A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a causa mais comum de infertilidade anovulatória e uma das principais indicações para a realização de técnicas de reprodução assistida. Essa população apresenta risco aumentado para uma complicação potencialmente grave e ainda recorrente nos ciclos de fertilização in vitro (FIV), a síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO).
A SHO ocorre em cerca de 1% a 5% dos ciclos de FIV e resulta de uma resposta exacerbada à estimulação hormonal, promovendo extravasamento de líquidos e aumento da permeabilidade vascular, frequentemente desencadeada pelo uso da gonadotrofina coriônica humana (hCG). Os critérios para SHO moderada a grave incluem sintomas como náuseas, ascite, hidrotórax, oligúria e hematócrito elevado.
Diversas estratégias têm sido adotadas para minimizar esse risco, desde ajustes nos protocolos de estimulação até o uso de medicações específicas. A cabergolina, um agonista dopaminérgico, é relativamente bem estabelecida como tratamento preventivo da SHO por sua ação sobre o receptor VEGFR-2, envolvido na regulação da angiogênese e da permeabilidade vascular. O estudo em análise teve como objetivo avaliar o papel da hidroxicloroquina, um antimalárico com efeitos imunomoduladores amplamente utilizado em doenças autoimunes, na prevenção da SHO.
Metodologia
Um estudo clínico randomizado, paralelo e duplo-cego, conduzido de abril a junho de 2024 em um hospital universitário em Teerã, no Irã, com 42 mulheres com SOP submetidas à técnica de reprodução assistida. Todas as pacientes foram classificadas como de alto risco para SHO, por fatores clínicos e laboratoriais.
No protocolo de estimulação ovariana, foi utilizado o esquema com antagonista de GnRH e indução da ovulação com agonista de GnRH. Após, as pacientes foram randomizadas para dois grupos: Grupo Cabergolina (0,5 mg/dia por 8 dias) e Grupo Hidroxicloroquina (400 mg/dia por oito dias). Durante o estudo, apenas duas participantes do segundo grupo perderam o seguimento e foram excluídas da análise final.
O desfecho principal foi a ocorrência e a gravidade da SHO nos dias 3 e 5 após a coleta dos oócitos, com avaliação clínica, laboratorial e ultrassonográfica. Como se trata de um estudo piloto, a amostra foi pequena, visando avaliar a viabilidade e gerar dados preliminares para futuros estudos mais robustos.
Resultados encontrados e discussão
As características demográficas, clínicas e laboratoriais basais foram semelhantes entre os grupos, com exceção do número de folículos antrais no ovário direito, que foi discretamente maior no grupo hidroxicloroquina. Após três e cinco dias da coleta dos oócitos, os exames laboratoriais e os desfechos clínicos foram semelhantes entre os grupos cabergolina e hidroxicloroquina. Não houve diferenças significativas nos parâmetros como hemoglobina, hematócrito, eletrólitos e função renal.
A incidência da SHO foi baixa e similar entre os grupos, com casos leves ou moderados distribuídos de forma equilibrada. Apenas uma paciente do grupo hidroxicloroquina necessitou de tratamento, fato esse sem significância estatística.
Os autores do estudo destacam que a cabergolina já possui eficácia estabelecida na prevenção da SHO e que a hidroxicloroquina, embora tradicionalmente usada em doenças autoimunes, mostrou um potencial perfil imunomodulador e anti-inflamatório nesses casos, podendo reduzir citocinas envolvidas na fisiopatologia da síndrome.
Conclusão
Por ser considerado um estudo piloto, o pequeno tamanho amostral e a baixa incidência de casos da SHO limitaram o poder estatístico para detectar diferenças significativas entre os grupos. Além disso, o curto período de acompanhamento e a ausência de desfechos gestacionais limitam a aplicabilidade clínica dos achados.
Embora a hidroxicloroquina tenha apresentado resultados semelhantes aos da cabergolina, ainda são necessárias evidências mais fortes. Assim, apesar dos resultados sugerirem eficácia semelhante entre as duas medicações, devemos interpretá-los com cautela. Os achados reforçam a necessidade de estudos maiores e com maior tempo de seguimento para atestar o uso clínico da hidroxicloroquina na prevenção da SHO.
Veja também: Síndrome dos ovários policísticos: fisiopatologia e oportunidades terapêuticas
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