Um dos assuntos mais presentes nas palestras do ACOG 2023, durante seu primeiro dia, foi a saúde mental. Durante a cerimônia de abertura a Profa Tiffany Simas disse que ginecologistas e obstetras não podem negligenciar a saúde mental de suas pacientes, uma vez que o médico que cuida da saúde da mulher precisa de uma visão integral desse cuidado.
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O tema Depressão Pós-parto (DPP), então, foi trazido com mais detalhes pelo Prof. Bassem Maximos, explorando a questão patológica do assunto.
Conceito
A DPP é morbidade psicológica que afeta mulheres no ciclo gravídico puerperal. Apresenta conceitos variáveis de acordo com os diversos guidelines, porém, todos concordam que o início dos sintomas pode ocorrer nas primeiras 4 semanas pós-parto.
Dentro da questão conceitual, precisa ser diferenciado do blues puerperal. A DPP apresenta sintomas mais severos e intensos, que podem durar meses ou anos e impacta a funcionalidade da pessoa afetada. O blues puerperal apresenta sintomas leves, que duram até 2 semanas e não apresentam impacto funcional.
Fisiopatologia
A patogênese da DPP é multifatorial e pode envolver uma interação entre fatores genéticos, ambientais, psicológicos e biológicos. Muitos circuitos neurológicos aparecem em teorias sobre sua fisiopatologia, incluindo sistemas monoaminérgico, gabaérgico e glutaminérgico. E parece que esses sistemas podem ser alterados pelas mudanças causadas pelos hormônios da gravidez
Epidemiologia
Os sintomas da DPP é uma das morbidades associadas ao ciclo gravídico-puerperal mais relatadas. Em 2018, cerca de 13,2% de puérperas relataram sintomas associados a depressão e ansiedade, nos Estados Unidos. As mulheres com história pregressa de desordem mental estão sob maior risco.
Quadro clínico
Os sintomas podem afetar o humor, podem ser debilitantes e afetar a funcionalidade diária. Os mais comuns relatados são: sensação de culpa e menos valia, dúvidas sobre a capacidade de cuidar de sua criança, ansiedade, alterações de sono e fome, mudanças no peso corporal, ideação suicida, desinteresse pelas atividades diárias.
Barreiras na prevenção e diagnóstico
A morbidade depressão pós-parto enfrenta uma série de barreiras que dificultam sua prevenção e atrasa seu tratamento. Pode-se nomear: medo de rotulação, estigma, ausência de suporte familiar, negação e acessibilidade a serviços de saúde.
Outra grande barreira ao seu diagnóstico é a falta de rastreio em serviços de saúde. Um estudo americano publicado em 2020 mostrou que menos de 10% das puérperas são questionadas quanto a sua saúde mental.
O ACOG recomenda que médicos deveriam investigar suas pacientes pelo menos uma vez durante o período perinatal e após o parto para sintomas de ansiedade e depressão, usando ferramentas validadas.
Há alguns questionários validados para esse rastreio, sendo um dos mais conhecidos o Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS).
Tratamento
A eficácia do tratamento depende de um rastreio e diagnóstico eficiente, assim como uma ação rápida na sua prescrição. Ele deve ser individualizado e normalmente envolve psicofármacos e psicoterapia. Os principais medicamentos usados nessa fase são antidepressivos.
Como suporte ao tratamento medicamentoso e psicoterápico, encontramos as mudanças do estilo de vida com papel fundamental.
Mensagens finais
- Depressão pós-parto é uma séria doença e distinta do blues puerperal;
- Algumas barreiras precisam ser vencidas para garantir prevenção e diagnóstico eficaz;
- Rastreio da depressão pós-parto é recomendado em todas as mulheres no ciclo gravídico-puerperal;
- O atraso no tratamento pode piorar os desdobramentos dessa doença.
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