Foi recentemente publicada a atualização conjunta da European Society of Gynaecological Oncology (ESGO), da European Society for Radiotherapy and Oncology (ESTRO) e da European Society of Pathology (ESP) sobre o manejo do câncer de endométrio. A doença tem apresentado aumento progressivo de incidência, impulsionado principalmente pelo envelhecimento populacional e pela maior prevalência de obesidade. O documento foi elaborado por cerca de 30 especialistas em ginecologia oncológica, oncologia clínica, radioterapia e patologia.
O que há de novo neste assunto?
As diretrizes de 2025 incorporam o sistema de estadiamento mais recente da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO, 2023), que passou a integrar fatores biológicos e moleculares à avaliação anatômica tradicional. Assim, além de subtipos histológicos, invasão linfovascular (LVSI) e classificação molecular, também foram incluídos refinamentos como a carcinomatose peritoneal e o envolvimento linfonodal, permitindo definição mais precisa dos subgrupos prognósticos e terapêuticos.
Além disso, o documento destaca o enfoque multidisciplinar e participação dos pacientes na sua construção. Após a construção pelo grupo principal, o documento foi revisado por aproximadamente 230 pessoas, incluindo pacientes que incorporaram tanto o grupo de desenvolvimento, quanto de revisão. Essa medida garantiu que aspectos de qualidade de vida, comunicação e tomada de decisão compartilhada fossem igualmente contemplados. Além disso, as diretrizes recomendam fortemente o manejo por equipes multidisciplinares e preferencialmente em centros centralizados, com protocolos harmonizados entre especialidades.
A atualização também reforça a compreensão de que o carcinoma endometrial não é uma doença única, mas sim um conjunto de quatro entidades moleculares distintas (POLE-mutado; instabilidade de microssatélites alta [MMRd/MSI-H]; p53 mutado [p53abn]; e sem perfil molecular específico [NSMP]). Cada uma com apresentações clínicas e prognósticos diferentes, permitindo uma abordagem mais individualizada para evitar tanto sobretratamento quanto a adjuvância.
Cada subtipo apresenta características clínicas e prognósticos próprios, o que permite abordagens terapêuticas individualizadas, reduzindo riscos de sobretratamento ou subtratamento. Por exemplo, um tumor em estágio inicial pode ser considerado de alto risco se apresentar mutação p53, enquanto um tumor avançado pode ser classificado como baixo risco se pertencer ao subtipo POLE-mutado.
Frente ao diagnóstico, a diretriz reforça que a cirurgia minimamente invasiva é o tratamento padrão, que a radioterapia curativa deve ser realizada se a cirurgia não for curativa. Outro ponto da atualização é ampliação do usa da imunoterapia (sobretudo nos tumores MMRd/MSI-H) e investigação de comprometimento linfonodal através da biópsia de linfonodo sentinela como padrão, inclusive para alto risco, substituindo linfadenectomia sistemática.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.