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Endocrinologia30 maio 2025

Terapia hormonal pós-menopausa: revisão de conduta

Durante o último Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia foi discutido sobre a terapia hormonal e sua aplicação após a menopausa.
Por Livia Capuxim

Um tema bastante interessante sobre terapia hormonal, e que interessa aos profissionais de geriatria, é sua aplicação após a menopausa. O médico ginecologista Dr. Márcio Alexandre Hipólito Rodrigues, professor associado do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG, explicou, durante o último Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia 2025, sobre os estágios do envelhecimento reprodutivo da mulher, desde a perimenopausa até a pós-menopausa. Vamos discorrer aqui sobre o tema e o que foi apresentado por ele.  

Sintomas e background relevante 

Inicialmente, vale lembrar que os sintomas da menopausa são amplos e diversos, desde os que fogachos, alteração do sono e humor, mudanças cognitivas (“fog”), até ganho de peso, sarcopenia, queda de cabelo, redução da libido.  

Um estudo longitudinal comunitário multicêntrico chamado Study of Women’s Health Across the Nations, acompanhou mulheres na transição menopausal com um seguimento de cerca de 15 anos. Este estudo mostrou que os sintomas vasomotores persistem por uma média de 7,4 anos, sendo cerca de 25% das mulheres com sintomas graves para sempre.  

Triagem e conduta de tratamento 

As indicações para o uso da terapia hormonal devem se iniciar no tratamento dos sintomas vasomotores e da síndrome genitourinária da menopausa e atenção às contraindicações (como sangramento vaginal inexplicado, antecedente pessoal de câncer estrogênio dependente) para o uso da terapia hormonal pós menopausa (THM), mostrando que temos que colocar na balança riscos e benefícios, individualizando as condutas.  

Leia mais: Terapia de reposição hormonal na menopausa após os 65 anos: há benefícios?

Tipos de hormônios, com sua farmacologia, doses e via de administração  

Além de estudos sobre o impacto da THM em doença coronariana, diabetes e risco de câncer, há diversos dados consistentes que mostram redução de todas as causas de mortalidade e de doença arterial coronariana quando a THM é iniciada em mulheres abaixo de 60 anos ou menos de dez anos pós-menopausa (“janela de oportunidade”). 

Terapia hormonal e função cognitiva 

O sexo feminino é um dos principais fatores de risco para doença de Alzheimer, mas a maioria dos estudos, principalmente neuropsiquiátricos, foram realizados em homens. O estradiol é o principal regulador da função metabólica e do sistema bioenergético no cérebro. Então a queda do estradiol poderia causar um hipometabolismo cerebral com crise bioenergética e mitocondrial (hipótese crise bioenergética).  

O impacto na cognição é maior durante a perimenopausa, com mais queixas relacionadas a declínio cognitivo subjetivo. Alguns estudos sugerem que os sintomas cognitivos tendem a se resolver após a menopausa, mas outros relataram prejuízos persistentes. Os consensos brasileiros e internacionais não recomendam a terapia hormonal (TH) para tratamento de queixas cognitivas ou para reduzir o risco de demência; o uso de TH no início da pós-menopausa parece ser seguro para a função cognitiva, porém o uso na pós-menopausa parece aumentar o risco de demência. O uso de TH na menopausa precoce parece preservar a função cognitiva, reduzindo risco de demência; e que há uma necessidade urgente de estudos mais sensíveis ao sexo e gênero. 

Estudos prévios relevantes 

A chamada “janela de oportunidade”, que é o momento ideal para avaliar a necessidade da THM, estende-se até dez anos da menopausa. Após, os riscos da THM podem começar a superar os benefícios, necessitando de uma avaliação cuidadosa nesses casos.  

Um artigo de 2018 apontou que 41,2% das mulheres com mais de 60 anos relataram incômodo significativo com sintomas vasomotores (SVM). Mulheres com SVM frequentes podem ter mais depressão, ansiedade e insônia, além do aumento do risco de doença cardiovascular, doenças ósseas e queixas cognitivas, o que aumenta os custos de assistência médica, diminui qualidade de vida e da produtividade no trabalho.  

Já um estudo sueco de 2009 indicou que 87% das mulheres com SVM antes de iniciar a THM relataram recorrência após interrupção do tratamento. Sobre o impacto da interrupção da THM na saúde óssea, tem estudos que mostram que pode haver uma diminuição rápida da proteção contra fraturas osteoporóticas proporcionada pela THM após a interrupção do tratamento, outros sugerem que a proteção pode demorar para se dissipar.  

Na saúde cardiovascular, um estudo de 2018 mostrou que pode haver um aumento de risco de morte por causas cardíacas e por AVC no primeiro ano após a interrupção da THM. Já na função cognitiva, os estudos ainda são muito conflitantes, mas há uma hipótese de que a terapia hormonal pode ter impacto positivo na cognição quando administrada no período Peri menopáusico ou no início da pós-menopausa, mas que pode ter efeitos negativos se iniciado em mulheres mais velhas.  

Veja também: Novo consenso brasileiro sobre terapia hormonal da menopausa

Conclusão e mensagem prática 

Conclui-se que a THM após os 65 anos deve ser individualizada, considerando o histórico de saúde das pacientes e suas preferências pessoais, e que a escolha de dose e via de administração é crucial, sendo preparações transdérmicas ou vaginais e doses baixas tendem a ter um perfil de risco mais favorável. 

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