A deficiência do hormônio do crescimento no paciente adulto (DGH) é uma condição complexa que afeta o metabolismo e resulta em desproporções na composição corporal com aumento da gordura abdominal, redução da massa muscular esquelética e da densidade mineral óssea. Além disso, a DHG devido ao hipopituitarismo está associada a pior qualidade de vida, risco cardiovascular elevado, maior morbidade e mortalidade.
A reposição do hormônio do crescimento (GH) na vida adulta precisa ser bem indicada. As sociedades médicas recomendam o tratamento na deficiência comprovada bioquimicamente, principalmente naqueles pacientes com qualidade de vida comprometida. Atualmente, o regime de injeções diárias pode ser um empecilho ao tratamento e comprometendo a aderência.
Somapacitana, medicação registrada pela Anvisa no Brasil desde 2023, é um derivado de GH reversível de longa ação que se liga à albumina aprovado para uso uma vez por semana em crianças e adultos com comprovada eficácia, tolerabilidade e perfil de segurança nos ensaios clínicos randomizados, como o REAL 1.
No entanto, os estudos mostraram um efeito menos pronunciado da dose semanal em comparação com o GH diário na redução da porcentagem de gordura abdominal. Para tanto, foram apresentados novos resultados em um subgrupo da subpopulação japonesa, sem tratamento prévio com GH, para avaliar a eficácia e a segurança da nova medicação semanal.
Metodologia
O REAL 1 foi um ensaio clínico de fase 3, multicêntrico, multinacional, randomizado, de grupos paralelos, controlado por placebo, conduzido em 92 centros em 17 países na África, Ásia, Europa, América do Norte e Austrália. Os participantes foram randomizados na proporção de 2:1:2 para receber somapacitana uma vez por semana, placebo uma vez por semana ou GH diariamente por 34 semanas. O período principal do ensaio consistiu em titulação da dose por 8 semanas, seguido por tratamento com dose fixa por 26 semanas.
O período principal do estudo foi duplo-cego em relação ao somapacitana administrado uma vez por semana e ao placebo, mas aberto em relação ao GH diário. As medidas de composição corporal derivadas incluíram massa gorda abdominal, gordura visceral, massa gorda total, massa gorda ginecoide, massa gorda androide, massa corporal magra total, massa corporal magra abdominal e massa muscular esquelética apendicular, medidas através de absorciometria de raios X de dupla energia (DEXA) no início do estudo e ao final, na semana 34.
Neste estudo de subgrupo, foram relatados os resultados do período de teste principal para a subpopulação japonesa nos grupos analisados, exceto o placebo. As doses mínima e máxima foram fixadas em 0,1 e 8 mg/semana para somapacitana e em 0,05 e 1,0 mg/dia para GH diário.
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Resultados encontrados e discussão
Um total de 36 participantes japoneses foram randomizados em populações bastante homogêneas para receber somapacitana uma vez por semana (n = 18) ou GH diário (n = 18). Apenas um participante interrompeu o tratamento devido a um evento adverso, um caso de diabetes no segundo grupo. A dose de tratamento foi semelhante entre os pacientes, em média 1,71 mg/semana no grupo semanal e 0,24 (0,10) mg/dia (equivalente a 1,68 mg/semana) no grupo diário.
Em relação aos desfechos analisados, composição corporal, níveis de IGF-1 e IGFBP-3 foram semelhantes em ambas as medicações. A segurança foi similar com maior proporção de efeitos adversos leves e moderados relatados, como nasofaringite e artralgia. Ocorrência de colaterais graves foi relatado por apenas um participante no grupo GH diário, um caso de mieloma múltiplo, mas improvável de estar relacionado ao produto em estudo.
Em geral, houve alterações benéficas semelhantes nas medidas de composição corporal, tolerabilidade e segurança nos dois grupos. As reduções na gordura visceral são especialmente importantes, pois ela é considerada um marcador independente de risco de morbidade e mortalidade cardiovascular e metbólica.
No estudo global REAL 1, observou-se um efeito aparentemente menos pronunciado da somapacitana em comparação com o GH diário na alteração do percentual de gordura abdominal. Essa diferença não foi observada na subpopulação japonesa, provavelmente por ser mais homogênea do que a população global do estudo.
Conclusão
Os resultados mostram eficácia e segurança semelhantes quando comparada as duas medicações administradas, tanto no estudo global como na subpopulação japonesa, que por ser mais homogênea mostrou resultados bem mais semelhantes.
A adesão a longo prazo é um problema e estima-se que 20 a 30% dos pacientes descontinuarão a terapia de reposição de GH permanentemente ou por períodos mais longos. Isso posto, uma medicação de aplicação semanal pode ser eficiente na melhora desse cenário.
O estudo possui suas limitações, principalmente em relação a população analisada, mas há uma clara não inferioridade entres os tratamentos, e nas situações em que a adesão possa ser uma barreira terapêutica, a somapacitana se torna uma boa alternativa.
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