Testosterona e risco incidental de fibrilação atrial em homens idosos
Já é bem conhecido que os níveis sanguíneos de testosterona decaem com o aumento da idade. Tal declínio é exacerbado pela obesidade e presença de outras comorbidades. A terapia de reposição hormonal (TRH) com testosterona é recomendada para homens com deficiência androgênica hipotalâmica, hipofisária ou testicular. Entrentanto, a crença de que a TRH traria benefícios “anti-idade” propiciou o uso indiscriminado de testosterona, principalmente entre homens sem indicação.
Baseado nisso, a revista Lancet lançou recentemente uma análise aprofundada do estudo de coorte (ASPirin in Reducing Events in Elderly – ASPREE) com uma grande amostra de homens idosos sem histórico de eventos cardiovasculares prévios e/ou fibrilação atrial (FA) no início do estudo e a relação entre os níveis de testosterona e o risco incidental de FA.
Segue abaixo um breve resumo do mesmo.
Metodologia
O ASPREE foi um estudo duplo-cego, randomizado com avaliação de baixas doses de aspirina x placebo em homens idosos. De março de 2010 a dezembro de 2014, 19.114 participantes (16.703 da Austrália e 2.411 dos EUA) com idade superior a 70 anos foram recrutados a receber 100 mg diárias de AAS x placebo forma aleatória. No início do estudo, os pacientes não apresentavam doença cardiovascular(incluindo FA), demência, desabilidade física ou qualquer outra doença crônica com expectativa de vida inferior a 5 anos. Todos os pacientes assinaram consentimento por escrito e apenas os participantes australianos tiveram sua testosterona sérica dosada no início do estudo e foram acompanhados.
Os participantes tiveram coleta de dados antropométricos e exames laboratoriais.
Além disso, também preencheram questionários sobre comorbidades, histórico médico/social e sobre estilo de vida.
Foram excluídos do estudo indivíduos em uso de medicações que interferem no eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal (Ex: andrógenos, substâncias antiandrogênicas e espironolactona), homens com histórico de câncer de tireoide ou em uso de medicações que possam interferir na função tireoidiana e gerar fator de confundimento com tireotoxicose/FA.
Resultados
Dos 16.703 participantes elegíveis, 9.179 eram mulheres, restando 7.524 homens.
Após a exclusão de participantes que não preenchiam critérios, 4.357 participantes tiveram a testosterona basal dosada e 4.071 não desenvolveram FA enquanto 286 desenvolveram FA. Desses, os que apresentaram concentrações séricas de testosterona mais elevadas, tinham um risco maior de desenvolver tal arritmia.
A média de idade foi de 73,7 anos; a média de IMC foi de 27,6 kg/m², a média de concentração de testosterona foi de 15,8 nmol/L (VR:12,2 – 20,1 nmol/L), o tempo médio de seguimento foi de 4,4 anos; 11,8% reportaram diagnóstico de diabetes mellitus e 75,9% histórico de hipertensão.
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Discussão
No presente estudo, homens idosos saudáveis sem doença cardiovascular documentada ou FA no início do estudo e com maiores concentrações séricas de testosterona dentro do intervalo de referência apresentaram associação com um risco aumentado de FA.
Tal associação foi independente da idade, tabagismo, IMC, hipertensão, consumo de álcool, diabetes, dislipidemia, concentrações de TSH ou uso de aspirina. Mesmo após exclusão de homens que apresentaram evento cardiovascular durante o acompanhamento, o risco aumentado de FA permaneceu inalterado.
Conclusão e mensagem final
Concentrações séricas de testosterona em níveis normais/elevados estão associados ao risco aumentado para desenvolvimento de FA em homens idosos saudáveis.
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