A sazonalidade na busca por atendimento médico é influenciada por uma série de fatores, que vão desde mudanças climáticas e estações do ano até períodos festivos, campanhas de conscientização e tendências sociais.
Conversamos com três profissionais, a endocrinologista Dra. Nathalia Nicolau, o otorrinolaringologista Dr. Rosalvo Moura Neto e a dermatologista Dra. Adriana Ferraz, para entender os períodos de maior busca em seus consultórios e as causas associadas.
“Milagres” de fim de ano
Para Dra. Nathalia, novembro e dezembro são os meses de maior procura em seu consultório, por dois motivos: “Recebo paciente não apenas buscando tratar a obesidade, o que é o mais comum, sim, mas também os que querem fazer um check-up para começar o ano novo com a consciência tranquila”.
Com tantas confraternizações de fim de ano, ela diz, os pacientes diabéticos são os que mais acabam fugindo da rotina e se descompensando. Para a especialista, esse perfil de paciente é o que demanda mais cuidado: “Quando voltam ao consultório, já estão com sintomas mais graves, o que pode significar recomeçar o tratamento do zero”.
Um outro fator que favorece a busca por endocrinologistas nessa época específica do ano é a maior aderência natural à dieta que as pessoas têm com a chegada do verão: “Nos meses mais frios, sentimos mesmo mais fome”, diz.
Outono e inverno: infecções respiratórias
Já o Dr. Rosalvo Moura Neto, com seus mais de 20 anos de experiência, destaca que, apesar de movimentado o ano inteiro, o consultório dos otorrinolaringologistas costuma receber perfis diferentes de pacientes a cada estação.
“A maior procura é entre outono e inverno, basicamente pelo aumento do índice de infecções respiratórias, ou seja, gripes e resfriados, já que alérgicos costumam ter uma descompensação nessa época do ano”, explica. “Já no verão recebo mais infecção de ouvido, otite externa, em função de água de praia e de piscina”, completa.
A poluição do ar, mais intensa em algumas regiões durante o inverno, também eleva a procura por tratamentos. A combinação de frio, baixa umidade e maior concentração de poluentes tende a agravar quadros respiratórios, especialmente em crianças e idosos, grupos que frequentemente requerem cuidados adicionais.
A pele sob foco em diferentes estações
Para a dermatologista Dra. Adriana Ferraz, a sazonalidade é evidente nas queixas relacionadas à pele, mas o padrão também varia conforme a época do ano.
“No inverno, as doenças relacionadas ao frio, como dermatite atópica, rosácea e dermatite seborreica, se exacerbam. Já no verão, temos sequelas das férias, como piora das manchas, queimaduras solares, e também a dermatite atópica, que é sensível às mudanças bruscas de temperatura”, diz.
Mas, passadas as férias, é quando – segundo a especialista – chegam os pacientes que querem começar um tratamento para algo que ficou em segundo plano ao longo do ano, como a acne já avançada, manchas e micoses.
A especialista, no entanto, chama a atenção para um ponto importante: tratamentos dermatológicos geralmente exigem mudanças de hábitos, o que nunca acontece de uma hora para a outra. “É bem frequente pacientes que esperam uma medicação mágica, que eu prescreva hoje e amanhã ele já veja um resultado 100%. E isso não é possível”, confirma.
A relevância de entender as flutuações
Identificar e entender os padrões sazonais permite ao médico, além de uma melhor preparação para atender os pacientes, manter a saúde financeira do consultório, pois, como já abordado anteriormente, a previsão baseada nessas flutuações ajuda também na tomada de decisões.
Nas épocas de menor procura, o médico pode, por exemplo, flexibilizar e abrir a agenda para novos convênios, a fim de ampliar o volume de pacientes. Já no período de movimentação mais intensa, pode pensar em contratar ajudantes e ajustar o horário de agendamentos para que não perca o paciente e nem a qualidade do serviço oferecido.
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Dia a dia
Embora as motivações dos pacientes na busca por cada uma das especialidades seja legítima e mereça acolhimento por parte do médico, uma coisa é certa: não existe milagre na medicina. Cuidar da saúde deve ser um hábito, que inclui melhorias no estilo de vida, idas regulares ao médico e auto-observação de possíveis sintomas que possam significar algo sério.
“Não existe um protocolo e nem o costume de check-up dermatológico. Isso aumenta a nossa responsabilidade em frisar que visitas ao consultório ocorram anualmente, principalmente se houver câncer de pele na família ou pintas que precisam ser monitoradas”, diz Adriana.
Já Dr. Rosalvo frisa que, para os alérgicos e aqueles mais sensíveis a alterações climáticas, manter hábitos como lavagem nasal com soro fisiológico e cuidados com limpeza do ambiente de casa e do trabalho, é de suma importância.
“Na otorrino, o paciente nunca está muito mal, na realidade. O que acontece é que ele está sempre ‘mais ou menos’, ou seja, vai deixando e se habituando a aquele quadro. Só que vai piorando. É aí que mora o perigo”, diz Dr. Moura Neto.
Para finalizar, Dra. Nathalia fala sobre o importante papel do médico na conscientização dos pacientes, para que tenham uma postura proativa na manutenção de longo prazo em sua própria saúde e bem-estar.
“Alguns pacientes têm dificuldade em entender o que é doença é crônica e que precisa de acompanhamento constante. Por isso, sei que é meu dever enquanto médica orientá-los sobre os benefícios de bons hábitos para longevidade e o envelhecimento saudável. Esse é um trabalho do dia a dia da profissão”, finaliza a endócrino.
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