As medicações antirreabsortivas, como alendronato de sódio, risedronato de sódio, ácido zoledrônico e denosumabe, têm duas principais indicações: reduzir o risco de fraturas osteoporóticas em indivíduos com baixa densidade mineral óssea ou com fraturas prévias de fragilidade, e prevenir complicações ósseas decorrentes de metástases em pacientes com câncer.
A prevalência de osteonecrose da mandíbula (ONM) associada ao uso dessas medicações é baixa: aproximadamente 0,01 a 0,03% em pacientes com osteoporose e de 2 a 5% em pacientes oncológicos. No entanto, existe a preocupação sobre uma possível relação entre a terapia antirreabsortiva e a sobrevivência de implantes dentários, levantando a hipótese de prejuízo à consolidação óssea alveolar.
Um consenso da American Association of Clinical Endocrinology (AACE), publicado em maio deste ano, teve como objetivo avaliar os desfechos da colocação de implantes em pacientes com osteoporose em uso de terapia antirreabsortiva, a fim de fornecer recomendações clínicas que orientem a abordagem desses pacientes.
Veja mais: É preciso suspender a droga anti-reabsortiva antes de um procedimento dentário invasivo?
Metodologia
Por meio de uma revisão sistemática conduzida pelos pesquisadores em bases de dados abrangentes, foram selecionados 22 artigos publicados entre 2020 e 2025. Os estudos incluídos abordaram aspectos como incidência, fisiopatologia, prevenção e tratamento da ONM relacionada a medicamentos, além da taxa de falha dos implantes.
A revisão buscou responder a perguntas relevantes sobre a relação entre a terapia antirreabsortiva e implantes dentários, incluindo: impacto dos agentes antirreabsortivos na sobrevivência dos implantes em curto e longo prazos; fatores de risco para falhas; diferenças entre os tipos de terapia em relação ao risco de ONM; riscos e benefícios de suspender a medicação antes da cirurgia; necessidade de monitoramento adicional em pacientes com osteoporose sob essa terapêutica.
Os dados foram analisados por um grupo de especialistas, e a qualidade das evidências foi avaliada considerando critérios como risco de viés, consistência, precisão e aplicabilidade.
Resultados encontrados e discussão
Apesar da escassez de dados de longo prazo, a metanálise de nove estudos observacionais, que avaliou a taxa de falha de implantes dentários em pacientes com osteoporose em uso de terapia antirreabsortiva versus controles, identificou uma razão de risco de 0,82 (IC 95%: 0,52–1,28; p = 0,38), não indicando diferença estatisticamente significativa entre os grupos.
Com base nessa análise, o consenso atual sugere que não é necessário suspender a terapia antirreabsortiva antes da colocação de implantes, ainda que a evidência disponível seja de qualidade muito baixa, e a recomendação deva ser interpretada com cautela.
Diversos outros fatores de risco influenciam de forma mais considerável na taxa de sucesso dos implantes dentários, incluindo a habilidade do profissional, tabagismo, má qualidade óssea, histórico de periodontite grave e comorbidades sistêmicas (como diabetes e doenças cardiovasculares). Identificou-se também que o uso prolongado de bisfosfonatos pode estar relacionado a um risco discretamente aumentado de ONM, embora essa complicação permaneça rara.
Entre os principais destaques do novo consenso estão:
- A terapia antirreabsortiva não aumenta a taxa de falha de implantes dentários;
- A interrupção do tratamento, especialmente com denosumabe, não demonstrou benefícios e pode implicar riscos, como fraturas vertebrais de rebote;
- A importância de manter higiene bucal adequada, realizar exames orais regulares e adotar uma abordagem individualizada para cada paciente.
Conclusão
A qualidade geral das evidências foi considerada muito baixa, principalmente devido ao risco de viés e à imprecisão dos resultados. Ainda assim, os dados sugerem que a terapia antirreabsortiva não aumenta significativamente o risco de falha de implantes dentários.
Assim, o AACE buscou, com esse consenso, responder a uma dúvida recorrente entre endocrinologistas, clínicos e odontólogos: É necessário suspender antirreabsortivos antes de procedimentos com implantes dentários?
A resposta permanece a mesma: não é necessário, pois não há benefício comprovado, e a suspensão, sobretudo no caso do denosumabe, pode aumentar significativamente o risco de fraturas vertebrais de rebote. O documento atual reforça as recomendações anteriores e segue alinhado com a prática clínica já adotada.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.