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Endocrinologia29 dezembro 2025

Prevalência e fatores de risco de depressão em pacientes com diabetes mellitus

Meta-análise global mostra alta prevalência de depressão em pacientes com diabetes e identifica principais fatores de risco associados.

O diabetes mellitus é uma condição crônica de alta prevalência global, que atingirá cerca de 783 milhões de adultos até 2045, segundo projeções. Além das complicações metabólicas e cardiovasculares, o diabetes impõe uma carga psicológica expressiva, sendo a depressão uma das comorbidades mais frequentes. Esta dupla carga está associada a exacerbações de ambas as doenças e a piores desfechos clínicos. Existem mecanismos biológicos comuns ao diabetes e à depressão, tais como inflamação crônica, disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e alterações genéticas. Comparada ao diabetes isoladamente, a coexistência de depressão está associada a maior variabilidade glicêmica, má adesão terapêutica e aumento do risco cardiovascular. 

Estimativas de prevalência de depressão entre pessoas com diabetes variam amplamente entre estudos e regiões do mundo, refletindo diferenças em acesso à assistência médica e fatores sociodemográficos. A maioria dos estudos prévios concentra-se em regiões específicas e diferem entre si quanto à metodologia, tornando-os pouco comparáveis entre si. 

Diante disso, um grupo de pesquisadores chineses realizou o presente estudo, revisando de forma atualizada e global a prevalência da depressão em indivíduos com diabetes mellitus, bem como identificando fatores de risco independentes associados à sua ocorrência. Os achados foram publicados no periódico Frontiers in Endocrinology, em outubro de 2025. 

Leia também: Efeitos psicossociais da diabetes mellitus tipo 1 em crianças e adolescentes

Métodos 

Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise conduzida conforme as diretrizes PRISMA, nas bases de dados PubMed, Web of Science, Cochrane Library, ProQuest e Embase. Foram incluídos estudos observacionais (transversais ou de coorte) envolvendo adultos (idade ≥ 18 anos) com diabetes tipo 1 ou tipo 2, que apresentassem dados de prevalência de depressão e estimativas de risco ajustadas. Apenas estudos que utilizaram instrumentos validados de rastreio da depressão foram incluídos. 

Resultados 

Após triagem inicial de mais de 19000 artigos, 39 estudos foram incluídos, totalizando 17.486 pacientes com diabetes. A maioria dos estudos foi conduzida na Ásia (22) e África (11), com menor representação da Europa (2) e América do Norte (4). 

A prevalência combinada de depressão em indivíduos com diabetes foi de 35%, com heterogeneidade substancial entre os estudos. Não houve viés de publicação significativo. Na análise de subgrupos, houve prevalência maior em mulheres (34%) em relação aos homens (26%). Nos estudo realizados em hospitais a prevalência foi de 38%, comparada a 30% nos estudos realizados no contexto ambulatorial. Não houve diferença estatisticamente significante quanto à idade, o método diagnóstico utilizado, região geográfica do estudo e ano de publicação. 

Diversos fatores de risco independentes para depressão foram identificados. Dentre os fatores sociodemográficos, a idade acima de 60 anos, sexo feminino e estado marital solteiro aumentaram a chance de depressão em 87%, 48% e 67%, respectivamente.  O desemprego aumentou a chance em mais de 2 vezes. Quanto aos fatores psicossociais, ansiedade, baixo suporte social, stress e má adesão medicamentosa aumentaram de 2 a 6 vezes a chance de depressão. O uso de insulina aumentou a frequência em mais de 2 vezes, enquanto a presença de complicações do diabetes aumentou em 41%. Os níveis de hemoglobina glicada não se correlacionaram com a frequência de depressão. 

Conclusões 

A presente meta-análise confirma que mais de um terço dos pacientes diabéticos apresentam sintomas depressivos clinicamente relevantes, configurando um grave problema de saúde pública global. Fatores sociodemográficos, psicológicos e clínicos interagem para aumentar o risco de depressão, delineando perfis de vulnerabilidade que exigem atenção diferenciada. 

Esses achados reforçam a necessidade de incorporar rastreamento sistemático da depressão ao cuidado rotineiro do diabetes. Em especial, recomenda-se triagem e acompanhamento regulares para grupos de maior risco. 

A integração entre saúde mental e manejo metabólico deve ser prioridade, sobretudo em contextos de poucos recursos. Estratégias de atenção escalonada, que combinem rastreio, intervenções breves e encaminhamento oportuno, podem otimizar resultados clínicos e psicológicos. 

Estudos longitudinais são necessários para elucidar relações causais e aprimorar modelos de prevenção direcionada. 

Autoria

Foto de Fernando Giuffrida

Fernando Giuffrida

Graduação em Medicina (1999) - Universidade Federal de São Paulo; Residência Médica em Clínica Médica e Endocrinologia (2002) - Universidade Federal de São Paulo; Titulo de Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia-SBEM (2002); Doutorado em Ciências (2008) - Universidade Federal de São Paulo; Pós-Doutorado no Joslin Diabetes Center/Harvard Medical School (2017-2019).VÍNCULOS ATUAIS: Preceptor do Programa de Residência Médica em Endocrinologia do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (CEDEBA), Salvador-BA; Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e orientador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGFARMA) da mesma instituição; Professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Dom Pedro II (UNIDOMPEDRO), Salvador-BA; Professor do Curso de Medicina da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Salvador-BA; Professor Colaborador e Orientador do Programa de Pós-Graduação em Endocrinologia da UNIFESP.

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