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Ginecologia e Obstetrícia6 maio 2025

Avaliando um método eficaz de aconselhamento materno sobre prematuridade

Estudo publicado na PLOS ONE avaliou a eficácia de dois métodos de aconselhamento em mulheres hospitalizadas por ameaça de parto prematuro

O aconselhamento antenatal em situações de ameaça de parto prematuro é um elemento essencial da assistência perinatal, especialmente quando decisões críticas sobre reanimação e cuidados neonatais devem ser tomadas em curto prazo e sob estresse emocional. Embora diretrizes como as da American Academy of Pediatrics (AAP) e do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) orientem o aconselhamento em casos no limiar da viabilidade, ainda há lacunas quanto à melhor abordagem para idades gestacionais mais avançadas. A comunicação de informações complexas em um momento agudo da gestação é desafiadora, particularmente em populações vulneráveis, e estudos indicam que a inclusão de materiais escritos e visuais pode aprimorar a compreensão e a retenção de informações pelas gestantes. 

O estudo “Maternal counseling for preterm deliveries, assessing an effective method of counseling: A randomized trial”, publicado na PLOS ONE em 2025, avaliou a eficácia de dois métodos de aconselhamento em mulheres hospitalizadas por ameaça de parto prematuro. Conduzido em um hospital público americano, o ensaio clínico comparou o aconselhamento exclusivamente verbal com a abordagem verbal associada a materiais escritos e visuais, com foco na retenção do conhecimento sobre complicações da prematuridade. Também foi analisado o impacto das intervenções nos níveis de ansiedade materna antes e após o aconselhamento. A hipótese dos autores era de que a estratégia multimodal ampliaria o entendimento das gestantes sobre os desfechos neonatais, contribuindo para decisões mais informadas. 

Métodos 

O estudo foi um ensaio clínico randomizado conduzido entre 2016 e 2017 em um hospital público de Chicago (EUA), com mulheres internadas por ameaça de parto prematuro entre 23 e 34 semanas de gestação. As participantes foram alocadas aleatoriamente em dois grupos: um recebeu apenas aconselhamento verbal, e o outro, aconselhamento verbal complementado por material escrito e materiais com desenhos, fotos ou esquemas visuais. O conteúdo abordava reanimação neonatal, complicações da prematuridade e taxas de incidência, sendo adaptado para o nível de leitura da população e traduzido para o espanhol. O consentimento foi verbal e documentado em prontuário. 

Para avaliação dos efeitos da intervenção, aplicou-se um questionário de 32 itens sobre complicações da prematuridade e o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (STAI) antes e após o aconselhamento. Foram coletadas também informações sociodemográficas. A análise estatística considerou testes apropriados para variáveis categóricas e contínuas, incluindo ANOVA para medidas repetidas. O estudo foi desenhado para detectar uma diferença de 25% no conhecimento entre os grupos, com poder de 80%. 

Veja mais: Modelo de predição de parto prematuro para mulheres em trabalho de parto prematuro

Principais achados e discussão 

Das 92 mulheres que completaram o questionário de conhecimento, 45 (49%) foram alocadas no Grupo 1 (aconselhamento apenas verbal) e 47 (51%) no Grupo 2 (aconselhamento verbal associado a material escrito e pictórico). Os escores de ansiedade pré e pós-intervenção foram analisados para 43 participantes do Grupo 1 e 45 do Grupo 2. Observou-se uma tendência de maiores taxas de recordação no Grupo 2 em relação a complicações de curto e longo prazo, intervenções necessárias e taxas de incidência, porém essas diferenças não atingiram significância estatística. 

Em ambos os grupos, os escores do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (STAI) diminuíram significativamente após o aconselhamento (p = 0,002), evidenciando efeito positivo da intervenção sobre o estado emocional das gestantes. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos quanto à magnitude dessa redução nos níveis de ansiedade (p = 0,981).  

Esses achados sugerem que, embora a complementação visual possa ter favorecido a retenção de informações específicas, sua eficácia não foi suficiente para impactar significativamente o conhecimento geral ou a redução da ansiedade quando comparada ao aconselhamento verbal isolado. A ansiedade materna diminuiu após o aconselhamento em ambos os grupos, sem diferença entre eles. Os autores sugerem que, em contextos de urgência e vulnerabilidade social, como o representado por sua amostra (com predomínio de baixa escolaridade e renda ≤ US$ 20 mil/ano), a assimilação de informações técnicas pode ser limitada por fatores emocionais, sociais e cognitivos. Além disso, o fato de 98% das participantes terem tido apenas um encontro com o neonatologista reduz a oportunidade de reforço das informações.  

Mensagem prática 

Diante disso, os autores recomendam que estratégias de aconselhamento sejam antecipadas para o pré-natal de risco, em ambiente não emergencial, o que pode otimizar a compreensão e apoiar decisões informadas. Estudos futuros com amostras maiores e métodos padronizados de comunicação são necessários para aprimorar a efetividade do aconselhamento em situações de prematuridade iminente. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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Referências bibliográficas

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