A alergia alimentar é um tema crescente nos últimos anos, sendo de fundamental importância as discussões em relação a sua prevenção. Porém, muitas vezes, as estratégias sem evidências científicas fortes acabam sendo aplicadas nos pacientes, sem efeitos significativos. Neste contexto, o Dr. David Stukus apresentou durante o encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP 2024), as atuais evidências para prevenção da alergia alimentar, veja:
Estratégias emergentes para prevenção de alergias
Dieta materna durante a gravidez ou amamentação – Existe algum benefício?
- Essa é de longe umas das estratégias mais utilizadas para prevenção de alergia alimentar, veja o que devemos considerar:
- Intervenção: Nenhuma modificação específica.
- Base de evidência: Nenhum benefício ou dano significativo observado, logo não deve se utilizar.
Saiba mais: Alergia alimentar: Aspectos do microbioma de lactentes com FPIES
Diversidade na dieta materna durante a gravidez
- Intervenção: Incentivar uma dieta variada.
- Base de Evidência: Sinais fracos sugerindo benefícios potenciais; mais pesquisas com melhores metodologias são necessárias.
Suplementos de Vitamina D
- Intervenção: Suplementação durante a gravidez.
- Base de Evidência: Nenhum benefício significativo encontrado.
Formulação/suplementação à base de leite de vaca
- Intervenção: Considerar a introdução muito precoce (dentro dos primeiros 3 meses) e a exposição consistente.
- Base de evidência: Pode potencialmente prevenir alergias em bebês suscetíveis. Tema polêmico e com mecanismo pouco esclarecido. Não devendo ser aplicado ainda para todos os pacientes.
Microbioma e uso de probióticos/probióticos
- Intervenção: Suplementação com probióticos e prebióticos.
- Base de Evidência: Associação forte com resultados positivos, mas não é possível recomendar cepas ou dosagens específicas neste momento.
Proteção da barreira cutânea epitelial
- Intervenção: Uso de cremes ou hidratantes de barreira.
- Base de Evidência: Pode atrasar o início da dermatite atópica, mas não previne alergias.
Alergia alimentar apesar da Introdução precoce:
Existe um subconjunto de crianças que ainda desenvolvem alergias alimentares, mesmo com introdução precoce do alimento potencialmente alergênico. Isso destaca a necessidade de pesquisa contínua para entender os fatores complexos envolvidos no desenvolvimento de alergia alimentar e para identificar estratégias para prevenir ou gerenciar alergias nesses casos.
Cuidado! Veja quais são os fatores que contribuem para o excesso de diagnóstico de alergias alimentares:
Programas de triagem ineficaz:
- Atrasos ou execução ineficiente de procedimentos de triagem de alergias podem levar à identificação incorreta de alergias.
Atraso na introdução precoce de alimentos alergênicos:
- Introduzir alimentos alergênicos tardiamente na dieta de uma criança pode afetar a tolerância do sistema imunológico e aumentar as alergias percebidas. Deve-se aproveitar a janela imunológica, por volta de 3-6 meses de vida. No Brasil, a recomendação é iniciar a partir de 6 meses de idade a introdução dos alimentos sólidos.
Dependência excessiva de marcadores de sensibilização alérgica para diagnóstico
- Foco em testes que indicam sensibilização, em vez de sintomas clínicos, pode resultar em diagnósticos de alergias que não são clinicamente relevantes.
Expansão indevida da triagem
- Realizar testes para outros alérgenos alimentares não relacionados em populações que não são especificamente de risco, levando a diagnósticos desnecessários.
Veja também: Alergia alimentar atinge 10% da população
Considerações práticas para profissionais de saúde:
- Estratificação de risco: Faça uma abordagem sistemática para a avaliação de risco, particularmente para bebês com eczema moderado a grave, que são considerados em maior risco de desenvolver alergias alimentares.
- Comunicação e aconselhamento das famílias: Tenha uma comunicação clara e do aconselhamento eficaz com as famílias, abordando suas preocupações, oferecendo tranquilidade e oferecendo orientações práticas para a introdução de alimentos alergênicos, além de orientá-los de quais são as atuais evidências disponíveis para contornar e manejar essa situação.
- Educação além do consultório: A importância de expandir a educação além de encontros clínicos é enfatizada. Isso inclui fazer parceria com alergistas, incorporar a prevenção de alergia em consultas de bem-estar infantil, fornecer recursos escritos e incorporar frases inteligentes em prontuários médicos eletrônicos.
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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