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A polifarmácia inadequada, especialmente em pessoas idosas, impõe uma carga substancial de desfechos clínicos negativos, como riscos de queda, hospitalização e, até mesmo, a morte. Considerando o crescimento vertiginoso do número de pacientes, principalmente idosos em polifarmácia, um estudo publicado recentemente no Journal of the American Geriatrics Society respondeu o seguinte questionamento: polifarmácia tem relação com declínio de cognição?
Na pesquisa, foram acompanhados 5.362 indivíduos (2.547 mulheres) desde o nascimento na Inglaterra, Escócia ou País de Gales em uma única semana de março de 1946, até os 71 anos de idade. A coleta de dados mais recente foi realizada quando os participantes tinham entre 68 e 69 anos. Depois de responder a um questionário postal, os participantes ainda vivos e com um endereço atual conhecido no Reino Unido (n = 2.698) foram convidados a receber uma visita aos 69 anos de idade; 2.149 (79,7%) visitas foram concluídas.
Enfermeiros de pesquisa treinados testaram a capacidade cognitiva aos 69 anos. Foram realizados testes de memória verbal, com análise de velocidade de processamento, além de ter sido feito o Exame Cognitivo de Addenbrooke, Terceira Edição (uma bateria de rastreamento cognitivo projetada para detectar o risco de doença de Alzheimer e comprometimento cognitivo comumente usado na prática clínica).
Os pesquisadores também administraram quatro testes de capacidade física aos 69 anos seguindo protocolos padrão. Para avaliar a velocidade de uso de uma cadeira (subidas / min), os participantes foram cronometrados em pé e sentados de uma cadeira 10 vezes na maior velocidade possível (ou 5 vezes se não conseguissem completar 10 subidas [n = 3]). Também foi testada a velocidade usual de caminhada a uma distância de 2,44 m de uma partida em pé, com a mais rápida das duas velocidades utilizadas nas análises. O equilíbrio de pé foi medido como o tempo que os participantes puderam ficar em uma perna com os olhos fechados por um máximo de 30 segundos. A força de preensão foi avaliada usando um dinamômetro eletrônico em posição sentada.
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Determinação da polifarmácia
Foram coletadas informações sobre medicação prescrita regularmente aos 69 anos e na coleta de dados anterior, com idade entre 60 e 64 anos. Durante as duas avaliações, os enfermeiros registraram todos os medicamentos prescritos regularmente. A partir desses dados, o uso de medicamentos foi derivado em uma contagem total e um indicador de polifarmácia geral adaptado de limiares preexistentes, a saber, 5 a 8 medicamentos (polifarmácia) e 9 ou mais medicamentos (polifarmácia excessiva).
Resultados do estudo
Polifarmácia (5 a 8 medicamentos prescritos) estava presente em 18,2% dos participantes aos 69 anos e polifarmácia excessiva (≥9 medicamentos prescritos) em 4,7%. Ambos estavam associados a menor capacidade cognitiva e física em modelos ajustados para sexo, educação e carga de doença. Participantes com polifarmácia na idade de 60 a 64 anos e com 69 anos mostraram fortes associações negativas com capacidade cognitiva e física, o que foi ainda mais forte em participantes com polifarmácia em ambos os anos 60-64 e aos 69 anos.
O estudo concluiu que polifarmácia na idade de 60 a 64 anos e na idade de 69 anos foram associadas à pior capacidade física e cognitiva, mesmo após o ajustes para fatores de confundimento. Associações negativas mais fortes foram observadas em participantes com polifarmácia de longa data, sugerindo uma relação cumulativa dose-dependente.
Diversos estudos têm demonstrado efeitos negativos da polifarmácia inapropriada. Porém, é cada vez mais comum recebermos em nosso consultório pacientes, principalmente idosos, fazendo uso de um número absurdo de medicações. Estamos preparados para desprescrever?
Referências:
- Associations Between Polypharmacy and Cognitive and Physical Capability. A British Birth Cohort Study. Mark James Rawle, MBChB MSc; Rachel Cooper, PhD; Diana Kuh, PhD; Marcus Richards, PhD. DISCLOSURES J Am Geriatr Soc. 2018;66(5):916-923.
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