A incontinência urinária (IU) afeta aproximadamente 40-50% de jovens atletas nulíparas, existindo dúvidas se o exercício físico fortalece ou enfraquece o assoalho pélvico devido ao aumento da pressão intra-abdominal durante atividades como corrida e salto.
Fatores como fadiga dos músculos do assoalho pélvico, hipermobilidade anatômica generalizada e baixa disponibilidade energética pode contribuir para a IU nessa população. Dados limitados estão disponíveis sobre a evolução da IU ao longo do tempo ou sua ocorrência durante treinamentos e competições, o que poderia esclarecer sua fisiopatologia e orientar estratégias de prevenção e tratamento.
O impacto da IU no desempenho esportivo e na qualidade de vida (QV) permanece pouco explorado, embora muitas mulheres relatem modificar ou interromper exercícios devido aos sintomas. Uma pesquisa com atletas nulíparas de elite revelou que 39% sentiam que a IU afetava seu desempenho, e 11% utilizavam absorventes para lidar com vazamentos.
Para compreender melhor a IU nesse grupo, esse estudo, envolvendo questionários e grupos focais, investigou fatores que precipitam a IU, seus efeitos no desempenho e na QV, além de estratégias de manejo atuais. A hipótese levantada foi de que atividades de alto impacto desencadeiam os sintomas e que essas atletas podem adotar estratégias semelhantes às de mulheres mais velhas com IU, como modificar atividades e restringir a ingestão de líquidos.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional e transversal. O estudo recrutou atletas femininas de 18 a 25 anos que não tinham histórico de gravidez ou parto. Utilizando um questionário online, foram coletados dados demográficos, históricos médicos, práticas esportivas e informações sobre sintomas urinários, transtornos alimentares, saúde mental, hipermobilidade articular e dor geniturinária, além de avaliar o impacto da incontinência urinária (IU) na qualidade de vida. Atletas com sintomas de IU durante exercícios foram convidadas para grupos específicos do estudo. As análises compararam atletas assintomáticas e sintomáticas, utilizando testes estatísticos apropriados. Três grupos com 3 a 8 participantes foram conduzidos virtualmente, abordando experiências com IU, fatores desencadeantes, impacto na qualidade de vida e estratégias de manejo.
Principais achados
Foram contatadas 327 atletas; 67 (20%) responderam ao questionário. A mediana de idade foi de 20 anos, e 7,5% competiram em nível nacional ou olímpico. Os esportes mais representados foram atletismo (27%), remo (15%), futebol (10%) e hóquei (10%). Todas relataram treinamento com pesos, e 49% tiveram experiência atual ou passada com incontinência urinária (IU) relacionada ao exercício, sendo 18% na última semana.
Atletas com sintomas de IU apresentaram maior prevalência de asma (21% vs. 2,9%), constipação (15% vs. 0%) e atividade sexual atual (76% vs. 44%) em comparação às assintomáticas. Elas também tinham maior probabilidade de conhecer outras atletas com IU (70% vs. 15%) e piores escores nos questionários, indicando sintomas urinários e impacto negativo na qualidade de vida (QV). Estratégias comuns para lidar com IU incluíram urinar antes do exercício (91%), usar roupas escuras para esconder vazamentos (42%), evitar certos exercícios (18%), restringir líquidos (21%) e usar absorventes (9%). Atletas que participaram de grupos focais geralmente relataram sintomas mais graves do que aquelas que não participaram.
Atletas relataram episódios de IU principalmente durante atividades de impacto, como saltos e esforços intensos (corridas ou competições), ou após fadiga muscular. Apesar de esvaziarem a bexiga antes de treinos, a IU era mais comum em treinos vespertinos e estava associada a fatores como consumo de cafeína, hidratação excessiva, uso de diuréticos e estresse competitivo. Algumas atletas atribuíram os sintomas ao esforço físico e à incapacidade de controlar a bexiga, enquanto outras relacionaram a IU a uma fraqueza do assoalho pélvico.
A maioria das atletas relatou que a IU teve impacto mínimo ou moderado na qualidade de vida, sendo frequentemente vista como um incômodo ou constrangimento. O estresse associado à necessidade de urinar antes de competições, bem como o medo de vazamentos, afetava o foco mental de algumas atletas. Para outras, a IU não prejudicava diretamente o desempenho, embora algumas relatassem interrupções no sono devido à noctúria. Apesar de a IU ser considerada um problema comum e normalizado entre atletas do sexo feminino, com frequência motivo de piadas entre companheiras de equipe, algumas atletas demonstraram maior sensibilidade ao tema, relatando vergonha persistente e preocupação durante competições.
Conclusões: incontinência urinária em atletas de elite
O estudo revelou que 50% das participantes experienciaram incontinência urinária durante a prática de exercícios. Foram relatados episódios tanto de incontinência urinária de esforço quanto de urgência, ocorrendo tanto durante quanto fora do exercício. A IU relacionada ao exercício parece ser multifatorial, influenciada por condições específicas do exercício, comportamentais, médicas e ambientais.
Embora a IU seja cada vez mais normalizada entre atletas desde a adolescência, os níveis de incômodo variam, e há um interesse comum em melhorar o manejo dos sintomas. Pesquisas adicionais são necessárias para orientar o aconselhamento sobre os impactos da prática de esportes de alto nível no assoalho pélvico e avaliar se o treinamento complementar.
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