A falha recorrente de implantação (RPL) é um dos desafios enfrentados por quem trabalha com Reprodução Assistida, apesar de não apresentar um consenso quanto a definição, considera-se o diagnóstico realizado se ausência de gravidez após realizada 3 transferências de embriões sem estudo genético ou 2 transferências de embriões euplóides. Diversos fatores podem ser responsáveis por essa condição, dentre eles a endometrite crônica.
A endometrite cronica (EC), frequentemente assintomática, tem sido associada a RPL nos tratamentos de reprodução assistida. Um estudo recente desenvolvido na Wiesbaden Fertility Centre, publicado na human reproduction, avaliou a prevalência de EC diagnosticada através da presença de plasmócitos na biopsia endometrial coletada através de histeroscopia, resposta ao tratamento antibiótico e os desfechos reprodutivos subsequentes em pacientes com RPL.
Foram avaliadas 147 pacientes com diagnóstico de RPL, submetidas a biópsia endometrial entre 2017 e 2021. A EC foi diagnosticada por imuno-istoquimica com marcadores CD138 e anticorpos anti-MUM1, considerando positivo quando presente 5 ou mais plasmócitos por campo, sendo dividido em dois grupos A (< 5 plasmócitos por campo) e B (≥ 5 plasmócitos por campo). Os critérios de exclusão utilizados foram: doenças auto-imunes (lupus e síndrome do anticorpo antifosfolipideo), hidrossalpinge, Após a exclusão de 65 pacientes devido a doenças auto-imunes, infecção urogenital aguda, alterações genéticas e alterações da cavidade uterina diagnosticada por ultrassonografia tridimensional ou através de histeroscopia – sendo então incluídas 82 pacientes.
As pacientes do grupo B foram submetidas a tratamento com doxiciclina 200 mg/dia por 14 dias, seguido de lactobacilos vaginais e uma nova biopsia endometrial coletada por pipele guiada por ultrassom; Se ao resultado do imuno-istoquimico havia menos que 5 plasmócitos por campo foi considerado cura, caso contrário a paciente foi submetida a uma combinação de ciprofloxacino 500 mg/dia e metronidazol 400 mg/dia por 7 dias, seguida pela administração de lactobacilos. Após três semanas do término do uso do antibiótico, uma nova biopsia endometrial de controle foi realizada para confirmar a exclusão da EC.
Após o tratamento com doxiciclina, 88% das pacientes apresentaram negativação dos plamócitos e os casos persistentes responderam à terapia antibiótica combinada. Não houve diferença significativa entre os grupos quanto à taxa de gestação clínica (53% vs 54%) ou taxa de nascidos vivo (88% vs 89%). Todavia, o tratamento antibiótico mostrou-se seguro e eficaz, promovendo normalização histológica em grande parte dos casos, sem impactar negativamente os desfechos gestacionais, havendo uma tendência a ser realizado em casos de RPL e presença de EC, principalmente em casos de novos tratamento de reprodução assistida, uma vez que foi diagnosticada em 4 de cada 10 pacientes com RPL.
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