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Endocrinologia30 novembro 2025

Prevalência regional e global de pré DM em 2025 e perspectivas mundiais para 2050

Pré diabetes cresce globalmente; estimativas da IDF 2025 projetam aumento até 2050 e reforçam a urgência de prevenção, rastreamento e mudanças no estilo de vida.

O pré diabetes (pré DM) se consolidou como uma das condições metabólicas mais prevalentes do mundo contemporâneo. Ela representa um estado de transição em que a glicemia ultrapassa os limites da normalidade, mas ainda não atinge os critérios diagnósticos do diabetes mellitus. Sua fisiopatologia complexa é comum ao diabetes, porém em estágios iniciais, marcada por resistência à insulina, falência progressiva das células β pancreáticas e um ambiente inflamatório crônico que favorece disfunção endotelial, aterogênese e remodelamento tecidual precoce. 

A importância clínica do pré DM não se limita à conversão para diabetes tipo 2, já que a condição também marca maior risco cardiovascular e renal, está associada a aumento de mortalidade global e maior prevalência de obesidade, dislipidemia e hipertensão. 

Nesse contexto, a International Diabetes Federation (IDF) atualizou em 2025 suas estimativas globais e regionais. O estudo publicado no Diabetes Care recentemente analisou mais de 4.800 artigos e utilizou uma modelagem estatística para traçar o cenário atual do pré DM e projetar suas tendências até 2050.  

Métodos do estudo 

O artigo foi uma revisão sistemática de estudos publicados entre 2020 e 2024, que contou com a inclusão de dados populacionais representativos de 60 países. Foram utilizados os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para definição de intolerância à glicose (IGT) e glicemia de jejum alterada (IFG), ajustando as estimativas por idade e estrutura populacional de cada país com base em projeções da ONU. Não foi utilizado o critério de hemoglobina glicada (HbA1c), mas sim dosagens de glicemia em jejum e dados de TOTG. 

Resultados 

A prevalência do pré diabetes aumentou substancialmente desde 2021, acompanhando o avanço da obesidade e da urbanização global. O crescimento é mais acentuado em países de renda média, onde a transição nutricional e a industrialização das dietas também avançam rapidamente. 

As principais estimativas, de acordo com a categoria (intolerância à glicose (IGT) e glicemia de jejum alterada (IFG), foram: 

  • IGT em 2024: 634,8 milhões de adultos (12,0% da população mundial entre 20 e 79 anos). 
  • IFG em 2024: 487,7 milhões de adultos (9,2%). 
  • Projeções para 2050: 846,5 milhões com IGT (12,9%) e 647,5 milhões com IFG (9,8%). 

Esses números significam um aumento absoluto superior a 370 milhões de pessoas vivendo com pré diabetes nos próximos 25 anos. Em termos práticos, um a cada oito adultos já vive com algum grau de disfunção glicêmica, e a curva segue ascendente. 

Considerações 

O panorama regional reforça a heterogeneidade do problema. O Sudeste Asiático lidera as estimativas de IGT, com prevalência de 13,8% em 2024, projetada para 14,6% em 2050, concentrando mais de 200 milhões de pessoas. Essa região combina alta densidade populacional com fatores genéticos e culturais que favorecem resistência insulínica, mesmo em indivíduos não obesos. O Pacífico Ocidental, que inclui a China e parte da Oceania, exibe números semelhantes, refletindo o impacto da urbanização e da mudança de padrão alimentar. 

A América do Norte e o Caribe apresentam o maior percentual de IFG (13,6% em 2024, chegando a 14,3% em 2050), consequência direta da epidemia de obesidade e da dieta hipercalórica crônica. A África chama atenção pela projeção de crescimento exponencial (de 11,5% para 13,7%), um aumento previsto de mais de 70 milhões de casos em 25 anos. Essa elevação reflete o rápido processo de urbanização e o aumento da expectativa de vida, em um continente ainda carente de políticas estruturadas de prevenção. 

Em contrapartida, a Europa mantém as menores prevalências, possivelmente devido à maior longevidade, sistemas de saúde organizados e políticas populacionais de alimentação e atividade física. 

Resumo regional das prevalências de IGT e projeções para 2025: 

  • Sudeste Asiático: de 13,8% (2024) para 14,6% (2050) 
  • África: de 11,5% (2024) para 13,7% (2050) 
  • Pacífico Ocidental: de 13,5% (2024) para 14,3% (2050) 
  • América do Norte e Caribe: de 11,6% (2024) para 12,6% (2050) 
  • América do Sul e Central: de 11,0% (2024) para 11,9% (2050) 
  • Oriente Médio e Norte da África: de 11,0% (2024) para 11,6% (2050) 
  • Europa: de 5,9% (2024) para 6,2% (2050)
     

Os autores ressaltam, porém, que mesmo com a ampliação do número de países representados, apenas cerca de 40% dispõem de dados originais sobre IFG ou IGT. O uso limitado de HbA1c como marcador de diagnóstico e a ausência de dados integrados entre as duas categorias dificultam estimativas mais completas do número total de pessoas com pré diabetes. Ainda assim, o levantamento atual é o mais abrangente já realizado, oferecendo um retrato mais fiel da carga global de disfunção glicêmica. 

Conclusão e mensagem prática 

Os dados apresentados pela IDF projetam que, se nenhuma medida efetiva for adotada, o número de indivíduos em risco de evoluir para diabetes tipo 2 poderá ultrapassar a capacidade dos sistemas de saúde em diversos países, especialmente nas regiões mais populosas da Ásia e África. É fundamental, portanto, que as sociedades médicas dos países atentem a estratégias para a identificação precoce de pacientes com a condição, capaz de ser revertida, e haja investimento em sua prevenção. 

Identificar pacientes com fatores de risco (excesso de peso, história familiar de diabetes, hipertensão, dislipidemia e sedentarismo) deve ser parte sistemática da atenção primária. Mudanças no estilo de vida, como a perda de 7% do peso corporal e pelo menos 150 minutos de atividade física semanal, reduzem o risco de progressão para diabetes em até 58%. O uso de metformina é recomendado em indivíduos de alto risco, sobretudo aqueles com IMC ≥ 35 kg/m², idade < 60 anos ou histórico de diabetes gestacional. 

No entanto, o estudo destaca um desafio. Programas intensivos de prevenção, como o Diabetes Prevention Program (EUA), são eficazes, mas caros e difíceis de implementar em larga escala em países de baixa e média renda. Nesses contextos, intervenções comunitárias conduzidas por agentes locais mostram-se viáveis e custo-efetivas, combinando educação nutricional, incentivo à atividade física e acompanhamento populacional. Políticas públicas, como taxação de bebidas açucaradas e rotulagem nutricional obrigatória, também figuram entre as medidas de melhor custo-benefício. 

Frente a esse cenário de aumento crescente na prevalência dessa condição, é fundamental atentarmos para medidas preventivas, seja no atendimento individual aos pacientes, seja através de políticas públicas e de saúde. 

Autoria

Foto de Luiz Fernando Fonseca Vieira

Luiz Fernando Fonseca Vieira

Endocrinologista pelo HCFMUSP ⦁ Telemedicina no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) ⦁ Residência médica em Clínica médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Faculdade de Medicina de Botucatu

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Referências bibliográficas

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