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Ginecologia e Obstetrícia16 maio 2025

CBGO 2025 - Implantes hormonais subcutâneos

Por Sérgio Okano

Nos últimos anos, os implantes hormonais subcutâneos — popularmente conhecidos como “chip da beleza” — têm ganhado espaço na prática ginecológica, impulsionados por promessas de benefícios estéticos como perda de peso, aumento da massa muscular, melhora do humor e da libido. Mas será que há evidências suficientes que garantam a segurança de sua prescrição?

Essa foi a principal discussão do painel sobre “o que rola nas redes” a respeito dos implantes hormonais, no 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025). Também foram abordadas as condutas recomendadas frente a complicações associadas ao uso desses dispositivos, mesmo quando o profissional não é o responsável direto por sua prescrição.

A professora Dra. Rita de Cássia de Maio Dardis, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, destacou a ampla disponibilidade desses implantes no Brasil.

Atualmente, são comercializados dois tipos: os não absorvíveis, com duração de seis meses a um ano, e os pellets absorvíveis, com efeito de quatro a seis meses. No entanto, essas formulações ainda carecem de estudos adequados sobre biocompatibilidade, biodisponibilidade e perfil farmacocinético.

Outro ponto importante é que esses implantes não garantem eficácia contraceptiva. Ainda não se conhece, por exemplo, sua real influência sobre o sistema nervoso central e o eixo das gonadotrofinas. Apesar disso, muitos prescritores continuam a divulgar sua suposta eficácia com base em relatos de sucesso e em argumentos de plausibilidade biológica — práticas que não devem substituir a avaliação científica rigorosa quanto à segurança de uma medicação.

Veja também: Implante hormonal: para quais condições é indicado?

A professora também comentou o estudo da Dra. Rebecca Gleiser, publicado em 2025, frequentemente citado como justificativa para a prescrição de testosterona via implante. Segundo Dardis, o trabalho apresenta importantes vieses metodológicos, sobretudo em relação à seleção do grupo controle, que apresenta desequilíbrios em diversos fatores de risco quando comparado ao grupo exposto à testosterona.

Implantes hormonais prescritos por outros profissionais

Na sequência, a Dra. Célia Regina da Silva, membro do Comitê de Contracepção e Climatério da SBRH, discutiu a abordagem ética diante de complicações decorrentes de implantes hormonais prescritos por outros profissionais. Reforçou-se que o atendimento a essas pacientes deve respeitar os princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e justiça, mesmo quando realizado por um médico que não participou da indicação ou inserção do implante.

Segundo ela, embora o profissional que avalia ou retira o implante não seja responsável pela sua prescrição original, ele passa a ser responsável pela condução clínica do caso a partir do momento do atendimento. Para esses casos, é recomendável a utilização de um Termo de Consentimento que explicite as responsabilidades no manejo de eventuais complicações. A Dra. Célia também lembrou que, para médicos que não se sintam confortáveis em prestar esse tipo de assistência, é possível recorrer à objeção de consciência, prevista no artigo 31 do Código de Ética Médica. No entanto, alertou que a exposição pública do colega prescritor pode configurar infração ética.

Ao final, reforçou-se que o Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução nº 2.333/2023, proíbe expressamente a prescrição de hormônios com finalidade estética (como ganho de massa muscular) ou para aumento de desempenho esportivo.

Durante a discussão, também foi mencionada a importância de notificar complicações ao sistema Vigicom. A professora Flávia Fairbanks, da Universidade de Miami, observou que o uso indiscriminado desses implantes é uma questão mundial, e que nos Estados Unidos também existe um mercado paralelo voltado ao tratamento de efeitos adversos dessas medicações.

Dessa forma, a popularização dos implantes hormonais levanta questões cruciais do ponto de vista ético, médico e regulatório, que precisam ser discutidas com base em evidências científicas e sempre com foco na segurança e no bem-estar das pacientes.

O 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Rio de Janeiro. Acompanhe a cobertura completa do CBGO 2025 aqui no portal Afya.

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