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Ginecologia e Obstetrícia26 dezembro 2024

Contracepção Hormonal Masculina Oral  

Uma revisão recente propõe investigar uma nova abordagem endócrina oral para contracepção hormonal masculina.

Uma revisão recentemente publicada no periódico Contraception pelo holandês Herjan J.T. Coelingh Bennink propõe investigar uma nova abordagem endócrina oral para contracepção hormonal masculina usando um medicamento hormonal triplo chamado MANTE (antagonista de GnRH, testosterona e estrogênio). 

Trata-se de um artigo de revisão que visa embasar cientificamente estudos futuros para investigar esse método ou medicamento batizado de MANTE. 

Introdução 

A contracepção hormonal masculina objetiva inibir a produção de espermatozoides nos testículos através da supressão do hormônio folículo-estimulante (FSH), essencial para a espermatogênese.  

Por muitos anos, existe a necessidade de um método confiável, eficaz, seguro e reversível de contracepção hormonal masculina. O principal desafio não é a supressão da espermatogênese via inibição do FSH, que pode ser alcançada com hormônios esteroides, como andrógenos ou progestinas, ou análogos de GnRH. A questão central é que esses compostos também inibem o hormônio luteinizante (LH), o que causa deficiência de testosterona (T) e estradiol (E2). Até o momento, não existem medicamentos que suprimam seletivamente o FSH sem afetar o LH. 

Outro desafio importante é a falta de andrógenos orais eficazes para substituir a T, que é essencial para funções sexuais, como libido e ereção. Métodos em desenvolvimento dependem de esteroides orais com atividade mista ou de substituição de T por vias não orais, como géis ou injeções. Além disso, há pouca atenção à perda de E2, regulada pelo LH e pela aromatase, e aos sintomas de deficiência estrogênica, como os observados na terapia de privação androgênica no tratamento do câncer de próstata avançado. 

Métodos atuais utilizam testosterona não oral, como géis ou injeções, uma vez que a testosterona oral não é bioativa. Para solucionar esses desafios, propõe-se uma nova abordagem oral, chamada MANTE (Male Oral Contraception by a GnRH Antagonist, Testosterone and an Estrogen). Esta abordagem inovadora utiliza três componentes: 

  1. Antagonista oral de GnRH para suprimir o FSH e a espermatogênese. 
  1. Dose elevada de DHEA (desidroepiandrosterona) como substituto da testosterona. 
  1. Dose baixa de um estrogênio oral, preferencialmente estetrol (E4), para compensar a perda de E2. 

Antagonista de GnRH (Relugolix) 

O Relugolix é um antagonista de GnRH oralmente ativo utilizado clinicamente no tratamento do câncer de próstata avançado. Ele inibe rapidamente a secreção de FSH e LH pela hipófise, reduzindo os níveis de testosterona. Estudos demonstraram eficácia superior em relação ao agonista leuprolida, com recuperação hormonal mais rápida após a descontinuação do tratamento. 

Na proposta do MANTE, o Relugolix é administrado em doses diárias de 120 mg, suficientes para suprimir a produção de FSH e LH, inibindo a espermatogênese e os níveis de testosterona. 

Substituição de Testosterona com DHEA 

A DHEA é o hormônio esteroide circulante mais abundante no corpo humano e um precursor universal dos hormônios sexuais. Estudos demonstram que a administração oral de DHEA pode aumentar significativamente os níveis de testosterona, especialmente quando administrada em doses elevadas. 

Em indivíduos com deficiência de testosterona, doses de 250 a 500 mg/dia de DHEA podem restaurar os níveis hormonais para a faixa normal baixa. Ensaios clínicos indicam que doses elevadas de até 1600 mg/dia são bem toleradas, com efeitos mínimos adversos. 

 Substituição de Estrogênio com Estetrol (E4) 

A perda de estrogênio causada pela supressão de LH e aromatase pode resultar em sintomas como ondas de calor, ganho de peso, perda óssea e alterações de humor. O estetrol (E4) é um estrogênio natural produzido pelo fígado fetal durante a gravidez. Diferentemente de outros estrogênios, o E4 apresenta menos efeitos adversos sobre a função hepática e a coagulação sanguínea. 

Estudos sugerem que doses orais de 15 a 20 mg/dia de E4 são seguras e eficazes na prevenção de sintomas de deficiência estrogênica. Alternativamente, doses baixas de etinilestradiol (EE), entre 5 e 10 mcg/dia, também poderiam ser consideradas. 

Conclusão 

O método MANTE representa uma proposta inovadora de contracepção hormonal masculina oral. Combinando o antagonista de GnRH relugolix, altas doses de DHEA e baixas doses de E4, busca-se resolver os desafios relacionados à supressão hormonal e à substituição de testosterona e estradiol. Estudos adicionais são necessários para validar a eficácia e a segurança dessa abordagem em homens saudáveis. 

Essa abordagem tem o potencial de revolucionar a contracepção masculina ao oferecer uma opção prática, reversível e oralmente disponível. 

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Referências bibliográficas

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