Em dezembro de 2019, um novo coronavírus, denominado de SARS-CoV-2, começou a circular na China, levando, posteriormente a uma pandemia. Até o momento, sabe-se que a doença associada ao coronavírus 2019 (Covid-19) se caracteriza por uma pneumonia de padrão intersticial, com amplo espectro de gravidade, sendo comum a presença de febre, tosse e dispneia. Pouco se conhece sobre as manifestações extra-pulmonares.
Manifestações gastrointestinais do novo coronavírus
Recentemente, Pan e colaboradores avaliaram as características clínico-epidemiológicas da infecção por SARS-CoV-2 de 204 pacientes internados em três hospitais de Hubei, China, com enfoque nos sintomas gastrointestinais à admissão.
Foram incluídos 107 homens e 97 mulheres, com média de idade de 54,9 anos. Noventa e nove (48,5%) pacientes apresentaram uma ou mais queixas gastrointestinais. Desses, 92 desenvolveram sintomas respiratórios associados e sete manifestaram a doença somente com sintomas digestivos (3%). As principais manifestações gastrointestinais foram: anorexia (83,3%), diarreia (29,3%), vômito (0,8%) e dor abdominal (0,4%).
Excluindo os casos de anorexia, cerca de 20% dos pacientes tiveram alterações gastrointestinais. Os casos de diarreia, geralmente, foram leves, com até 3 evacuações/dia, fezes líquido-pastosas, em pequeno volume. Enquanto indivíduos sem alterações gastrointestinais demoraram cerca de 7,3 dias entre o início dos sintomas e a admissão hospitalar, aqueles pacientes com sintomas relacionados ao sistema digestório demoraram 9 dias (p=0,02).
Acredita-se que essa diferença reflita atraso no diagnóstico, uma vez que as definições de caso até o momento consideram sintomas respiratórios. A taxa de cura seguida de alta hospitalar, durante o período do estudo, foi maior nos pacientes sem sintomas digestivos (60% x 34,4%), o que pode indicar maior gravidade dos pacientes com alterações intestinais, seja por maior carga viral ou pelo atraso no diagnóstico. A taxa de mortalidade foi de 19,2% e 16,2% nos indivíduos com e sem manifestações gastrointestinais, respectivamente.
Existem várias teorias para explicar a presença de sintomas gastrointestinais em pacientes com Covid-19:
- Dano indireto pela resposta inflamatória sistêmica;
- Dano direto aos enterócitos – estudos prévios revelam a presença de ácido nucleico viral nas fezes de 53,4% dos pacientes;
- Alteração de microbiota intestinal pela infecção viral;
- Alteração no sistema imune das mucosas (eixo pulmão-intestino).
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Conclusões
Pacientes com Covid-19 apresentam sintomas gastrointestinais em cerca de 50% dos casos, sendo possível que essas sejam as únicas manifestações presentes durante a infecção. Pacientes com alterações gastrointestinais são diagnosticados mais tardiamente e, aparentemente, apresentam pior prognóstico.
Médicos devem considerar a possibilidade de doença pelo coronavírus em pacientes com diarreia e febre, mesmo sem sintomas respiratórios.
Referência bibliográfica:
- Pan L, et al. Clinical characteristics of COVID-19 patients with digestive symptoms in Hubei, China: a descriptive, cross sectional, multicenter study. Am J Gastroenterol. 2020. Ahead of print.
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