O parto prematuro continua sendo um importante fator de morbidade e mortalidade neonatal. O uso de pessários cervicais como intervenção para prevenir o parto prematuro em mulheres com colo uterino curto tem sido objeto de interesse.
Diante desse cenário, um artigo de revisão foi publicado recentemente na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (RBGO) por um grupo de autores brasileiros. O objetivo foi avaliar a efetividade do pessário cervical em comparação com o cuidado padrão na prevenção do parto prematuro em mulheres com colo curto.
Metodologia
Este estudo é uma revisão sistemática com meta-análise que avaliou a eficácia do uso de pessário cervical em comparação ao cuidado padrão na prevenção do parto prematuro em mulheres com colo uterino curto. Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados (RCTs) que compararam pessário com cuidado padrão, incluindo pacientes com colo ≤ 25 mm em gestações únicas e, em gestações gemelares, com base em percentis, desde que apresentassem ao menos um desfecho de interesse. Os desfechos primários analisados foram parto prematuro antes de 37 e 34 semanas, enquanto os secundários incluíram corioamnionite, rotura prematura de membranas pré-termo (PPROM), corrimento vaginal e desfechos neonatais. A análise estatística utilizou razão de risco (RR) com intervalos de confiança de 95%, aplicando modelos de efeitos aleatórios conforme a heterogeneidade (avaliada por Q de Cochrane e I²). Foram realizadas análises de subgrupos comparando o pessário com a progesterona vaginal em gestações únicas, além da análise leave-one-out para testar a robustez dos resultados.
Principais achados
A revisão sistemática e meta-análise incluiu 17 ensaios clínicos randomizados com um total de 5.704 mulheres com colo uterino curto, das quais 2.891 (50,6%) receberam pessário cervical. A média de idade variou de 27 a 37 anos e o IMC médio de 20,9 a 28,8 kg/m². O comprimento cervical variou de 10 a 35 mm. Em gestações únicas, todas as pacientes tinham colo ≤ 25 mm; em gestações gemelares, a definição variou entre ≤ 25 mm e ≤ 38 mm.
Nos subgrupos, o uso do pessário cervical reduziu significativamente o risco de parto prematuro em gestações gemelares, tanto antes de 37 semanas (RR 0,88; IC 95% 0,81–0,96) quanto antes de 34 semanas (RR 0,79; IC 95% 0,63–0,99), quando comparado ao cuidado padrão sem progesterona. No entanto, não houve diferença significativa para esses desfechos em gestações únicas, especialmente quando o pessário foi comparado diretamente com a progesterona vaginal. Corrimento vaginal foi mais frequente no grupo do pessário, mas não foram observadas diferenças nos desfechos neonatais, na incidência de PPROM ou de corioamnionite. A avaliação de viés indicou baixo risco em 13 dos 17 estudos, e a análise de funnel plots não demonstrou viés de publicação relevante para gestações gemelares.
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Interpretação dos resultados e mensagem prática
Os principais achados foram: (1) redução significativa do parto prematuro antes de 37 semanas em gestações únicas apenas quando o grupo controle não usava progesterona; (2) redução significativa do parto prematuro antes de 34 e 37 semanas em gestações gemelares; e (3) ausência de diferença significativa nos desfechos neonatais, rotura prematura de membranas (PPROM), corioamnionite ou parto prematuro antes de 34 semanas em gêmeos com colo < 25 mm. O pessário cervical demonstrou eficácia principalmente em gestações gemelares e pode atuar dando suporte ao colo uterino e reduzindo o funilamento cervical. No entanto, sua eficácia em gestações únicas parece limitada quando comparada à progesterona vaginal, tratamento já bem estabelecido.
Em conclusão, o pessário cervical mostrou benefícios na prevenção do parto prematuro em gestações gemelares sem uso de progesterona, mas estudos adicionais comparando diretamente com progesterona são necessários para elucidar melhor sua eficácia e papel clínico.
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