A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma condição endócrino-ginecológica complexa e heterogênea, que afeta cerca de uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva, e envolve disfunções hormonais, reprodutivas e metabólicas. Sua causa exata é incerta, mas está relacionada à interação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais.
Embora haja avanços no diagnóstico e tratamento da SOP, desafios como diferenças individuais, acesso à saúde e percepção dos profissionais dificultam um atendimento eficaz. Há poucos estudos sobre esses aspectos na população latino-americana. A América Latina é uma região diversa, com grandes diferenças socioeconômicas, culturais e de acesso à saúde. Portanto, mulheres com SOP nessa região não devem ser tratadas como um grupo homogêneo.
Este consenso avalia as recomendações da Diretriz Internacional Baseada em Evidências de 2023 para o manejo da SOP na América Latina, reunindo especialistas para identificar desafios, oportunidades de pesquisa e adaptações regionais. O objetivo é orientar profissionais e sistemas de saúde no desenvolvimento de políticas e programas eficazes para atender melhor as mulheres com SOP na região.
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Recomendações
Um total de 33 recomendações para o diagnóstico e tratamento de mulheres com SOP foram selecionadas e revisadas, resumidas a seguir. Essas recomendações são consideradas adequadas e aplicáveis tanto à população latino-americana quanto ao contexto dos sistemas de saúde dos países da região.
- Considerar e reconhecer os impactos do estigma do peso.
- Recomendar contraceptivos orais (CO) nas pacientes em idade reprodutiva para manejo de hirsutismo e/ou ciclos irregulares.
- Combinar agentes anti-androgênicos para manejo de hirsutismo quando baixa resposta ao uso de CO após seis meses de uso. Associar tratamentos dermatológicos se necessário.
- O inositol (em qualquer forma) pode ser considerado com potencial melhora no hiperandrogenismo bioquímico, nos ciclos menstruais e nas taxas metabólicas, porém com benefícios clínicos limitados na ovulação, hirsutismo e peso.
- Metformina (MTF) deve ser considerada antes do inositol para melhora metabólica, hirsutismo e obesidade central. Usar MTF na gravidez para reduzir os riscos de: DG, aborto, macrossomia, parto prematuro, entre outros.
- Atentar para possíveis desfechos adversos na gravidez: maior ganho de peso, aborto espontâneo, diabetes gestacional (DG), hipertensão ou pré-eclampsia, restrição de crescimento intra-uterino, parto prematuro.
- Realizar triagem para diagnóstico de depressão e ansiedade.
- Considerar fatores que podem influenciar a função psicossexual como: ganho de peso, hirsutismo e alterações de humor.
- Fornecer informações sobre SOP.
- Promover intervenções e adequações nutricionais quando necessário.
- Detectar hiperandrogenismo bioquímico, naquelas com pouco ou nenhum sinal clínico. Descartar outras causas de hiperandrogenismo (como Cushing, tumores adrenais ou hiperplasia adrenal congênita) caso níveis marcadamente aumentados.
- Usar escore de Ferriman Gallwey modificado (4-6) para detectar hirsutismo.
- Monitora os sinais clínicos de hiperandrogenismo, incluindo hirsutismo, acne e queda de cabelo no padrão feminino, para avaliar a melhora ou a necessidade de ajuste do tratamento.
- Usar critérios ultrassonográficos: considerar o limiar de 20 folículos por ovário ou um volume ovarianos de 10ml em pelo menos um ovário para SOP em adultos;
- Considerar que em pacientes com irregularidade menstrual e hiperandrogenismo não há necessidade de USG para diagnóstico.
- Solicitar perfil de colesterol no diagnósticos de SOP independente da idade e do IMC.
- O citrato de clomifeno pode ser preferido em relação à MTF em mulheres com SOP e infertilidade anovulatória, sem outros fatores de infertilidade, para melhorar a ovulação, a taxa de gravidez e a taxa de nascidos vivos.
- Considerar uso de gonadotrofinas como segunda linha para tratamento de infertilidade.
Mensagem prática
As recomendações da Diretriz Internacional de 2023 avaliaram a sua aplicabilidade o contexto latino-americano, identificando aquelas que não são tradicionalmente seguidas na região e destacando outras que podem enfrentar desafios de implementação devido a barreiras regionais, como custo ou disponibilidade. Além disso, permitiu identificar oportunidades de pesquisa para melhorar o manejo da SOP em mulheres latino-americanas.
Autoria
Letícia Japiassú
Médica endocrinologista com Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Municipal Souza Aguiar (2008) e especialização pela Associação Brasileira de Nutrologia (2020). Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2006).
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