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Gastroenterologia29 junho 2023

Qual a melhor terapia no paciente com doença de Crohn falhado à anti-TNF?

Estudo envolveu 20 centros de referência com pacientes com doença de Crohn falhados à anti-TNF e que receberam uma terapia de segunda linha.

A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória intestinal que necessita de diagnóstico precoce e tratamento adequado dentro de uma janela de oportunidade, a fim de promover remissão clínica, laboratorial e endoscópica, evitando danos intestinais. As terapias biológicas vêm evoluindo consideravelmente. Sabe-se que, apesar de boa eficácia, o uso de anti-TNF apresenta perda de resposta primária em aproximadamente 1/3 dos pacientes e perda de resposta secundária em até 45% dos casos.

Os outros biológicos disponíveis incluem o anti-integrina alfa-4/beta-7 vedolizumabe (VDZ) e o anti IL12/IL23 ustequinumabe (UST). Frente a um paciente falhado a anti-TNF, fica a dúvida de qual melhor terapia. Uma metanálise não mostrou diferença significativa na remissão livre de esteroides durante a indução, porém demonstrou superioridade do UST após um ano de tratamento (OR 1,56, IC 95% 1,23–1,97). Todavia, faltavam estudos comparativos entre as drogas. O estudo ONALI trata-se de um estudo de vida real comparando a eficácia de UST e VDZ em pacientes com DC ativa falhados a anti-TNF.

Qual a melhor terapia no paciente com doença de Crohn falhado à anti-TNF?

Métodos

Estudo do tipo coorte, retrospectivo, observacional, de vida real, envolvendo 20 centros italianos de referência em DII. Foram incluídos pacientes com DC falhados à anti-TNF, que receberam uma terapia de segunda linha com UST ou VDZ de acordo com o padrão clínico de atendimento. Os dados demográficos, características da doença e terapias anteriores foram avaliados através de registros em prontuário.

A atividade clínica da doença foi avaliada através do índice de Harvey-Bradshaw (HBI) no início e nas semanas 26 e 52 (aproximadamente três semanas. Para avaliação objetiva, foram realizados ileocolonoscopia ou imagem de delgado dentro de três meses antes do início do tratamento e em um ano de terapia (±3 meses). Calprotectina fecal (CF) e proteína C-reativa (PCR) foram registrados no início e nas semanas 26 e 52, quando disponíveis. Além disso, foram coletados dados de efeitos colaterais e eventos adversos.

As doses realizadas seguiram a prática padrão:

  • UST 6 mg/kg IV na indução, seguido de manutenção com 90 mg SC a cada 12 ou 8 semanas;
  • VDZ 300 mg IV em 0, 2 e 6 semanas para a indução e a cada 8 ou 4 semanas como manutenção.

Desfecho primário:

  • Resposta clínica na semana 26, definida como a redução de HBI ≥ 3 pontos quando comparado com o valor basal ou HBI < 5 se HBI ≤ 7 no valor basal.

Desfechos secundários:

  • Resposta clínica na semana 52;
  • Remissão clínica e remissão clínica sem esteroides nas semanas 26 e 52;
  • Remissão endoscópica ou em exames de imagem na semana 52.

Leia também: Doença hepática gordurosa associada ao metabolismo e fibrose hepática em pacientes com DII

Resultados

Foram avaliados todos os registros clínicos de pacientes com doença de Crohn em acompanhamento em 20 centros italianos no período entre janeiro de 2016 a dezembro de 2020. Dentre eles, 593 pacientes em uso de VDZ ou UST como segunda linha, após falha a anti-TNF. Foram excluídos 123 pacientes por dados incompletos ou doença clinicamente inativa.

Dessa forma, 470 pacientes preencheram os critérios de inclusão:

  • 239 pacientes (50,9%) foram tratados com UST;
  • 231 pacientes (49,1%) foram tratados com VDZ.

Houve diferença significativa em relação a idade dos pacientes (mediana de 41 anos [IQR 32,5–42] UST vs 47 anos [IQR 37–59] VDZ; P = 0,0004), manifestações extra intestinais (42,7% UST vs 10,3% VDZ; P = 0,001) e uso de esteroides (31,4% UST vs 49,4% VDZ; P < 0,0001) no início do estudo. No entanto, as características basais dos pacientes foram equilibradas e as diferença padronizada entre os dois grupos foi menor que 0,1 para todas as variáveis incluídas.

Na semana 26, as taxas de resposta clínica (UST 60,1% vs VDZ 65,4%), remissão clínica (UST 42,1% vs VDZ 44,8 %) e remissão livre de esteroides (UST 38,3% vs VDZ 40,7%) foram semelhantes e sem diferenças estatisticamente significativas.

Na semana 52, as taxas de resposta clínica também foram semelhantes entre os grupos (UST 64,6% vs VDZ 68,4%). Porém, as taxas de remissão clínica (UST 42,5% vs VDZ 55,5%, OR 1,69, IC 95% 1,13–2,52, P = 0,010) e remissão livre de esteroides (UST 40,6% vs 51,1% VDZ, OR 1,53, IC 95% 1,02–2,28, P = 0,038) foram maiores nos pacientes tratados com VDZ.

Não houve diferença estatisticamente significativa na melhora de padrões bioquímicos, incluindo PCR e CF e padrões objetivos, incluindo colonoscopia e exames de imagem para avaliação de delgado.

Após uma análise de regressão multivariada, foram identificados alguns fatores inversamente associados à taxa de remissão livre de esteroides na semana 52:

  • Grupo em uso de UST: uso de imunomoduladores, atividade basal de doença moderada a grave e cirurgia prévia devido à DC;
  • Grupo em uso de VDZ: atividade basal da doença moderada a grave.

Em relação a eventos adversos, excetuando-se agravamento da doença, houve relatos em 14 pacientes (5,9%) no grupo UST e 15 pacientes (6,2%) no grupo VDZ. Apenas dois pacientes apresentaram eventos adversos graves, sendo um do grupo UST (abscessos abdominais) e um do grupo VDZ (sepse relacionada a infecção de cateter venoso central), ambos resolvidos.

Saiba mais: Consenso para prevenção de trombose venosa e arterial em pacientes com DII

Mensagens práticas

Ainda são necessários mais estudos para avaliar se há benefício na escolha de VDZ ou UST em pacientes com doença de Crohn falhados à anti-TNF. Estudos prévios eram contraditórios, alguns demonstrando discreta melhora na remissão clínica com UST, todavia tinham limitações de serem estudos pequenos e sem avaliação objetiva bem definida. Esse estudo, demonstrou superioridade do VDZ em induzir remissão clínica, todavia as respostas objetivas e a remissão foram semelhantes entre os grupos.

Dessa forma, são necessários estudos prospectivos, com boa padronização das escalas de respostas clínicas, laboratoriais e endoscópicas, a fim de definir se há benefício de usar uma medicação em detrimento à outra, nesse grupo de pacientes falhados à anti-TNF.

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Referências bibliográficas

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