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Gastroenterologia15 junho 2023

Upadacitinibe para tratamendo de doença de Crohn moderada a grave é opção viável?

Estudos de doença de Crohn com agentes anti-TNF, relataram taxas de remissão mais altas entre pacientes com menor duração da doença.

A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica que acomete o trato gastrointestinal de maneira salteada da boca ao ânus. O upadacitinibe é um inibidor oral reversível de JAK quinases, aprovado para tratamento da retocolite ulcerativa, artrite reumatoide, artrite psoriática, dermatite atópica e espondilite anquilosante. Recentemente, Loftus e colaboradores realizaram um ensaio clínico randomizado controlado por placebo de fase 3 para avaliar o tratamento da doença de Crohn moderada a grave com upadacitinibe.  

Saiba mais: Melhor protocolo para prevenção de recidiva pós-operatória na doença de Crohn?

Upadacitinibe para tratamendo de doença de Crohn moderada a grave é opção viável?

Upadacitinibe para tratamendo de doença de Crohn moderada a grave é opção viável?

Metodologia 

Ensaio clínico duplo cego controlado por placebo de fase 3 conduzido em 277 centros de 43 países, o qual incluiu pacientes de 18-75 anos com doença de Crohn moderada-grave há pelo menos 3 meses. Dividido em dois estudos de indução, U-EXCEL (dezembro de 2017 até janeiro de 2022) e U-EXCEED (novembro de 2017 até agosto de 2021), e um de manutenção, denominado U-ENDURE (iniciado em março de 2018), com duração de 52 semanas. Os estudos U-EXCEL e U-EXCEED avaliaram a indução em 12 semanas, seguido de um período de tratamento estendido de 12 semanas para pacientes que não tiveram uma resposta clínica na semana 12. Pacientes do U-EXCEL tinham história de falha a pelo menos uma terapia convencional ou biológica, enquanto pacientes do U-EXCEED falharam a um ou mais tratamentos biológicos. A falha a terapia foi definida como uma resposta inadequada ou efeitos colaterais inaceitáveis. Pacientes com resposta clínica na fase de indução foram incluídos no estudo U-ENDURE de manutenção.  

Intervenção:  

–  Fase de indução: Upadacitinibe 45mg ou placebo (2:1), uma vez ao dia, por 12 semanas.  

Fase de manutenção: Upadacitinibe 15mg, upadacitinibe 30mg ou placebo (1:1:1), uma vez ao dia, por 52 semanas.  

Randomização: A randomização foi estratificada de acordo com ao uso basal de glicocorticóide (sim ou não), gravidade de doença endoscópica (SES-CD <15 ou ≥15), e o número de terapias biológicas falhadas (0, 1, ou >1 para U-EXCEL e 1 ou >1 para U-EXCEED). 

Desfechos: 

– Resposta clínica: definida pela redução de pelo menos 30% na frequência média diária de fezes muito moles ou líquidas ou no escore de dor abdominal (variação, 0 [sem dor] a 3 [dor intensa]), sem piora em relação ao basal, na semana 12.  

– Remissão clínica: CDAI < 150  

– Resposta endoscópica: definida por redução no SES-CD > 50% em relação ao basal na fase de indução. 

Os desfechos primários foram remissão clínica e resposta endoscópica na semana 12 de indução e semana 52 de manutenção. 

Resultados 

No estudo U-EXCEL, 526 pacientes foram randomizados para receber 45 mg de upadacitinibe (350 pacientes) ou placebo (176 pacientes); já no U-EXCEED, 324 receberam upadacitinibe 45 mg e 171 placebo). No U-EXCEL, 54,6% dos pacientes tinham história de falha a terapia convencional e 45,4% a terapia biológica. No U-ENDURE, 502 pacientes foram alocados para receber upadacitinibe 15 mg (169 pacientes), upadacitinibe 30 mg (168 pacientes) ou placebo (165 pacientes), de maneira aleatória. Desses pacientes, 75,1% tinham falha prévia a terapia biológica. 

O upadacitinibe 45mg induziu remissão clínica em uma porcentagem significativamente maior de pacientes se comparado ao placebo (U-EXCEL, 49,5% vs. 29,1%; U-EXCEED, 38,9% vs. 21,1%). Foi ainda observada maior resposta endoscópica (U-EXCEL, 45,5% vs. 13,1%; U-EXCEED, 34,6% vs. 3,5%) (P<0,001). Na semana 52 do estudo U-ENDURE, uma porcentagem significativamente maior de pacientes no grupo upadacitinibe 15 mg (37,3%) e upadacitinibe 30 mg (47,6%) atingiram remissão clínica, se comparado ao placebo (15,1%). Da mesma forma, a resposta endoscópica foi alcançada por 27,6% e 40,1% dos pacientes em uso de upadacitinibe 15 e 30mg respectivamente, se comparado ao placebo (7,3%; p < 0,001). Entre os pacientes que receberam upadacitinibe 45 mg, os eventos adversos mais comuns (≥5% dos pacientes) foram acne (6,9%) e anemia (6,3%) no estudo U-EXCEL e nasofaringite (7,1%), cefaléia (6,2%), agravamento da doença de Crohn (5,9%) e infecções do trato respiratório superior (5,2%) no estudo U-EXCEED. Infecções graves ocorreram em 1,1-2,8% dos pacientes que receberam upadacitinibe, em comparação com 1,7%-1,8% dos que receberam placebo. Infecções por herpes zoster ocorreram mais frequentemente nos grupos de upadacitinibe de 45 mg e 30 mg (2,9% no U-EXCEL e 1,5% no U-EXCEED) do que no grupo de placebo. Quatro pacientes em uso de upadacitinibe 45mg, 1 em uso de 30mg e 1 em uso de 15mg apresentaram perfuração gastrointestinal. 

Leia também: Novas diretrizes brasileiras de doença de Crohn

Mensagens práticas 

O upadacitinibe é eficaz em atingir e manter a remissão clínica e resposta endoscópica em pacientes com doença de Crohn moderada a grave, independentemente da falha a terapia convencional ou biológica prévia. Deve ser mais uma opção no arsenal de tratamento da doença de Crohn em breve.  

Autoria

Foto de Guilherme Grossi Cançado

Guilherme Grossi Cançado

Editor médico da Afya ⦁ Pós-Doutorado em Hepatologia Avançada e Doenças Autoimunes do Trato Gastrointestinal pela Universidade de Toronto, Canadá ⦁ Doutorado em saúde do adulto com ênfase em Hepatologia pela UFMG ⦁ Mestrado em saúde do adulto com ênfase em Gastroenterologia pela UFMG ⦁ Residência em Clínica Médica e Gastroenterologia pelo HC-UFMG ⦁ Chefe da Gastrohepatologia do Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais ⦁ Preceptor de hepatologia e clínica médica do HC-UFMG ⦁ Membro da AASLD, ALEH, SBH, GEDIIB ⦁ Coordenador de Jovens Investigadores da ALEH ⦁ Professor convidado da UFMG

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Referências bibliográficas

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