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Gastroenterologia8 junho 2023

Diverticulite de repetição: sigmoidectomia eletiva ou tratamento conservador?

Estudo multicêntrico comparou sigmoidectomia eletiva laparoscópica (SEL) e tratamento conservador (TTC), analisando qualidade de vida, complicações e recorrência.

A diverticulite aguda (DA) figura entre as principais causas de abdome agudo, sendo seu tratamento determinado principalmente pela presença de complicações associadas ao quadro. Apenas um terço dos pacientes são diagnosticados com DA complicada e, mesmo nesse grupo, pode-se optar pelo tratamento conservador, principalmente nos subtipos Hinchey I e II. Considerando a elevada incidência de recidiva caso o segmento colônico acometido não seja ressecado, os atuais guidelines orientam individualizar a indicação de sigmoidectomia eletiva profilática após episódios de DA complicada, assim como para o tratamento de episódios não complicados recorrentes ou para sintomatologia persistente.

Leia também: IM/ACP 2022: Diverticulite: dicas de abordagem no paciente ambulatorial

Diverticulite de repetição sigmoidectomia eletiva ou tratamento conservador

Novo estudo

Com objetivo de auxiliar na indicação terapêutica desses casos, estudo multicêntrico finlandês (LASER trial) comparou sigmoidectomia eletiva laparoscópica (SEL) e tratamento conservador (TTC), analisando qualidade de vida, complicações e recorrência. Resultados parciais foram divulgados em 2021, indicando benefício na qualidade de vida após SEL, porém com acréscimo mais significativo em complicações pós cirúrgicas. Recentemente o estudo foi finalizado, trazendo resultados mais consistentes sobre o tema e com período de maior follow-up (dois anos).

Métodos

Um total de 90 pacientes foi avaliado, sendo 28 (31%) do sexo masculino com idade média de 54 anos e 62 (69%) do sexo feminino com idade média de 57 anos. Após aplicar critérios de exclusão, foram randomicamente subdivididos em grupo SEL (N= 41) e TTC (N=44). Dos pacientes alocados no grupo TTC, 18% (n = 8) foram submetidos à sigmoidectomia durante os dois anos subsequentes, tendo metade sido abordado no primeiro ano principalmente por recorrência.

Resultados

Em relação a complicações, 27% (N= 11) dos pacientes operados tiveram complicações menores e 10% (N=4) tiveram complicações maiores, como abscesso ou vazamento anastomótico. Dos pacientes alocados no grupo TTC, 2% (N=1) e 5% (N=2) apresentaram complicações menores e maiores, respectivamente, no período de dois anos. Apenas um paciente de cada grupo desenvolveu hérnia incisional, sendo ambos submetidos a reparo herniário, enquanto dois e três pacientes dos grupos SEL e TTC, respectivamente, necessitam de estoma temporário. Não houve óbitos durante o período avaliado.

A qualidade de vida foi estimada por meio do Gastrointestinal Quality of Life Index (GIQLI) score, sendo o escore do grupo cirúrgico 9,5 pontos superior ao grupo conservador após 12 meses, já no período de 24 meses os escores de ambos os grupos foi semelhante.

A recorrência de episódios de diverticulite no grupo TTC foi 7 vezes superior ao grupo SEL (21 versus 3 pacientes, respectivamente) em 12 meses. Tal resultado manteve-se semelhante após 24 meses, quando 25 pacientes do grupo conservador tiveram recidiva, incluindo caso de diverticulite complicada que demandou cirurgia de emergência, e apenas 4 do grupo cirúrgico recidivaram.

Enquanto, após 12 meses, ambos os grupos se mostraram igualmente satisfeitos com o tratamento empregado, após 24 meses o grupo da sigmoidectomia eletiva laparoscópica (SEL) mostrou-se mais satisfeito, reportando também menos episódios álgicos.

Saiba mais: Caso clínico: Pacientes previamente hígida com complicações cirúrgicas

Conclusão

Assim, o presente estudo concluiu que em pacientes com diverticulite recorrente, complicada ou persistentemente sintomática a videosigmoidectomia eletiva foi mais efetiva na prevenção de recorrência, além de demonstrar maior escore de qualidade de vida e maior satisfação dos pacientes com o tratamento após 2 anos de follow-up. Embora o índice de complicações maiores tenha sido maior no grupo cirúrgico (10% versus 5%), a necessidade de estoma foi mais significativa no grupo TTC (7% versus 5% do grupo SEL). Adicionalmente, parte significativa dos pacientes elencados inicialmente para TTC foram abordados nos anos subsequentes, ratificando a elevada incidência de recorrência em pacientes tratados conservadoramente.

Mensagem prática

A escolha da abordagem terapêutica na DA complicada, recorrente ou persistentemente sintomática deve considerar particularidades do paciente, como status performance, idade, número de episódios prévios. Além de considerar tais critérios, cabe ao cirurgião ponderar juntamente com o paciente a qualidade de vida a longo prazo e efetividade na redução de recorrência, fatos que advogam a favor da abordagem cirúrgica laparoscópica.

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Referências bibliográficas

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