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Endocrinologia17 setembro 2025

SBEM publica posicionamento sobre suplementação de iodo na gestação

SBEM recomenda suplementação de iodo apenas para gestantes de risco; sal iodado é suficiente para a maioria no Brasil.
Por Erik Trovão

A deficiência de iodo durante a gestação é uma preocupação relevante pela sua associação a disfunções tireoidianas maternas, complicações obstétricas e prejuízos no desenvolvimento neurológico fetal. Antes da gestação, o ideal é que a mulher esteja com uma ingestão diária de iodo de 150mcg/dia, aumentando para 250mcg/dia durante a gestação. Porém, em países em que o sal é iodado, não há recomendação de suplementação adicional de iodo durante a gestação de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Como o sal é iodado no Brasil, essa é a orientação atual para o nosso país, embora a redução nos teores de iodação ocorrida em 2013 e a ausência de inquéritos nacionais atualizados levantam dúvidas sobre a suficiência da ingestão de iodo em gestantes. 

Nesse contexto, o Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) elaborou um posicionamento para orientar a suplementação de iodo durante a gestação no Brasil. Afinal, os dados epidemiológicos brasileiros sobre a suficiência de iodo são ainda regionais e heterogêneos.  

iodo

Evidências científicas 

Estudos mostram desde prevalências elevadas de insuficiência de iodo em cidades do interior até níveis adequados em centros urbanos ou áreas costeiras. O maior estudo multicêntrico (EMDI-Brasil) identificou mediana de concentração urinária de iodo (UIC) compatível com suficiência, mas com variações significativas entre regiões. Desta forma, embora não exista evidência de deficiência grave de iodo no Brasil, insuficiência leve a moderada de iodo tem sido observada em certos subgrupos de gestantes. 

Em relação ao método para definir o estado nutricional de iodo, o consenso aponta que a UIC é o principal marcador populacional, sendo útil para inquéritos epidemiológicos, mas inadequada para avaliar a suficiência individual. A variabilidade intraindividual da excreção urinária torna esse exame não recomendado para decisões isoladas, de forma que não se recomenda avaliação da UIC na prática clínica. O iodo urinário pode ser mensurado tanto em amostra isolada quanto em urina de 24 horas, sendo esta última mais acurada. Entretanto, pela maior facilidade de coleta, os estudos populacionais podem ser realizados com amostra isolada.  

Parâmetros 

Níveis de UIC < 150 mcg/L são considerados insuficientes em mulheres grávidas. Por outro lado, níveis > 500 mcg/L também podem ter consequências negativas, devendo ser evitado a suplementação excessiva de iodo na gestação. Ressalta-se que tanto a deficiência quanto o excesso de iodo estão associados a maior risco de hipotireoidismo subclínico, diabetes gestacional e alterações no neurodesenvolvimento infantil. 

Para adequada obtenção de micronutrientes, como o iodo, durante a gestação, a fonte dietética é a preferida. São fontes de iodo: ovos, laticínios, pescados e, principalmente, o sal iodado regulamentado. No entanto, fatores como dietas restritivas (veganas, sem laticínios ou hipossódicas), doenças de má absorção e hábitos de armazenamento inadequados podem comprometer a ingestão. A crescente participação de alimentos ultraprocessados também interfere no consumo de sal e, por consequência, na ingestão de iodo. 

Suplementação 

No tocante à suplementação, a recomendação não é universal para todas as gestantes no Brasil. O uso de sal iodado nacional deve ser incentivado desde a pré-concepção, e a suplementação oral (100–150 µg/dia de iodeto de potássio) deve ser considerada apenas em gestantes de risco, como aquelas em dietas veganas, sem laticínios ou com distúrbios gastrointestinais crônicos, começando três meses antes da concepção.  

Conclusão e mensagem prática 

Por fim, o posicionamento recomenda ações de saúde pública, como educação em atenção primária sobre o uso adequado e o armazenamento do sal iodado, além da realização de inquéritos nacionais periódicos. E reforçam que é urgente incluir gestantes no monitoramento sistemático do nível de iodo em pesquisas nacionais. Essas medidas são fundamentais para orientar decisões clínicas individualizadas e para assegurar a prevenção dos distúrbios relacionados ao iodo durante a gestação. 

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Referências bibliográficas

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