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Gastroenterologia23 agosto 2024

Abordagem comparativa: Lactobacillus Rhamnosus (LGG) vs Bacillus Clausii  

Nos últimos anos, duas cepas probióticas têm sido frequentemente utilizadas em pediatria: Lactobacillus rhamnosus (LGG) e Bacillus clausii.

Este conteúdo foi produzido pela Afya em parceria com Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal Afya.

Probióticos são micro-organismos benéficos para o corpo humano, atuando principalmente no intestino onde melhoram o ambiente microbiano, reduzem o pH intestinal, previnem a migração de bactérias e ajudam a prevenir doenças intestinais. Além de fortalecerem a função de barreira do intestino, estes organismos têm efeitos imunomoduladores e regulam a microbiota intestinal, mantendo o equilíbrio microbiológico1.

Para serem consideradas probióticas, as espécies devem ser identificadas por técnicas moleculares, depositadas em coleções de culturas reconhecidas internacionalmente, não possuir genes de resistência a antibióticos transmissíveis, permanecer viáveis no trato gastrointestinal, demonstrar benefícios clinicamente comprovados à saúde, ser seguras para uso humano e manter sua viabilidade e atividades probióticas durante o processamento e armazenamento. Esses microrganismos, geralmente reconhecidos como seguros (generally recognized as safe – GRAS), devem ser de origem humana, vivos, e resistentes ao pH ácido do estômago, à bile e ao pH alcalino do intestino delgado, além de serem capazes de se aderir ao muco intestinal e realizar atividades metabólicas2.

Nos últimos anos, duas cepas probióticas têm sido frequentemente utilizadas em pediatria: Lactobacillus rhamnosus (LGG) e Bacillus clausii. Indicações específicas para cada uma destas duas combinações probióticas em diferentes condições de saúde, estudos clínicos que investigam a eficácia e segurança de ambas as cepas, comparação entre características e benefícios das duas cepas em pediatria e orientações para escolhas entre essas duas alternativas estão sintetizadas a seguir.

probióticos

LGG

A cepa probiótica LGG é uma das mais pesquisadas e é utilizada em diversas formulações probióticas disponíveis no mercado3, em uma variedade de produtos alimentares (como iogurtes e queijos) e prescrições farmacêuticas, o que facilita o consumo regular4,5. Abaixo, seguem algumas condições clínicas cujo uso do LGG vem sendo estudado.

Alergia à proteína do leite de vaca

O LGG pode apresentar evidências preliminares para favorecer a tolerância oral em pacientes pediátricos com alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e pode ajudar na recuperação dos sintomas intestinais6. Berni Canani e colaboradores (2017) conduziram um ensaio clínico randomizado (ECR) para testar se a administração de uma fórmula de caseína extensivamente hidrolisada (EHCF) com LGG pode reduzir outras manifestações alérgicas (MA) em crianças com APLV. Um total de 220 crianças com APLV mediada por IgE foram acompanhadas por 36 meses, com 110 recebendo EHCF e 110 recebendo EHCF+LGG. Os resultados mostraram que o grupo EHCF+LGG teve uma redução significativa na incidência de MA e uma aceleração na aquisição de tolerância oral ao leite de vaca. A diferença de risco absoluto para a ocorrência de pelo menos uma MA foi de -0,23 e para a aquisição de tolerância foi de 0,27 aos 36 meses. Portanto, a combinação EHCF+LGG mostrou-se eficaz na redução de sintomas alérgicos e no desenvolvimento de tolerância em crianças com APLV7.

O uso do LGG na APLV ainda não é recomendado de rotina pela Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica (European Society for Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition – ESPGHAN)8. Dessa forma, são necessários ECR mais robustos com medidas padronizadas para determinar a duração do tratamento e a dose mais eficazes para essas crianças, além de compreender completamente as possíveis reações adversas6.

