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Ginecologia e Obstetrícia26 maio 2025

Efeitos do tratamento com vitamina D na Síndrome dos Ovários Policísticos

Artigo teve como objetivo investigar os efeitos da suplementação de vitamina D em mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)

Um artigo recentemente publicado no periódico Nutrients, teve como objetivo investigar os efeitos da suplementação de vitamina D em mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). 

O estudo se baseou em algumas evidências científicas: 

  • Diversos estudos clínicos e experimentais têm sugerido que a vitamina D pode influenciar sintomas da SOP, como disfunção ovulatória, hiperandrogenismo, resistência à insulina e alterações metabólicas; 
  • Observações epidemiológicas mostram que a deficiência de vitamina D é mais prevalente em mulheres com SOP do que na população geral; 
  • A vitamina D atua por meio de seu receptor (VDR) e da enzima 1α-hidroxilase, afetando tecidos reprodutivos como ovários, útero, placenta, hipófise e hipotálamo. 

Embora os estudos de intervenção com suplementação de vitamina D apresentem resultados controversos quanto à melhora de marcadores metabólicos e hormonais da SOP, níveis adequados da vitamina parecem estar associados à maior regularidade menstrual e maior chance de ovulação. Assim, acredita-se que a via da vitamina D possa regular diversos sintomas da SOP, embora a causa da síndrome ainda não esteja completamente esclarecida.  

vitamina D

Metodologia 

Trata-se de um estudo prospectivo multicêntrico, randomizado, de duas fases, duplo-cego, controlado por placebo e de desenho paralelo, conduzido em 8 centros de estudo clínico na Hungria entre 2016 e 2020. O ensaio teve como objetivo avaliar os efeitos da suplementação semanal de vitamina D ou placebo durante 12 semanas, seguida por um período aberto de mais 12 semanas, em mulheres com diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos (SOP), com foco na função ovariana. O grupo “D12” recebeu placebo nas primeiras 12 semanas, seguido por 360.000 UI de vitamina D nas 12 semanas seguintes. Já o grupo “D24” recebeu 360.000 UI de vitamina D durante as primeiras 12 semanas e continuou com a mesma dose por mais 12 semanas, totalizando 720.000 UI em 24 semanas. Foi avaliado o impacto na morfologia ovariana, duração do ciclo e disfunção ovulatória. Exames de ultrassonografia transvaginal (USTV) e avaliações laboratoriais clínicas foram realizados no início do estudo e novamente após 12 e 24 semanas. 

Leia também: Os reais benefícios da vitamina D

Principais achados 

  1. Grupo D12 (n = 44): 12 semanas iniciais com placebo + cálcio, seguido por 12 semanas de vitamina D3 + cálcio (total: 360.000 UI). 

Durante a fase placebo (sem vitamina D): 

  • Nenhuma mudança significativa em: 
  • Duração do ciclo menstrual. 
  • Níveis de testosterona, androstenediona ou SHBG. 

Após 12 semanas de vitamina D3 (360.000 UI): 

  • 25(OH)D aumentou de 24,3 para 45,1 ng/mL (p < 0.0001). 
  • Redução significativa na duração média do ciclo para 40,4 dias (p = 0,031). 
  • Cerca de 2/3 das pacientes relataram maior frequência de menstruação. 

Hormônios: 

  • Sem alterações significativas nos níveis de testosterona, androstenediona, FSH/LH ou estradiol. 

      2. Grupo D24 (n = 40): 24 semanas contínuas de vitamina D3 + cálcio (total: 720.000 UI). 

Após 12 semanas iniciais de vitamina D3 (360.000 UI): 

  • 25(OH)D mantido > 45 ng/mL (reposição bem-sucedida). 
  • Duração média do ciclo reduziu de 47,9 para 38,7 dias (p = 0,004). 
  • Não houve mudanças significativas em: 
  • Testosterona. 
  • Androstenediona. 
  • Estradiol. 
  • Melhora na regularidade menstrual observada em mais de 75% das pacientes. 

Após 24 semanas totais (720.000 UI): 

  • Nova redução do ciclo em pacientes com boa resposta: 33,3 ± 7,05 dias (CI: 30,6–35,9). 
  • Ovulação aumentada, mas sem nova elevação significativa de 25(OH)D. 

       3. Análises por subgrupos hormonais (ambos os grupos) 

  • Redução significativa da testosterona após tratamento (p = 0,047). 
  • Ovulação aumentou de 20–30% para 40–45%. 

Morfologia ovariana (TVUS) 

  • USTV normal aumentou: 
  • Grupo D12: de 4,5% para 20,5% (p = 0,0156). 
  • Grupo D24: de 2,5% para 22,5% (p = 0,0078). 
  • Redução do número médio de folículos. 

Conclusão e mensagens práticas 

Este estudo demonstrou que a suplementação de vitamina D3 foi segura e eficaz para reduzir a duração dos ciclos menstruais, melhorar a morfologia ovariana e aumentar a taxa de ovulação em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP). A resposta ao tratamento variou conforme o fenótipo da SOP, sendo mais significativa nas pacientes com ciclos longos e andrógenos elevados, o que sugere que a vitamina D pode ser uma terapia adjuvante acessível e personalizada no manejo da SOP. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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