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Ginecologia e Obstetrícia29 dezembro 2024

Infecções pelo HPV durante a gravidez e resultados adversos da gravidez

Infecções pelo HPV são comuns entre mulheres em idade fértil e alguns estudos indicam a possibilidade de efeitos adversos durante a gravidez

Um estudo escandinavo intitulado Human papillomavirus infections during pregnancy and adverse pregnancy outcomes: a Scandinavian prospective mother-child cohort study foi publicado recentemente na revista BMC Pregnancy Childbirth. O objetivo do estudo foi investigar se as infecções pelo papilomavírus humano (HPV) durante a gravidez estavam associadas a desfechos adversos da gravidez ligados à disfunção placentária. 

Revisão da literatura: HPV e desfechos adversos na gravidez 

O papel dos papilomavírus humanos (HPVs) na saúde humana tem sido amplamente estudado, com seu papel etiológico na displasia cervical bem estabelecido. Contudo, as associações entre HPV e desfechos adversos na gravidez são menos claras. Infecções por HPV atingem seu pico durante os anos reprodutivos das mulheres, sendo a infecção sexualmente transmissível mais comum. Estudos demonstram a presença do HPV na placenta, especificamente em células trofoblásticas, onde ele pode se replicar e reduzir propriedades de adesão, migração e o número dessas células. Como a invasão trofoblástica é essencial para a placentação e função placentária, infecções por HPV poderiam contribuir para disfunções placentárias e complicações obstétricas, como síndromes hipertensivas da gravidez (SHG), diabetes mellitus gestacional (DMG) e restrição de crescimento fetal (RCF). Tais condições estão associadas à mortalidade materna e perinatal, complicações neonatais e risco de doenças cardiovasculares a longo prazo. 

A pesquisa sobre HPV e desfechos adversos na gravidez tem se concentrado em abortos espontâneos ou partos prematuros, enquanto os estudos sobre disfunções placentárias permanecem limitados e inconclusivos. As metodologias divergentes, definições não uniformes e tamanhos amostrais pequenos dificultam a comparabilidade dos resultados. Uma meta-análise recente destacou a necessidade de mais investigações de alta qualidade. 

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Metodologia 

O estudo é um subestudo da coorte prospectiva PreventADALL, que investiga intervenções precoces na prevenção de doenças alérgicas e fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis. Gestantes foram recrutadas entre 2014 e 2016 em hospitais da Noruega e Suécia durante a ultrassonografia de rotina do segundo trimestre. Participaram 950 mulheres com amostras de urina para análise de HPV na metade da gestação, sendo 753 com amostras válidas também no momento do parto. O DNA do HPV foi detectado e genotipado utilizando o teste PCR Seegene Anyplex II HPV28, com definição de infecções de alto risco (HR-HPV), infecção múltipla e persistente durante a gestação. 

Os desfechos analisados foram complicações hipertensivas (hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, eclâmpsia e síndrome HELLP), diabetes mellitus gestacional (DMG) e recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG). As análises estatísticas incluíram modelos de regressão logística univariada e multivariada, ajustados para possíveis fatores de confusão como idade materna, IMC pré-gestacional, paridade e doenças crônicas maternas. Resultados indicaram associações entre infecção por HPV e desfechos adversos. 

Principais achados 

Na amostra inicial (N = 950), a idade média foi de 32 anos e o IMC pré-gestacional mediano de 24,5 kg/m². A maioria das mulheres (87%) era casada, 52% estavam em relacionamentos de 5 anos ou mais, e 55% esperavam o primeiro filho. A idade gestacional média no parto foi de 40,1 semanas e o peso médio ao nascer foi de 3592 g. Cerca de 40% das mulheres apresentaram infecção por qualquer tipo de HPV (Any-HPV), enquanto 24% tinham infecção por HPV de alto risco (HR-HPV), sendo o genótipo HPV16 o mais comum (6%). A persistência de infecções foi de 52% para Any-HPV, 52% para HR-HPV e 64% para HPV16. 

Complicações hipertensivas da gravidez foram diagnosticadas em 9% das mulheres, sendo hipertensão gestacional a mais comum (4%). Infecções por Any-HPV foram associadas a menor ocorrência de complicações hipertensivas (razão de chances ajustada [aOR] 0,55, IC 95% 0,32–0,93, p = 0,024), mas HR-HPV não apresentou associação significativa. Diabetes mellitus gestacional (DMG) foi diagnosticado em 4% das mulheres, sem associações significativas com Any-HPV ou HR-HPV. Recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG) representaram 7% dos casos, mas também não houve associações estatisticamente significativas com infecções por HPV.  

Conclui-se que as infecções por HPV não demonstraram forte associação com DMG ou PIG, enquanto Any-HPV mostrou menor risco de síndromes hipertensivas. 

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Discussão e conclusão 

Este estudo, realizado com uma coorte de mulheres grávidas na Noruega e Suécia, não encontrou evidências de que infecções por HPV durante a gestação estejam associadas a desfechos adversos como distúrbios hipertensivos da gravidez, diabetes mellitus gestacional (DMG) ou recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG), mesmo com alta prevalência de infecções por HPV detectada. Os resultados são tranquilizadores para mulheres em idade fértil com resultado positivo para HPV, sugerindo que, na maioria dos casos, a infecção é transitória e não afeta negativamente a gravidez ou o feto. 

Mulheres com teste positivo para HPV durante a gestação devem ser informadas de que, na maioria das vezes, essa condição não está associada a complicações na gravidez. Este estudo reforça que o HPV, geralmente, não causa disfunção placentária ou desfechos graves, proporcionando segurança para gestantes e seus profissionais de saúde. Além disso, a introdução da vacinação contra o HPV e o rastreamento ampliado podem reduzir ainda mais qualquer impacto potencial da infecção no futuro.

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Referências bibliográficas

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