O aconselhamento antenatal em situações de ameaça de parto prematuro é um elemento essencial da assistência perinatal, especialmente quando decisões críticas sobre reanimação e cuidados neonatais devem ser tomadas em curto prazo e sob estresse emocional. Embora diretrizes como as da American Academy of Pediatrics (AAP) e do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) orientem o aconselhamento em casos no limiar da viabilidade, ainda há lacunas quanto à melhor abordagem para idades gestacionais mais avançadas. A comunicação de informações complexas em um momento agudo da gestação é desafiadora, particularmente em populações vulneráveis, e estudos indicam que a inclusão de materiais escritos e visuais pode aprimorar a compreensão e a retenção de informações pelas gestantes.
O estudo “Maternal counseling for preterm deliveries, assessing an effective method of counseling: A randomized trial”, publicado na PLOS ONE em 2025, avaliou a eficácia de dois métodos de aconselhamento em mulheres hospitalizadas por ameaça de parto prematuro. Conduzido em um hospital público americano, o ensaio clínico comparou o aconselhamento exclusivamente verbal com a abordagem verbal associada a materiais escritos e visuais, com foco na retenção do conhecimento sobre complicações da prematuridade. Também foi analisado o impacto das intervenções nos níveis de ansiedade materna antes e após o aconselhamento. A hipótese dos autores era de que a estratégia multimodal ampliaria o entendimento das gestantes sobre os desfechos neonatais, contribuindo para decisões mais informadas.
Métodos
O estudo foi um ensaio clínico randomizado conduzido entre 2016 e 2017 em um hospital público de Chicago (EUA), com mulheres internadas por ameaça de parto prematuro entre 23 e 34 semanas de gestação. As participantes foram alocadas aleatoriamente em dois grupos: um recebeu apenas aconselhamento verbal, e o outro, aconselhamento verbal complementado por material escrito e materiais com desenhos, fotos ou esquemas visuais. O conteúdo abordava reanimação neonatal, complicações da prematuridade e taxas de incidência, sendo adaptado para o nível de leitura da população e traduzido para o espanhol. O consentimento foi verbal e documentado em prontuário.
Para avaliação dos efeitos da intervenção, aplicou-se um questionário de 32 itens sobre complicações da prematuridade e o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (STAI) antes e após o aconselhamento. Foram coletadas também informações sociodemográficas. A análise estatística considerou testes apropriados para variáveis categóricas e contínuas, incluindo ANOVA para medidas repetidas. O estudo foi desenhado para detectar uma diferença de 25% no conhecimento entre os grupos, com poder de 80%.
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Principais achados e discussão
Das 92 mulheres que completaram o questionário de conhecimento, 45 (49%) foram alocadas no Grupo 1 (aconselhamento apenas verbal) e 47 (51%) no Grupo 2 (aconselhamento verbal associado a material escrito e pictórico). Os escores de ansiedade pré e pós-intervenção foram analisados para 43 participantes do Grupo 1 e 45 do Grupo 2. Observou-se uma tendência de maiores taxas de recordação no Grupo 2 em relação a complicações de curto e longo prazo, intervenções necessárias e taxas de incidência, porém essas diferenças não atingiram significância estatística.
Em ambos os grupos, os escores do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (STAI) diminuíram significativamente após o aconselhamento (p = 0,002), evidenciando efeito positivo da intervenção sobre o estado emocional das gestantes. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos quanto à magnitude dessa redução nos níveis de ansiedade (p = 0,981).
Esses achados sugerem que, embora a complementação visual possa ter favorecido a retenção de informações específicas, sua eficácia não foi suficiente para impactar significativamente o conhecimento geral ou a redução da ansiedade quando comparada ao aconselhamento verbal isolado. A ansiedade materna diminuiu após o aconselhamento em ambos os grupos, sem diferença entre eles. Os autores sugerem que, em contextos de urgência e vulnerabilidade social, como o representado por sua amostra (com predomínio de baixa escolaridade e renda ≤ US$ 20 mil/ano), a assimilação de informações técnicas pode ser limitada por fatores emocionais, sociais e cognitivos. Além disso, o fato de 98% das participantes terem tido apenas um encontro com o neonatologista reduz a oportunidade de reforço das informações.
Mensagem prática
Diante disso, os autores recomendam que estratégias de aconselhamento sejam antecipadas para o pré-natal de risco, em ambiente não emergencial, o que pode otimizar a compreensão e apoiar decisões informadas. Estudos futuros com amostras maiores e métodos padronizados de comunicação são necessários para aprimorar a efetividade do aconselhamento em situações de prematuridade iminente.
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