O uso da terapia nutricional para suportar pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) tem sido cada vez mais discutida. A Dra. Rotem Sigall, nova membra do Grupo Porto, voltado para DII, apresentou no 56ª Encontro Anual da Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2024) as perspectivas futuras do manejo dietético para pacientes com DII.
Apesar do grande avanço das terapias biológicas para tratamento das DII, a nutrição enteral exclusiva (NEE) segue como primeira linha para o tratamento de pacientes com Doença de Chron (DC). A palestrante apresentou diversos estudos na qual aplicação da terapia nutricional em pacientes com DC foi associada a menores taxas de complicações, menores hospitalizações e a menor taxa de dependência do corticoide.
Dra. Rotem apresentou dados de um centro especializado em DII na Argentina, na qual pacientes com DC assintomática, que recebiam dieta de exclusão associada à nutrição enteral, obtiveram respostas bioquímicas consideráveis, por meio da avaliação da calprotectina fecal. Neste trabalho, os pacientes continuaram com seus medicamentos habituais para manejo da DC e foram randomizados em um grupo que recebeu dieta de exclusão de DC associado a nutrição enteral parcial por 12 semanas (11 pacientes) e um grupo que manteve dieta regular (10 pacientes). Por fim, a mediana da calprotectina fecal na dieta de exclusão de DC mais nutrição enteral parcial diminuiu em cerca de 80% dos pacientes, para 50% do valor basal, permanecendo praticamente inalterada na dieta regular (p=0,005). Concluindo que o tratamento dietético adjuvante pode ser um caminho para pacientes com aparente remissão, mas com altos níveis de calprotectina fecal.
Mas será que conseguimos manter as mudanças de hábitos alimentares por um longo prazo?
A palestrante alerta que, antes de pensarmos no uso a longo prazo das terapias dietéticas, é importante lembrar que ela não é elegível para todos os pacientes, se adequando principalmente para aqueles pacientes com doença leve a moderada. Visto que os pacientes com doença grave e fenótipos complexos, a dieta pode ser considerada com cautela e de forma individualizada. Através de uma pirâmide explicativa, a Dr. Rotem, traz toda a trajetória do manejo dietético em pacientes com DC, até chegarmos hoje em alto nível de evidência e presença em todos os guidelines.
Mensagem prática
Com o aumento da prevalência de DII na população pediátrica, conhecer as alternativas para o seu manejo é fundamental. No contexto da DC, a dieta de exclusão ou nutrição enteral exclusiva é uma forte alternativa de tratamento em pacientes com doença leve a moderada. Apesar disso, os desafios de aplicação no Brasil são grandes e diversos fatores poderiam ser pontuados para justificar, dentre eles a dificuldade de adesão ao tratamento, o custo alto com as dietas enterais exclusivas. Além disso, temos a oportunidade de cada vez mais contar uma equipe multiprofissional, com nutricionistas e nutrólogos, para otimização do tratamento e auxílio direto em estratégias de educação em saúde.
Sobre o futuro da terapia dietética para manejo da DC, acredita-se que, por meio de mais estudos, a dieta de exclusão segue com um grande potencial alternativo a NEE, minimizando impacto de preço e consequente acessibilidade ao tratamento.
Confira todos os destaques do ESPGHAN 2024 aqui!
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