhorar após essas medidas, é indicada a interrupção rápida da gestação (parto imediato). 

Limitações do sistema em três categorias 

Esse modelo apresenta limitações, especialmente pela ampla variedade de traçados na Categoria II, o que reduz sua especificidade e capacidade de prever acidemia fetal, além de apresentar baixa concordância entre observadores. Outros sistemas têm sido propostos, como o modelo de cinco categorias (cinco cores), que classifica os traçados de acordo com graus progressivos de risco de acidemia fetal. 

Conclusões 

Apesar de a monitorização da frequência cardíaca fetal estar disponível há mais de quarenta anos, as evidências sobre as melhores formas de interpretação e manejo dos traçados ainda são limitadas. O sistema de três categorias apresenta restrições, especialmente quanto à definição da categoria II. Modelos alternativos de cinco níveis foram propostos, mas sem comprovação de eficácia. Embora existam ferramentas complementares para aprimorar a interpretação, nenhuma mostrou impacto positivo nos desfechos perinatais. Assim, há necessidade de novos estudos prospectivos de grande escala que orientem práticas mais precisas e melhorem a assistência às gestantes durante o trabalho de parto. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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