Desordens ovulatórias são importantes causas de amenorreia, sangramento uterino anormal e infertilidade, além de ser uma manifestação importante da síndrome dos ovários policísticos (SOP). As desordens ovulatórias apresentam grande prevalência nas meninas e mulheres na menacme, e estão associadas a disfunções agudas ou crônicas do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Geram grande impacto na vida das mulheres, ao causar infertilidade, alterações do ciclo menstrual e até mesmo, ser um fator de risco para síndrome metabólica, diabetes e câncer endometrial.
São diversas causas de desordens ovulatórias, com diversos tratamentos, sendo um desafio para os ginecologistas, hebiatras e endocrinologistas. Pensando nisso, hoje trago a atualização do sistema classificatório das desordens ovulatórias da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) que foi publicado neste mês de agosto de 2022. A FIGO utilizou o método Delphi para a execução do sistema classificatório. Sendo que o método Delphi é um processo usado para chegar a uma opinião ou decisão de um grupo por meio da pesquisa de um painel de especialistas.
Os especialistas envolvidos desenvolveram o mnemônico HyPO-P e GAIN/FIT/PIE para a classificação das desordens ovulatórias. Primeiro começamos com o HyPO-P:
- Tipo I- Hypothalamic (hipotalâmico)
- Tipo II- Pituitary (pituitária)
- Tipo III- Ovarian (ovariana)
- Tipo IV- PCOS (SOP)
Os mnemônicos seguintes são para ajudar no diagnóstico de cada tipo de desordem ovariana.
Tipo I:
- Genetic (genético)
- Autoimune (auto-imune)
- Iatrogenic (iatrogênico)
- Neoplasm (neoplasia)
Tipo II:
- Functional (funcional)
- Infectious/Inflammatory (infeccioso/inflamatório)
- Trauma & Vascular (trauma e vascular)
Tipo III:
- Physiological (fisiológico)
- Idiopathic (idiopático)
- Endocrine (endócrino)
Tipo IV:
- O diagnóstico e a caracterização da paciente com SOP é recomendada de acordo com o International PCOS Network, devido sua prevalência e complexidade.
A seguir está a imagem usada pela FIGO para detalhar o mnemônico citado acima.
Essa classificação da FIGO não contempla as pacientes com amenorreia primária. E para seu uso devemos primeiro identificar a paciente como portadora de desordem ovulatória, sendo que o uso do mnemônico HyPO-P é o segundo passo, e o uso do GAIN/FIT/PIE é o terceiro passo. Além disso, é importante ressaltar que a desordem ovulatória não é sinônimo de anovulação, podendo variar em um espectro de anovulação para ovulação ocasional, podendo ser pontual ou crônica.
O primeiro sinal que nos deve chamar atenção para desordem ovulatória são as queixas de ciclos menstruais irregulares, contudo é importante uma boa anamnese para identificar corretamente esses ciclos irregulares, pois a maioria das pacientes acreditam que ciclo regular significa que o primeiro dia da menstruação deve vir exatamente no mesmo dia que veio no mês anterior, e isso não é verdade. De acordo com a FIGO o ciclo menstrual das mulheres entre 18 e 45 anos podem variar de 24 a 38 dias.
De acordo com a FIGO, os ciclos menstruais irregulares na adolescência são comuns até seis anos após a menarca, por isso devemos ter muito cuidado com o diagnóstico de qualquer desordem ovulatória nessas pacientes. Lembrando que até pouco tempo atrás, acreditava-se que a imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovário durava dois anos após a menarca, fazendo com que várias adolescentes tivessem diagnósticos e tratamentos errados nesta fase da vida. Ocorre um evento similar no final da menacme, ao redor dos 45 anos, a mulher volta a apresentar ciclos menstruais irregulares que precedem a menopausa e que podem vir acompanhadas de sintomas característicos de síndrome climatérica.
Considerações
O sistema FIGO HyPO-P para a classificação de distúrbios ovulatórios teve o objetivo de ser um padrão mundial, com definições e categorias didáticas que informam os cuidados clínicos, facilitar a educação dos pacientes e estagiários, além de melhorar a capacidade de treinamento clínico e da pesquisa epidemiológica, para que assim possamos avançar no nosso conhecimento sobre distúrbios ovulatórios, seu diagnóstico e manejo.
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