Um artigo recentemente publicado no periódico Nutrients, teve como objetivo investigar os efeitos da suplementação de vitamina D em mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP).
O estudo se baseou em algumas evidências científicas:
- Diversos estudos clínicos e experimentais têm sugerido que a vitamina D pode influenciar sintomas da SOP, como disfunção ovulatória, hiperandrogenismo, resistência à insulina e alterações metabólicas;
- Observações epidemiológicas mostram que a deficiência de vitamina D é mais prevalente em mulheres com SOP do que na população geral;
- A vitamina D atua por meio de seu receptor (VDR) e da enzima 1α-hidroxilase, afetando tecidos reprodutivos como ovários, útero, placenta, hipófise e hipotálamo.
Embora os estudos de intervenção com suplementação de vitamina D apresentem resultados controversos quanto à melhora de marcadores metabólicos e hormonais da SOP, níveis adequados da vitamina parecem estar associados à maior regularidade menstrual e maior chance de ovulação. Assim, acredita-se que a via da vitamina D possa regular diversos sintomas da SOP, embora a causa da síndrome ainda não esteja completamente esclarecida.
Metodologia
Trata-se de um estudo prospectivo multicêntrico, randomizado, de duas fases, duplo-cego, controlado por placebo e de desenho paralelo, conduzido em 8 centros de estudo clínico na Hungria entre 2016 e 2020. O ensaio teve como objetivo avaliar os efeitos da suplementação semanal de vitamina D ou placebo durante 12 semanas, seguida por um período aberto de mais 12 semanas, em mulheres com diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos (SOP), com foco na função ovariana. O grupo “D12” recebeu placebo nas primeiras 12 semanas, seguido por 360.000 UI de vitamina D nas 12 semanas seguintes. Já o grupo “D24” recebeu 360.000 UI de vitamina D durante as primeiras 12 semanas e continuou com a mesma dose por mais 12 semanas, totalizando 720.000 UI em 24 semanas. Foi avaliado o impacto na morfologia ovariana, duração do ciclo e disfunção ovulatória. Exames de ultrassonografia transvaginal (USTV) e avaliações laboratoriais clínicas foram realizados no início do estudo e novamente após 12 e 24 semanas.
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Principais achados
- Grupo D12 (n = 44): 12 semanas iniciais com placebo + cálcio, seguido por 12 semanas de vitamina D3 + cálcio (total: 360.000 UI).
Durante a fase placebo (sem vitamina D):
- Nenhuma mudança significativa em:
- Duração do ciclo menstrual.
- Níveis de testosterona, androstenediona ou SHBG.
Após 12 semanas de vitamina D3 (360.000 UI):
- 25(OH)D aumentou de 24,3 para 45,1 ng/mL (p < 0.0001).
- Redução significativa na duração média do ciclo para 40,4 dias (p = 0,031).
- Cerca de 2/3 das pacientes relataram maior frequência de menstruação.
Hormônios:
- Sem alterações significativas nos níveis de testosterona, androstenediona, FSH/LH ou estradiol.
2. Grupo D24 (n = 40): 24 semanas contínuas de vitamina D3 + cálcio (total: 720.000 UI).
Após 12 semanas iniciais de vitamina D3 (360.000 UI):
- 25(OH)D mantido > 45 ng/mL (reposição bem-sucedida).
- Duração média do ciclo reduziu de 47,9 para 38,7 dias (p = 0,004).
- Não houve mudanças significativas em:
- Testosterona.
- Androstenediona.
- Estradiol.
- Melhora na regularidade menstrual observada em mais de 75% das pacientes.
Após 24 semanas totais (720.000 UI):
- Nova redução do ciclo em pacientes com boa resposta: 33,3 ± 7,05 dias (CI: 30,6–35,9).
- Ovulação aumentada, mas sem nova elevação significativa de 25(OH)D.
3. Análises por subgrupos hormonais (ambos os grupos)
- Redução significativa da testosterona após tratamento (p = 0,047).
- Ovulação aumentou de 20–30% para 40–45%.
Morfologia ovariana (TVUS)
- USTV normal aumentou:
- Grupo D12: de 4,5% para 20,5% (p = 0,0156).
- Grupo D24: de 2,5% para 22,5% (p = 0,0078).
- Redução do número médio de folículos.
Conclusão e mensagens práticas
Este estudo demonstrou que a suplementação de vitamina D3 foi segura e eficaz para reduzir a duração dos ciclos menstruais, melhorar a morfologia ovariana e aumentar a taxa de ovulação em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP). A resposta ao tratamento variou conforme o fenótipo da SOP, sendo mais significativa nas pacientes com ciclos longos e andrógenos elevados, o que sugere que a vitamina D pode ser uma terapia adjuvante acessível e personalizada no manejo da SOP.
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