Maria vinha ganhando peso nos últimos anos. Referia episódios de consumo alimentar excessivo, principalmente a noite, onde comia “tudo que estivesse por perto”. Relatava perda de controle que durava em torno de 90 minutos. O quadro vinha gerando angústia importante. Após conversa com amigos, foi levantada a ideia de depressão e ela resolveu buscar ajuda.
O transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) passou a figurar no manual de diagnóstico de condições de saúde mental (DSM) há 10 anos. Trata-se do transtorno alimentar mais frequente. Os números exatos variam, mas de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, quase 3% da população daquele país teve transtorno de compulsão alimentar em algum momento de suas vidas, mais que o dobro dos números relatados para bulimia nervosa e anorexia.
No entanto, a doença é pouco discutida e pouco reconhecida tanto pelo público em geral quanto pela área médica, em parte porque muitos não sabem sobre o diagnóstico ou sua potencial gravidade.
Os critérios padronizados para o diagnóstico são os descritos na ultima revisão do DSM:
– A compulsão alimentar ocorre, em média, pelo menos 1 vez/semana por 3 meses
– Os pacientes têm sensação de falta de controle em relação à alimentação
Além disso, pelo menos 3 dos seguintes critérios deve estar presente:
– Comer muito mais rápido do que o normal
– Comer até se sentir desconfortavelmente cheio
– Comer grandes quantidades de alimento quando não se sentindo fisicamente com fome
– Comer sozinho por vergonha
– Sentir-se nauseado, deprimido ou culpado depois de comer excessivamente
O TCAP é diferenciado da bulimia nervosa (que também envolve episódios de compulsão alimentar) pela ausência de comportamentos compensatórios (p. ex., vômitos, excesso de exercícios, jejum prolongado, uso de laxantes ou diuréticos.
Considerações finais
A terapia cognitivo-comportamental é o tratamento padrão para o transtorno da compulsão alimentar periódica. Outro padrão de psicoterapia, a terapia interpessoal, parece ser igualmente eficaz. Entre as opções de tratamento farmacológico a única droga aprovada para o TCAP é a lisdexanfetamina.
A medicação reduz o número de episódios compulsivos. Pode ocorrer perda ponderal, embora esse não seja o objetivo primário do tratamento. Antidepressivos (p. ex., ISRSs) também têm eficácia, com dados limitados ao curto prazo. Fármacos anti-obesidade como liraglutida, semaglutida, orlistate ou mesmo topiramato também podem ser úteis.
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