Dermatite atópica

A dermatite atópica é uma doença inflamatória crônica da pele que pode afetar até 20% das crianças, estando associada a alterações no microbioma cutâneo e intestinal. Uma cápsula diária contendo 1 × 1010 UFC de LGG pode ser benéfica como terapia adjuvante na dermatite atópica pediátrica, contribuindo para a redução da gravidade da doença e melhorando a qualidade de vida. Esses efeitos positivos estão associados à modulação benéfica do microbioma tanto da pele quanto do intestino9.

Diarreia aguda

Os mecanismos de ação do LGG incluem o fortalecimento da barreira epitelial, maior adesão à mucosa intestinal, inibição da adesão de patógenos, exclusão competitiva de microrganismos patogênicos, produção de substâncias antimicrobianas e modulação do sistema imunológico2.

A utilização de LGG para a redução da gravidade e da duração da diarreia é suportada por evidências convincentes3. Em revisão sistemática publicada em 2019, Li e colaboradores mostraram que a terapia com altas doses de LGG reduz a duração da diarreia e o número de fezes por dia, sendo o probiótico recomendado na fase inicial10. A posologia de LGG recomendada pela ESPGHAN no manejo da diarreia aguda é de 1 dose de ≥1010 unidades formadoras de colônias(UFC)/dia, por cinco a sete dias11.

Diarreia associada ao uso de antibióticos

Graças às suas propriedades funcionais distintas, o LGG pode obter resultados significativos em situações de disbiose, que ocorre quando há um desequilíbrio da composição da microbiota, mudanças nas atividades metabólicas e distribuição alterada de bactérias no intestino. A disbiose é caracterizada por uma perda numérica de bactérias benéficas, crescimento excessivo de bactérias potencialmente patogênicas e perda de diversidade bacteriana, frequentemente ocorrendo simultaneamente. O uso de antibióticos é um exemplo típico que causa disbiose, desregulando a microbiota normal e promovendo o crescimento de microrganismos patogênicos2.

A diretriz da ESPGHAN, baseada em revisões sistemáticas e metanálise, recomenda o LGG e o Saccharomyces boulardii (ambos com recomendação forte), para a prevenção da diarreia por antibióticos11-13. A ESPGHAN refere que podem ser recomendadas altas doses (≥5 bilhões de UFC/dia) de LGG ou Saccharomyces boulardii iniciados simultaneamente com o antibiótico11.

Distúrbios gastrointestinais funcionais

Consistem em condições crônicas recorrentes que não podem ser explicadas por causas fisiológicas, estruturais ou biomédicas subjacentes. Algumas evidências indicam que os probióticos podem diminuir a gravidade e/ou a frequência da dor abdominal em crianças com síndrome do intestino irritável, sendo o LGG o probiótico mais amplamente estudado para esse fim. Embora as evidências disponíveis sejam limitadas, elas são promissoras quanto ao uso de LGG na dose de 3 × 109 a 1 × 1010 UFC por dia. A maioria das pesquisas tem analisado o uso do LGG duas vezes ao dia, por um período de quatro a oito semanas14.

Bacillus clausii

Apesar de amplamente utilizada para tratamento da diarreia aguda em crianças, a ESPGHAN não recomenda o uso de cepas de Bacillus clausii O/C, SIN, N/R e T para o tratamento da gastroenterite aguda em crianças devido à falta de eficácia (certeza de evidência muito baixa; grau de recomendação fraco)11,15. 

Conclusão

O LGG é a cepa probiótica mais estudada no mundo e indicado pela ESPGHAN para o tratamento da diarreia aguda e de distúrbios gastrointestinais funcionais, além da prevenção da diarreia associada a antibióticos, sendo bem suportado por ensaios clínicos. Ademais, tem sido bastante estudado em outras condições clínicas, como APLV, dermatite atópica e doenças respiratórias e virais do trato respiratório, parecendo ser bastante promissor. Já as cepas de Bacillus clausii não são recomendadas para o tratamento da gastroenterite aguda em crianças, justamente por não haver eficácia demonstrada.

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Referências bibliográficas

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