A experiência da graduação em medicina
A felicidade depois da aprovação no vestibular de medicina logo se mistura com um turbilhão de conteúdo do ciclo básico da graduação.
A aprovação no vestibular de medicina é um ápice de felicidade depois de um esforço constante e duradouro, um misto de sentimentos com a alegria da família e incertezas com um novo caminho de descobertas e desafios, que em muitos casos envolve sair da cidade de origem. Porém, em pouco tempo tudo isso já se mistura com um turbilhão de conteúdo do ciclo básico da graduação medicina. Histologia, embriologia, anatomia e fisiologia sem dúvidas nos tiram da zona de conforto, não só com um conteúdo didático enorme e essencial para a prática médica, mas também praticamente um novo idioma médico que vamos aprendendo.
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Um mundo novo
No ciclo clínico uma nova realidade se impõe, o contato com o paciente, cercado pelo mundo fantástico da semiologia e o estudo das diferentes patologias clínicas, que sempre nos mostram que ainda temos muito a aprender. Esse é um momento especial pois pela primeira vez o contato com outra pessoa em estado de sofrimento e dor (em suas diferentes modalidades) ocorre diferente de como se fosse um familiar ou conhecido próximo, com a grande diferença que estamos ali com uma função específica, que é amparar esse indivíduo em seu estado de adoecimento. Curando quando possível, aliviando frequentemente e consolando sempre.
Já no internato o clima de seriedade e as responsabilidades se intensificam, onde colocamos em prática e amadurecemos as habilidades prévias, assim como aprendemos muitas outras. Momento onde muitos estágios práticos são iniciados, sendo sempre desafiadores os ambientes da emergência, CTI, enfermarias e ambulatórios, onde colocamos à prova nossa formação e entramos em contato com as nuances do sistema de saúde.
Rodar em diferentes especialidades no internato é um momento único para enxergar a diversidade de caminhos dentro da medicina, conviver em especialidades que podemos seguir como carreira, vendo se a realidade diária delas são o que realmente queremos ou apenas uma idealização.
Esse foi um resumo breve das grandes nuances dos ciclos da faculdade de medicina, que se fossem colocadas em detalhes (com toda a descrição das lutas diárias) seria um texto sem dúvidas extenso demais.
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De qualquer forma, o que sinto de mais relevante é perceber o que realmente podemos vivenciar além disso durante os 6 anos da faculdade: Um verdadeiro amadurecimento pessoal e capacidade infinita de desenvolver nossas habilidades humanas em prol de ajudar aquele que mais necessita, seja nos contextos mais complexos ou nos mais simples.
A vivência de “se tornar médico” gera uma possibilidade real de amadurecer e conhecer melhor a si mesmo e o outro, assim como os possíveis caminhos que podemos trilhar em nossas vidas. Não posso ser ingênuo de que a medicina cobra um preço por tudo isso, nos confrontando com sofrimentos gritantes e situações revoltantes, isso em jovens (muitas das vezes com seus 21 anos ao entrar no ciclo clínico) que são “forçados” a amadurecer rapidamente, fórmula perfeita para transtornos psíquicos se estabelecerem ou se intensificarem, o que vem sendo cada vez mais frequente na realidade dos alunos, sendo uma demanda ainda negligenciada pela maioria das instituições de ensino.
Mensagem final
Concluindo, hoje, na proximidade da minha formatura, vejo que é real o que muitos professores comentam, que os 6 anos de faculdade são apenas o pontapé inicial do “aprender a ser médico” e início do descobrimento da medicina em sua totalidade. Vejo que algo fundamental nesses “breves” 6 anos é se apoiar no ombro de grandes mestres da medicina, aprendendo com eles a grande carga de experiência acumulada e descobrindo respostas para dúvidas individuais que eles já tiveram e agora passam como conhecimento.
E com meus mestres no Hospital Universitário Antônio Pedro, aprendi que em nossa atuação médica não existe outro caminho se não o paciente (de forma integral e profunda, não apenas sua doença) ser o centro de nosso esforço de trabalho e serviço, fora disso, os conceitos ficam desconexos e vazios, e a medicina deixa de ser também uma arte.
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