A Professora Catherine Bradley da Universidade de Iowa trouxe, no segundo dia do Annual Clinical & Scientific Meeting de 2023 (ACSM2023), o congresso anual do American College of Obstetricians and Gynecolgists (ACOG), um painel de atualizações sobre uroginecologia.
Foram destacados três pontos: o uso de anticolinérgicos para o tratamento de bexiga hiperativa e o risco de demência, a evidência de não inferioridade no uso do mini-sling e o consenso sobre uso do pessário em prolapso genital.
Bexiga hiperativa e uso de anticolinérgicos
Medicamentos anticolinérgicos são amplamente usados no tratamento da bexiga hiperativa. Entretanto, há evidências cada vez mais crescentes na associação do seu uso e o aumento do risco de demência. Como demência não apresenta tratamento definitivo, reduzir seu risco torna-se imperativo.
Os anticolinérgicos atuam na hiperatividade do detrusor ao bloquear receptores muscarínicos (M2, M3), porém, também tem impacto em outros receptores pelo organismo, incluindo M1 e M2 no cérebro que podem levar a efeitos curtos de perda de memória e confusão.
Diante disso, a Society of Urodynamics, Pelvic Medicine & Urogenital Reconstruction (SUFU) publicou no fim de 2022 uma nova recomendação, onde destaca-se os seguintes pontos:
- O uso crônico (maior que 3 meses) de medicação anticolinérgica para bexiga hiperativa está associado com o aumento do risco de demência
- Quando indicado a terapia farmacológica para bexiga hiperativa, a prescrição de beta agonistas devem ser priorizada em relação a de anticolinérgicos
- Quando indicado terapia anticolinérgica, deve-se evitar a oxibutinina de liberação rápida e preferir formulações de liberação lenta como próspio, darifenacina e fesoterodina
- Médicos devem considerar o potencial risco cognitivo em todas as mulheres quando prescrever anticolinérgicos para uso crônico na bexiga hiperativa
- Deve-se considerar a progressão na escalada terapêutica da bexiga hiperativa de forma precoce (toxina botulínica ou neuromodulação)
Leia mais: Confira os destaques do congresso ACOG 2023
Nova evidência para o mini-sling
A técnica atualmente mais utilizada no tratamento da incontinência urinaria de esforço (IUE), com intervenção eficaz, baixa morbidade e minimamente invasiva é a TVT (Tension-free Vaginal Tape), em que uma faixa de polipropileno auto-fixante e livre de tensão é inserida sob a uretra média, preferencialmente por via retropúbica, sob anestesia geral.
A técnica de simples incisão e colocação do mini-sling pode minimizar complicações em relação a essa técnica padrão, entretanto, os primeiros resultados mostravam inferioridade no tratamento.
Um novo artigo publicado no New England trouxe uma nova evidência de alta qualidade para o estudo da efetividade e segurança do mini-sling.
Trata-se de um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, realizado em 21 hospitais da Inglaterra. O objetivo foi comparar o mini-sling com o sling tradicional.
O mini-sling não mostrou inferioridade ao sling de uretra média, com taxa de sucesso de tratamento semelhantes após 12 e 36 meses e com incidência de efeitos adversos também semelhantes.
Pessário vaginal para prolapso uterino
A American Urogynecologic Society e a Society of Urologic Nurses and Associates publicaram em 2023 um novo consenso com o título “Vaginal Pessary Use and Management for Pelvic Organ Prolapse”.
Foram revistas e redigidas 31 recomendações, divididas em 2 categorias: indicação e seguimento e complicações. Alguns dos destaques dessas recomendações são:
- Para toda mulher com prolapso genital e sintomática, deve ser oferecido o pessário como opção terapêutica inicial
- Após a inserção do pessário, a primeira visita de seguimento deve ser agendada em 4 semanas
- Após o primeiro retorno, a regularidade de visitas clínicas deve ser de 1 a 6 meses, seno a maioria feita de 3 a 6 meses
- Se o manejo do pessário é feito pela própria paciente, esse retorno pode ser feito de 6 a 12 meses
- Estrogênio vaginal deve ser considerado por mulheres que desejam fazer uso prolongado do pessário
- Há quatro níveis de efeitos colaterais do uso do pessário, que podem ser divididos em: irritação, abrasão, ulceração e fístula
* Os artigos apresentados nessa seção podem ser conferidos na íntegra nas referências bibliográficas.
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